Agronegócio adota governança corporativa e amplia a sustentabilidade do setor

A governança corporativa – sistema formado por princípios, regras, estruturas e processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral – tem, cada vez mais, feito parte da gestão dos empreendimentos do agronegócio, ajudando na conquista de novos mercados.
Responsável por 23,8% do PIB em 2023, o agronegócio brasileiro respondeu no período entre junho de 2023 e maio de 2024, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), por 48,5% das exportações do País. Os resultados têm origem não só na competência técnica e no uso de tecnologias avançadas, como também na gestão estratégica das empresas do setor, independentemente do porte dos empreendimentos.
O papel da governança corporativa é balizar a atuação dos agentes de governança e demais indivíduos de uma organização na busca pelo equilíbrio entre os interesses de todas as partes, contribuindo positivamente para a sociedade e para o meio ambiente.
O tema foi discutido no 25º Congresso do Instituto de Governança Corporativa, que aconteceu nos dias 8 e 9 de outubro, em São Paulo, no painel “Governança e sustentabilidade para alavancar o agronegócio: atual estágio e impacto no crescimento do País”.
De acordo com o fundador da Harven Agribusiness, Marcos Fava Neves, o agro ainda precisa ser entendido como algo muito maior que a agricultura e que a governança, a partir dos princípios da integridade e da transparência, capaz de vencer os estereótipos negativos que pairam sobre o setor.

“O agro vai desde quem produz uma muda que vai ser plantada em outro lugar até quem vende café em uma franquia, por exemplo. Ele envolve as empresas de insumos, de fertilizantes, de máquinas, de genética, e as indústrias de processamento. Estamos falando de alimentos e também de bioenergia. Tenho uma grande alegria ao ver que nos transformamos no principal fornecedor de alimentos do planeta. A governança do agro brasileiro já tem muito a dizer ao mundo. Temos exemplos maravilhosos de cooperativas que, provavelmente, têm a melhor gestão do planeta e temos também a governança trazida pelas grandes empresas multinacionais que fazem parte do capital de empresas do Brasil. Vivemos um grande processo de internacionalização do setor. O agro vem se contaminando no bom sentido pela boa governança”, explica Neves.
Para a CEO do Rabobank Brasil e head para América do Sul, Fabiana Alves, o Brasil pode atender a crescente demanda global por alimentos e outros produtos do agro que exige uma produção de baixo impacto e baixo custo. E para financiar essa produção, o mercado financeiro exige, especialmente, dois princípios básicos da governança corporativa: integridade e transparência.

“Governança e crescimento do agro com sustentabilidade são temas correlacionados e irmãos. Para entregar a agenda de sustentabilidade, precisamos oferecer transparência e integração entre todos os elos da cadeia. A indústria financeira direciona o capital e monitora os compromissos assumidos, sejam eles regulatórios ou voluntários, diante de uma agenda de redução do impacto em toda a cadeia. Nesse sentido, a indústria financeira que sempre se guiou pelo balanço entre risco e retorno, agora é pautada pelo tripé: risco, retorno e sustentabilidade. A agenda de sustentabilidade é parte do agro porque ele depende dos recursos naturais, então seria incoerente pensar que o agro não está preocupado com o impacto climático e com a agenda de sustentabilidade”, destaca Fabiana Alves.
Também presente no Congresso, o diretor de Estratégia Econômica do Banco Safra, Joaquim Levy, afirma que a governança corporativa e os conselhos têm um papel fundamental na integração do ESG na estratégia das empresas e na geração de oportunidades de novos negócios e abertura de mercados.

“Dentro das empresas existe um corpo diretivo, mas cada vez mais, com a evolução da governança, vem se destacando o papel dos conselhos. É fundamental que os conselheiros entendam que essa dinâmica tem os desafios da questão climática e, principalmente, tem oportunidades. No Banco Safra, a gente sempre entendeu que em um país como o nosso, as diretrizes ESG são fundamentais porque toda empresa no Brasil tem uma exposição ao meio ambiente enorme, basta você ver o tamanho da agricultura e da mineração, por exemplo. Tudo isso tem a ver com a natureza e quem ainda não entendeu isso, está se perdendo”, alerta Levy.
Governança corporativa no agro estabelece novos modelos de comunicação
A conselheira na Bunge, BrasilAgro, CCR, Aegea e Bluebell, Eliane Lustosa, pontua que as empresas do setor agro abrem grandes oportunidades de negócios ao buscarem práticas de sustentabilidade e de ser mais atuante sobre as propostas de políticas públicas para o setor.

“Muitas empresas têm práticas incríveis do ponto de vista da tecnologia e da sustentabilidade, mas como em todo setor, existem os bons e os ruins. Então, precisamos encontrar formas de melhorar a comunicação e contribuir para os desafios globais. Com a tecnologia de rastreabilidade e satélites, por exemplo, podemos ajudar a encontrar soluções para os impactos climáticos como estamos vendo agora. Não é assumir o papel do estado, mas contribuir com tecnologia e juntos avançarmos para uma economia mais sustentável. Temos o desafio de separar o joio do trigo, nos organizando para mostrar os bons com uma comunicação objetiva. A palavra é cooperação. Se fizermos isso juntos, rompemos essa barreira de não sermos vistos pelo lado positivo”, avalia Eliane Lustosa.
O nível de informação interna sobre o agro melhorou, segundo o professor Marcos Fava Neves, significativamente nos últimos 15 anos, inclusive com o uso das redes sociais e influenciadores. No último governo, entretanto, erros de comunicação com a comunidade internacional, somada a uma crescente competição por um mercado global fortemente abalado pela pandemia de Covid-19, piorou a imagem do Brasil especialmente nos mercados europeu e japonês.
“O Agro é um bom produto com uma comunicação insuficiente. Eu acho mais fácil você trabalhar isso do que quando você tem um produto ruim com uma bela propaganda e logo as pessoas percebem que aquilo não é sustentável. Eu diria que o trabalho está acontecendo naturalmente, mas um esforço mais coordenado dos nossos órgãos públicos e das cadeias de produção para apresentarmos um material mais amplo para mais pessoas ajudaria muito na construção da imagem que merecemos e precisamos ter no exterior”, completa o fundador da Harven Agribusiness.
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