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Líderes precisam ouvir mais, diz mestre budista

Crédito: Divulgação/ Nangten Menlang International
“Aprenda com o seu passado e acredite no seu futuro”, afirma Tulku Lobsang Rinpoche

Tulku Lobsang Rinpoche é um alto mestre budista e renomado médico da medicina tibetana. Nascido em 1976, em Amdo, no Nordeste do Tibete, ingressou na escola monástica budista local aos seis anos de idade e, aos 13, foi reconhecido como a oitava encarnação de Nyentse Lama. Já naquela época, ele impressionava as pessoas com suas capacidades de cura.

Hoje, viaja pelo mundo levando os ensinamentos do budismo para todos os tipos de pessoas e, entre os dias 3 e 13 de maio, estará em Belo Horizonte para uma extensa programação que inclui desde palestras e workshops para iniciantes até a formação de professores e um retiro de quatro dias na cidade de Caeté, na região metropolitana.

Em uma conversa exclusiva com o DIÁRIO DO COMÉRCIO, direto da Áustria, o mestre falou com bom humor e simpatia sobre suas impressões sobre o Brasil e o nosso papel na construção de um mundo mais equilibrado e justo.

O senhor já esteve no Brasil, que é um país muito diverso e com uma cultura muito diferente da tibetana. Quais impressões tem sobre o nosso País? E por que falar para os brasileiros é importante?

Estive no Brasil algumas vezes e a experiência foi muito boa. A impressão que tenho é que os brasileiros têm uma mente aberta, são pessoas humildes e com bastante devoção. Lembro-me de uma vez em que estava em uma mesa, com pessoas com diferentes crenças e nenhuma delas se sentia envergonhada ou com dificuldades para dizer que acreditavam em uma fé ou em outra. Isso é bastante diferente na Europa. Aqui as pessoas, às vezes, têm pensamentos diferentes, mas elas se sentem envergonhadas por isso.

Dessa vez ficarei por um período curto no Brasil, mas decidi ir – mesmo tendo restringido minhas viagens, que são muito cansativas – porque o País tem alunos muito devotados aos estudos.

O senhor fala da busca pelo equilíbrio, pelo caminho do meio. Mas como alcançar esse equilíbrio nessa era da aceleração e do uso incontido da tecnologia e ao mesmo tempo com tanta desigualdade?

A natureza humana está conectada com aspectos de lados extremos. Se você decide comer, exagera na comida. Se decide comer pouco, praticamente não come nada. E isso acontece em qualquer atividade. A chave é desenvolver a consciência. Já temos muito conhecimento, mas parece não ser suficiente. Precisamos ter mais consciência. É importante aprender a trazê-la de novo. É isso que vai trazer o equilíbrio

E como desenvolver a consciência? Quais os primeiros passos para tornarmos isso possível?

Antes de pensarmos e julgarmos qualquer coisa, devemos olhar para nós mesmos e verificarmos se estamos relaxados e calmos. Se estiver assim, você tem a condição correta para pensar. Então, a calma expande a sua consciência. O que sempre digo é que o conhecimento e a informação sem calma são muito perigosos. Precisamos aprender a manter a calma.

Em segundo lugar, quando qualquer coisa acontece ao nosso redor, antes de julgarmos, precisamos fazer uma pergunta: “por que isso?” E provavelmente isso mudará a nossa visão. Mas a maioria das pessoas não tem tempo de dizer “por que?” ou não quer dizer. Elas simplesmente julgam e dão uma resposta. Então, a solução é relaxar e, com a mente calma, perguntar “por que?”.

Se alguém está fazendo algo que, realmente, me desagrada, preciso ir além da minha visão. Devo perguntar com calma por que ela está fazendo aquilo.

O senhor tem um programa voltado para líderes empresariais e gestores públicos. Qual a importância de falar para essas pessoas e qual a principal mensagem para elas?

As pessoas do mundo ocidental, especialmente as que ocupam altas posições nas organizações, precisam falar muito, liderar e julgar as pessoas o tempo todo. Então, todos aprendemos como falar, mas ninguém aprende como ouvir. Esse é o problema. As lideranças deveriam ouvir mais e falar menos, mas elas precisam falar muito. Os líderes corretos, experientes, não precisam falar muito. E se eles precisam falar muito, tem alguma coisa errada.

O equilíbrio, me parece, nos traz para o tempo presente, mas o senhor pensa no futuro? Como vê a humanidade daqui a 20 anos?

É uma pergunta difícil de responder, mas vou tentar responder. De maneira geral, no budismo acreditamos que o ser humano tem uma natureza profunda, que é felicidade. Independentemente da religião que temos, no que acreditamos ou não. Podemos ter diferentes filosofias e culturas, mas temos algo em comum, que está além disso tudo, e além do tipo de educação: todos nós queremos ser felizes e ninguém quer sofrer. Portanto, no final, todos nós buscamos a felicidade. Todos nós queremos a mesma coisa e não queremos o sofrimento. Acredito que podemos ter um futuro cada vez melhor. Mas, no curto prazo, ainda vamos enfrentar grandes desafios.


O Brasil, como o senhor disse, é um país diverso culturalmente e guardião de uma grande riqueza natural. Qual papel nosso País pode exercer na construção de um mundo mais equilibrado e menos desigual?

A Mãe Terra é apenas um hotel e somos todos hóspedes. Claro que o Brasil é muito, muito importante para nos ajudar a desenvolver a humanidade, formando um mundo melhor. Além do grande território, um ponto é a mistura de pessoas e culturas de todas as partes do mundo. O Brasil é o único país que, me parece, realmente, misturou as culturas. Elas não estão apenas juntas. No mundo, de maneira geral, estamos sofrendo pela separação. O Brasil é um belo exemplo de convergência. É um país com potencial ilimitado.

Eu gostaria que o senhor deixasse uma mensagem para os brasileiros, especialmente os mineiros.

Gostaria de dizer para as pessoas aprenderem com o seu passado e acreditarem no seu futuro. Não siga o seu passado, mas aprenda com ele. Não tenha medo do seu futuro, mas acredite nele. Em o que quer que você creia, isso tem uma grande chance de se tornar realidade. Estamos falando do poder de aprender e de acreditar. Nunca pare de aprender e nunca desista de acreditar.

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