A CEGUEIRA DAS ORGANIZAÇÕES | Modelagem financeira e a evolução dos novos negócios

Flávio de Aguiar Araújo* e Filipe Drumond Reis **
Criar um novo negócio de sucesso é o sonho de muitas pessoas, mas nunca foi uma tarefa fácil, seja desde o início das grandes navegações no século XV, as quais exigiram séculos para desenvolver novas rotas comerciais, até as empresas da era digital, onde através de um celular é possível comprar produtos de praticamente qualquer lugar do mundo e receber em poucos dias.
A tecnologia se aprimora cada vez mais rápido, a comunicação é instantânea e recursos de inteligência artificial começam a fazer parte do cotidiano das pessoas. Neste contexto, onde a alta velocidade parece ser um pré-requisito no mundo dos negócios, ainda acreditamos que os novos empreendimentos precisam evoluir em fases. Na DMEP gostamos de dar nomes a estas fases, amigavelmente chamando-as de Ideação, Validação, Tração e Escalada.
Mas o que devemos observar ao longo destas fases? Pensando nesta resposta é que surgiu o teorema dos cinco pilares, no qual Luiz Polignano destaca aspectos importantes na evolução dos negócios, sendo eles Produto e Mercado, Pessoas e Competências, Tecnologia e Know How, Gestão e Governança e por fim, Capital e Funding.
Nos últimos anos, tenho dedicado especial atenção ao pilar de Capital e Funding, acompanhando como empresas em diferentes estágios de evolução encontram dificuldade em realizar a modelagem e gestão financeira, que é parte integrante deste pilar.
Foi observando e auxiliando dezenas de empresas que identificamos que na fase inicial de Ideação devemos dedicar especial atenção a estudar e definir alternativas de modelo de negócio antes de nos preocuparmos com elaborações detalhadas de projeções financeiras e modelo de negócio.
Quando as empresas já têm uma proposta de valor com maior clareza do produto, superando a fase de Ideação e evoluem para Validação do mercado, passa a ser importante que além da definição do modelo de negócio saibamos com clareza identificar e monitorar as variáveis que mais afetam o resultado financeiro, especialmente relacionadas ao custo do produto e aos gastos necessário para sua comercialização, mesmo que neste momento a rentabilidade do negócio ainda seja negativa pela baixa escala.
Se o novo negócio conseguiu superar a fase de Validação e demonstra que é capaz de ampliar a escala atingindo a fase de tração, a clareza do modelo de negócio, o controle das variáveis chave deve permitir que ajustes nestas variáveis chave do negócio sejam feitas para que a rentabilidade seja alcançada.
Tendo sucesso neste esforço o negócio estará pronto para investimentos maiores e para a avançar na fase da Escalada,quando poderá se tornar um empreendimento de grande porte. Daqui em diante a gestão financeira precisa se sofisticar, além da rentabilidade será necessário controlar o ciclo financeiro do negócio e o retorno do capital investido para conseguir continuar financiando o crescimento com capital próprio e de terceiros.
Não há receita de simples, mas acreditamos nestas recomendações. Comece explorando as alternativas de modelo de negócio, evolua para controlar as variáveis-chave, se esforce para atingir a rentabilidade, controle o ciclo financeiro e retorno do capital investido e por fim se prepare para estabelecer estratégias de funding combinado capital próprio e de terceiros.
*Sócio-diretor da DMEP
** Sócio-gerente da DMEP
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