Autor mineiro revisita memória e cotidiano em nova obra

O escritor e jornalista Carlos Herculano Lopes lança “200 crônicas escolhidas”, publicada pela Autêntica Editora. A seleção reúne parte de sua produção em um jornal da Capital, onde publicou mais de 1.500 textos ao longo de mais de duas décadas. Conhecido por transformar o cotidiano em literatura, Herculano é autor de romances premiados e fez do olhar atento e afetuoso sua marca.
“Das quase mil crônicas que consegui recuperar no arquivo do jornal, porque infelizmente eu não as guardava, contei com a preciosa ajuda do escritor Jacques Fux, também autor do prefácio, que com o seu olhar atento me ajudou não só a escolhê-las, como também a separá-las por temas, até chegarmos a estas que agora tenho a alegria de compartilhar com os leitores”, comemora o autor. O lançamento está marcado para este sábado, 4 de outubro, às 10h, na Academia Mineira de Letras (rua da Bahia, 1.466 – Centro).
As crônicas reunidas no volume são retratos de afetos, memórias e paisagens, sempre entrelaçando o íntimo e o coletivo. O próprio jornal em que trabalhou aparece como cenário recorrente, com sua redação e colegas de profissão transformados em personagens. Também o Barbazul, reduto boêmio dos jornalistas da cidade, surge como palco de conversas e inspiração. Há ainda recordações de infância, retratos de Belo Horizonte e de seu interior, homenagens a figuras da cultura mineira e brasileira e reflexões sobre o tempo e as mudanças da vida.
Em cada texto, Herculano imprime um tom de conversa íntima, como se o leitor estivesse diante de um contador de casos em uma mesa de bar ou folheando um álbum de fotografias. Estão lá o amigo que, por travessura, marcou uma nota de R$ 20 com suas iniciais e passou a se perguntar se um dia voltaria a encontrá-la; o avô que se encantava com a vista da Serra da Mantiqueira e também com o mar; e, claro, a paixão pelo Atlético.
A memória cultural também ocupa lugar de destaque: Fernando Sabino e Roberto Drummond reaparecem como presenças afetivas, companheiros de ofício e de espírito. Belo Horizonte é evocada em seus marcos mais simbólicos – Praça Sete, Praça da Assembleia, avenida Afonso Pena, Mercado Central -, transformados em cenários de histórias que oscilam entre o prosaico e o poético, sempre permeadas pelo humor e pela ternura.
O livro está dividido em cinco seções, que revelam a amplitude do olhar do cronista. Em “O cronista do cotidiano”, Herculano dá voz a amigos, conhecidos e anônimos que, em seus gestos simples, revelam a poesia da vida comum. Em “O cronista”, reúne memórias das Minas Gerais e conversas em ônibus e táxis, refletindo sobre Belo Horizonte, cidades do interior e o País, sempre com um olhar simultaneamente crítico e generoso.
Em “O cronista voyeur e os amores que passam”, surgem relatos íntimos, encontros fugazes e saudades de um tempo que se esvai. Em “Os encontros literários, as histórias e suas invenções”, aparecem homenagens a escritores e jornalistas que marcaram sua trajetória. Por fim, em “As memórias de Coluna”, revisita as raízes afetivas da cidade onde nasceu, lembranças da juventude e episódios familiares.
Mineiro de 1956, Carlos Herculano iniciou sua trajetória literária aos 13 anos, publicando contos em jornais ainda na juventude. É autor de romances como “O último conhaque”, “O Vestido” e “Poltrona 27”, adaptados para o cinema, e do livro de contos “Coração aos pulos”. Foi premiado com o Guimarães Rosa, o Cidade de Belo Horizonte e a Bienal Nestlé de Literatura, além de ter romances finalistas do Jabuti e do Portugal Telecom. Em 2024, foi eleito para a cadeira 37 da Academia Mineira de Letras.
Ficha técnica
Livro: 200 crônicas escolhidas
Autoria: Carlos Herculano Lopes
Editora: Autêntica
Páginas: 448
Livro físico: R$ 129,80
E-book: R$ 90,90
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