Moda autoral e consciente expande horizonte em MG

Minas Gerais é um polo produtor de moda, segmento formado por uma extensa cadeia produtiva até chegar ao consumidor final. Com o objetivo de identificar talentos e novas marcas, acelerar negócios e reforçar a característica da moda autoral no Estado, o Sebrae Minas criou, em 2022, o Minas Moda Autoral, que compõe a estratégia estadual da entidade para o segmento, o Integra Moda.
“Pelo diagnóstico do perfil de Minas Gerais, percebemos que temos muitos nomes nesta área, bons profissionais, mas que efetivamente não são empreendedores ainda”, diz a analista da Unidade de Indústria Comércio e Serviços (UICS) do Sebrae Minas, Raquel Canaan.
O trabalho pretende firmar Minas Gerais como Estado da Moda e rota de comércio, divulgando seus polos e expertises. Realizada por meio de inteligência de dados, a iniciativa propõe eventos, ações e programas direcionados a modalidades do segmento, respeitando e ativando as vocações locais.
Para Raquel Canaan, a vantagem para o empreendedor que decide participar do programa é a inserção no mercado com uma preparação adequada. “Afinal, ele pode ter um bom produto, só que não isso não basta, é necessário que a marca tenha identidade, saiba se posicionar, conheça seu público, tenha um diferencial, além de ter uma boa gestão do negócio”, diz.
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A primeira edição Minas Moda Autoral contemplou quatro meses de atividades, entre palestras, aulas, mentorias e consultorias individuais on-line, distribuídas em 220 horas. Foram inscritas 90 pessoas e selecionadas 20 de todo o Estado. A segunda turma está prevista para o segundo semestre deste ano, em Belo Horizonte. As inscrições ainda não foram abertas, o que deve acontecer em agosto pelo site do Sebrae Minas.
As capacitações foram divididas em quatro etapas: identidade e posicionamento de marca; gestão empreendedora na moda autoral; cultura da inovação e design como ferramenta de valor; comercialização e canais de vendas conectados ao cliente ideal.
Aprovação
A empreendedora Maria Clara Ribeiro, dona da Clara Moraes, marca slow fashion com foco em moda consciente, que dispensa grandes processos industriais, participou da primeira turma do projeto Minas Moda Autoral, em agosto de 2022. “Fiquei sabendo do projeto via terceiros e não perdi tempo em fazer minha inscrição. Tive a sorte de ser umas das 20 marcas selecionadas e vivenciei quatro meses incríveis, onde tive a oportunidade de aprender com grandes mentores”, lembra.
Ela conta que o que fez toda diferença no seu negócio foi conseguir elaborar coleções a partir de um tema e trabalhar de forma eficiente o seu processo criativo. “Era algo que eu buscava, desenvolver minhas coleções com antecedência e ter uma visão ampla do meu negócio. Como marca slow fashion, ganhei tempo de qualidade, sabedoria e organização”, diz.
E o aprendizado continua, já que marca Clara Moraes foi selecionada para o terceiro ciclo do ALI Moda Sebrae, um projeto direcionado para pequenas empresas, com orientações de profissionais especializados e acompanhamentos conforme a necessidade de cada negócio. “O processo tem sido incrível e também de muito aprendizado”, frisa.
Para Maria Clara Ribeiro, empreender é um desafio diário, que requer muita força de vontade, dedicação e paciência. “Se destacar no meio de tanta gente talentosa, manter a constância, não se comparar e acreditar no que você faz são grandes desafios que a moda me ensina diariamente”, diz.
Vocação
Maria Clara Ribeiro diz que sempre soube que queria trabalhar no mundo da moda. “Meu primeiro emprego foi aos 18 anos como vendedora em uma loja de varejo em shopping. Desde então fui vendedora no varejo, atacado e gerente. Também trabalhei em uma confecção de roupas, na parte de vendas e estoque”, diz.
Depois de muitos anos com carteira assinada, ela sentiu que era necessário mudar, só que não imaginava empreender. Maria Clara Ribeiro chegou a trabalhar com a mãe, que teve uma marca de roupas que virou exclusividade de um showroom de multimarcas na época. E como elas tinham clientes fora do universo do atacado, ela decidiu abrir uma marca paralela e, em 2015, nasceu a Clara Moraes. “Minha mãe depois de um tempo encerrou o CNPJ e eu continuei com minha marca. Fui aprimorando, conhecendo meu público e conquistando meu espaço”, lembra.
A marca Clara Moraes está presente em várias redes sociais, como Facebook, Instagram, Pinterest e Tik Tok. As vendas são on-line e realizadas através do site da marca, além do Instagram e WhatsApp. “Também estamos na Endossa, uma loja colaborativa na Savassi, em Belo Horizonte, onde temos toda nossa coleção disponível para quem quiser experimentar”, diz.
Capacitação impulsiona empreendedorismo
Além da moda autoral, com o crescimento do mercado de reuso, em especial, durante a pandemia, o Sebrae Minas criou o Moda Brechó, em 2022, anteriormente chamado de “Viver de Brechó”, que faz parte das ações do programa Integra Moda.
A iniciativa oferece capacitações em gestão, finanças e marketing, além de incentivo à formalização. As empreendedoras aprendem, ainda, sobre estratégias de relacionamento com o cliente, marketing digital e técnicas de vendas.
Conforme levantamento do Sebrae Minas com base em dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg), o Estado tem mais de 3 mil brechós, sendo que nos últimos três anos, de 2019 a 2022, foram quase 2 mil pequenos negócios abertos. Em Belo Horizonte, dos mais de 600 estabelecimentos no ramo, em torno de 400 empresas de pequeno porte iniciaram suas atividades no período.

