Negócios

Aderir à diversidade no mercado de trabalho é sinal de maturidade

Mesmo que já seja uma tendência, pressão sobre as empresas deve continuar para que o processo ganhe velocidade
Aderir à diversidade no mercado de trabalho é sinal de maturidade
Um número grande de empresas está realmente tocada para fazer a transformação | Crédito: Pixabay

O tema racial tem alcançado um grande destaque no aspecto trabalhista. A inserção de negros e outros grupos socialmente marginalizados e a sua trajetória no mercado ganharam espaço na mídia. Isso vem forçando as empresas a ultrapassarem a barreira da boa intenção e do marketing para implementar políticas robustas para a formação de equipes diversas e onde a ascensão de profissionais de diferentes perfis seja realmente desejável e possível.

Embora dados oficiais e abrangentes sejam raros, é perceptível que as contratações de públicos diversos (mulheres, étnico-racial, LGBTQIA+ e PcDs) têm crescido de uma forma geral. Um bom indicativo são os números divulgados pelo Grupo Cia de Talentos e a startup Bettha.com que trabalharam 86% mais vagas em 2021 do que em 2020 para a contratação de estagiários, trainees e jovens executivos.

A contratação de pessoas negras (pretas e pardas) também teve um crescimento expressivo. Em 2021, o número foi 150% maior do que em 2020, que já tinha apresentado aumento de 118% em relação a 2019.

De acordo com a líder da área de pesquisa do Grupo Cia de Talentos, Danilca Galdini, os resultados da consultoria mostram que existe um movimento poderoso que parte da sociedade e empurra as empresas para a ação, visto que não seria de se estranhar que os números sofressem uma redução durante o período da pandemia.

“Esses são dados animadores, mas não podemos esquecer que ainda temos um caminho muito grande pela frente. A evolução nos últimos três anos é muito positiva. Isso de fato agrega para as empresas. Temos lideranças que estão atentas e tirando obstáculos para que a contratação aconteça. Pensando na pandemia, quando o desemprego aumentou absurdamente, o nosso aumento em número de vagas em 2021 foi muito maior que em 2020. Esse é um excelente sinal”, explica Danilca Galdini.

Ações de desenvolvimento e capacitação para inclusão de grupos minorizados também cresceram mais de 200%. Em 2021, a área de desenvolvimento da Cia de Talentos capacitou 4.394 jovens e líderes para 46 grandes empresas. Entre os objetivos, a inclusão de grupos minorizados em grandes empresas.

Danilca Galdini: ainda há muito a fazer | Crédito: Divulgação

“A pandemia propiciou a contratação de perfis mais jovens que, normalmente, são mais ligados à tecnologia. A partir da chegada dessas pessoas as empresas também se tornaram mais diversas e essa pauta se fortaleceu. Entendo que esse assunto não seja apenas um modismo, embora sempre existam aquelas empresas que só querem surfar uma onda mais ‘marqueteira’. O importante, porém, é que temos um número grande de organizações que estão realmente tocadas para fazer a transformação”, pontua.

O sucesso dessas políticas está intimamente ligado à maturidade da empresa nessa discussão e ao real engajamento das lideranças. No Brasil, o processo começou ligado às unidades de multinacionais que trouxeram práticas responsáveis de suas matrizes, especialmente europeias, e que passaram a influenciar suas cadeias produtivas, compartilhando conhecimento e exigindo de parceiros atitudes igualmente responsáveis.

“O envolvimento das lideranças acelera a mudança. As grandes organizações costumam ser mais maduras. Mas o que a gente vê está menos ligado ao tamanho da empresa e mais à maturidade delas. Estamos caminhando para a corresponsabilização, como já acontece, em boa medida, com a responsabilidade ambiental. A empresa tem um papel social de cuidar da comunidade além do assistencialismo. Primeiro é uma questão de justiça. E vem muita coisa junto, como a inovação e atendimento às necessidades dos consumidores. O senso de pertencimento faz muita diferença no engajamento. Agora precisamos também acompanhar o processo. A entrada no sistema é o primeiro passo, mas precisamos monitorar o que acontece a partir daí”, avalia.

Em 2021, a área de desenvolvimento da Cia de Talentos capacitou 4.394 jovens e líderes para 46 grandes empresas. Entre os objetivos, a inclusão de grupos minorizados em grandes empresas. No ano passado também foi lançado o “Protagoniza Aí” em parceria com a Faculdade Descomplica. O projeto ofereceu mais de 1.000 bolsas de estudos, 100% gratuitas, de graduação, pós-graduação e MBA, para pessoas pertencentes a grupos diversos. Destas, 82% das bolsas foram destinadas a pessoas em vulnerabilidade socioeconômica, 64% a pessoas pretas, pardas e indígenas, 38% ao público LGBTQ+, 11% a pessoas com deficiência e 7% a pessoas com mais de 50 anos.

“Ao mesmo tempo que a mudança já começou em muitos lugares, é importante que a pressão sobre as empresas continue para que o processo ganhe velocidade no Brasil e no mundo. No nosso trabalho, quando identificamos que uma empresa é ainda imatura, propomos soluções e aprofundamos o diálogo para que seja possível uma aceleração. Hoje os grandes investidores estão atentos às empresas responsáveis verdadeiramente sustentáveis – atuando sobre o ambiental, o social e a governança. Quando o mercado financeiro se posiciona nesse sentido, a diversidade nas empresas ganha força. E quem ainda não compreendeu isso já está perdendo competitividade”, alerta a líder da área de pesquisa do Grupo Cia de Talentos.

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