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Arte em leilão

Arte em leilão
Foto: (Tomaz Silva/Agência Brasil)

CARLOS PERKTOLD *

No próximo dia 27, haverá na Christie´s de Londres três leilões de obras de pintores famosos, desses cuja imaginação nos leva a crer que todas as suas produções estão em museus e instituições culturais e que nunca veríamos nada fora desses locais. Pois elas existem, são primorosas, estão à venda e como toda coisa boa, caros. Um Monet será vendido entre 7,5 milhões a 10,5 milhões de libras, mais 15% para a casa leiloeira: uma pechincha se considerarmos que um belíssimo Matisse foi vendido por 80 milhões de dólares em maio do ano passado na filial de New York da mesma casa. Não são somente obras dessas duas feras da pintura impressionista que estão à venda. Bonnard, Vlaminck, Renoir, Cézanne, Van Gogh e uma montanha de pequenos desenhos de Matisse a preço que qualquer brasileiro de bom gosto e endinheirado poderá comprar, além de um conjunto de surrealistas, incluindo Magritte. O leilão será uma festa para os olhos e é constituído de tesouros até agora ocultos, como esclarece a Christie´s em seu catálogo on-line.

Além do preço acessível apenas para uma dúzia de brasileiros, a nossa dificuldade é que qualquer obra comprada fora e trazida para o Brasil, requer pagamento de tributos de importação (PIS, Pasep, Cofins e ICMS), o que eleva o seu preço em, no mínimo, mais 23% sobre o valor pago. Se houver alguma empresa, banco ou pessoa física que se disponha a comprar terá que aguardar mais tempo que outro comprador para ver seu investimento de volta, mesmo que a valorização seja rápida. O brasileiro esperará que ela ultrapasse o valor dos impostos para compensar o investimento, enquanto o europeu, o asiático ou o americano, que não pagam tributos sobre importação de obras de arte, poderá vendê-la tão logo tenha interesse. É por causa desses impostos que uma obra-prima de Guignard comprada em NY há anos por brasileiro, não veio para o País. É preciso mudar a atual legislação e isentar de todos os impostos casos como esse. Só assim enriqueceremos nosso acervo internacional.

Há vários bancos que possuem pinacotecas dignas de muitos museus e que deixam seus visitantes orgulhosos do que veem. O Itaú e o Alfa são exemplos. O maior e o mais triste é o do Banco Central do Brasil, constituído de óleos, esculturas, serigrafias e gravuras provenientes dos bancos quebrados nas décadas de 1980/90 e que estão em seu poder no porão no BCB aguardando não sei o quê. Deveriam ser distribuídos para os museus brasileiros, ou expostos permanentemente em museu do próprio banco. Onde estão, morrerão de tristeza de não ser vistos.

O investimento do público em arte no Brasil está crescendo, mas ainda é pequeno e precisa ser revisitado por quem pode comprá-la. Em longo prazo, nada é mais rendoso e em curto prazo, mais prazeroso de ver. Mas, atenção, se não se ama a arte, melhor investir na bolsa de valores. Por isso, o primeiro critério de compra deve ser a paixão pelo que encontrou e se apaixonou. Paixão que deve ser transmitida para as novas gerações para que o investimento seja perpetuado na família ou no negócio e que desenvolva o intelecto, a sensibilidade e o gosto dos herdeiros pela arte. A vantagem em relação à Bolsa é que na arte muito raramente há um sobe-e-desce de preço. A tendência é sempre subir por que a procura pela beleza é da natureza humana e ela é movida pela sensibilidade e pelo desejo. Dinheiro vem como consequência.

  • Psicanalista, integra a ABCA e a AICA
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