Laura Lima, dona do Brechó da Lalau, participou da iniciativa e continua se aprimorando. “Fiz vários cursos profissionalizantes, técnicos, que são bem práticos”, afirma a empreendedora, formada em Direito e que também atua como consultora de imagem. Ela também está fazendo o curso de figurinista promovido pelo Palácio das Artes.
Para ela, um dos aprendizados do então “Viver de Brechó” foi o uso das ferramentas de gestão e finanças. “Tem gente que nasce com a alma empreendedora, eu estou em construção, aprendendo”, frisa.
A empreendedora lembra que a sua hoje principal fonte de renda começou como um hobby na época da faculdade. “Foi lá que eu descobri os brechós, comecei vendendo as minhas peças para poder desapegar. Depois do fim do meu estágio em Direito, fui recepcionista em uma clínica e, durante a pandemia, resolvi empreender”, explica. Hoje, ela vende de forma on-line e presencial, em um espaço no Mercado Novo, na região central de Belo Horizonte.
Moda para grávidas
A empreendedora Adriana Anastácia Dias Cruz decidiu abrir o próprio negócio, a Mima Lingerie, durante a sua terceira gravidez. Ela já tinha sido sócia de uma distribuidora de cosméticos, em Taiobeiras, no Norte de Minas, e trabalhava na área financeira. “Não tinha a parte criativa e de colocar a mão na massa que tenho hoje”, diz.
Na cidade, que é polo de moda íntima no Norte de Minas, ela percebeu uma oportunidade de mercado partindo de sua experiência. “No fim da minha gestação, eu queria uma camisola e tive dificuldade de encontrar algo que revelasse minha feminilidade e fosse confortável”, conta.

Formada em pedagogia, Adriana Cruz chegou a ser revendedora até ter sua marca. A Mima Lingerie é especializada em roupas para gestantes com uma modelagem que respeita as transformações do corpo da mulher, sejam práticas, sem deixar de exaltar a feminilidade, contribuindo para elevar a autoestima. “São peças femininas e não sexies”, observa.
A empresa que começou no digital conta com uma loja física em Taiobeiras, além da fábrica. A Mima Lingerie comercializa seus produtos no atacado e varejo para vários estados no País, com destaque para Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. “Também já vendi para os Estados Unidos”, diz.
Em sua trajetória como empreendedora, Adriana Cruz diz que contou com o apoio do Sebrae Minas para participar em feiras e eventos, como o Minas Trend, além de várias capacitações, como a do Minas Autoral. “O Sebrae me colocou em vários projetos”, destaca.
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