Autores brasileiros trazem o negro para o centro da narrativa

Segundo dados do IBGE, 56% da população brasileira se declara como preta ou parda. Diante desse número significativo, há urgência para se falar sobre a inserção do negro na sociedade e discutir questões raciais. Temas que discorram sobre falta de representatividade, discriminação, racismo, apropriação cultural e intolerância religiosa precisam estar em pauta.
Além disso, datas como 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, devem ser lembradas de modo a valorizar, conhecer e respeitar Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes negros do Brasil, e tantas outras personalidades negras que marcam a história do País.
A literatura é uma das formas de expressão para evidenciar a representatividade racial e acabar com estereótipos vinculados ao preconceito. A seleção de livros abaixo traz o negro para o centro da narrativa, ao abordar a pauta antirracista e, também, revelar tramas vivenciadas pelos afrodescendentes.
Negros gigantes
No livro “Negros Gigantes – As personalidades que me fizeram chegar até aqui”, o gaúcho Alê Garcia, escritor finalista do Prêmio Jabuti, palestrante, criador do podcast Negro da Semana, apresentador do Omelete e um dos 20 creators negros mais inovadores do País, segundo a Forbes, brinda os leitores com um mergulho na própria vida e na de personalidades que o inspiraram e o empoderaram, mas que também foram marcadas pelo colonialismo enraizado. Entre os gigantes retratados na obra estão Lázaro Ramos, Elza Soares, Mano Brown, Martin Luther King, Chadwick Boseman e Emicida, que assumiram os próprios tronos e venceram os preconceitos. (Negros Gigantes – As personalidades que me fizeram chegar até aqui, Alê Garcia, Editora: Latitude, 288 páginas, R$ 64,90)
Uma leitura negra
A obra “Uma leitura negra” tem como elemento central o resgate da esperança para aqueles que sofrem as consequências do racismo. O livro propõe a prática da leitura da Bíblia e de sua interpretação a partir da rica herança da igreja negra, ou da “interpretação eclesiástica negra”, como denomina o autor. Esau McCaulley constrói uma sólida argumentação baseada na ortodoxia bíblica e um forte apelo étnico e social. Nesta narrativa, as perspectivas bíblica e negra se encontram para dar respostas divinas ao sofrimento de toda uma comunidade. O autor aponta o caminho do diálogo multiétnico para a comunhão entre homens e mulheres criados à imagem e semelhança de Deus. (Uma leitura negra, Esau McCaulley, Editora Mundo Cristão, 192 páginas, R$ 44,90)
Vamos falar de racismo
O suposto “convívio pacífico” entre pessoas de diferentes origens é um mito que durante muito tempo foi associado ao Brasil. Somos, no entanto, um país racista – como comprovam as manifestações explícitas ou veladas de preconceito, as estatísticas e o acesso desigual ao estudo, ao emprego e às posições de destaque nos mais diversos setores da sociedade. O primeiro passo para se tornar antirracista é falar abertamente sobre o tema. As 100 questões deste livro-caixinha, “Vamos falar de racismo”, levam à reflexão, individual ou em grupo, e contribuem para a mudança efetiva de entendimento e de comportamento em relação ao assunto. (Vamos falar de racismo, Alexandra Loras e Maurício Oliveira, Editora Matrix, 100 páginas, R$ 43)
Nina vai ao Brasil
A pequena Nina, da obra “Nina vai ao Brasil”, mora na Inglaterra com a família e parte para uma aventura no país que nasceu. De Norte a Sul, junto da vó Teresa, ela conhece as singularidades da cultura e diversidade do povo brasileiro. Dedicado a crianças que falam português pelo mundo – imigrantes, filhos de brasileiros nascidos fora ou os moradores nativos -, o livro é um incentivo às famílias manterem suas raízes. (Nina vai ao Brasil, Renata Formoso, Editora Catavento Books, 32 páginas, R$ 55,70)
E-Topia
As mais de 1,8 milhão de pessoas beneficiadas em 12 países pela ONG Recode, foram a inspiração para criação da protagonista Maria na obra “E-Topia”, de autoria de Rodrigo Baggio, CEO da Recode, organização que promove o empoderamento digital para transformar vidas e comunidades. Negra e da periferia, a personagem desperta pela primeira vez na história a consciência de uma inteligência artificial. Entre hackathons e metaversos, a história é revelada. Para acompanhar a narrativa, foi desenvolvido especialmente para a produção um aplicativo de realidade aumentada. (E-Topia, Rodrigo Baggio, 364 páginas – impressão sob demanda, R$ 49,90)
Dois levados numa jangada
O livro “Dois levados numa jangada” tem como cenário a Revolta dos Malês, o maior conflito popular social de escravizados do Brasil, que aconteceu em 1835. A história se passa na primeira capital do Brasil, Salvador. Uma escravizada e um marinheiro inglês estabelecem um inusitado relacionamento e tentam seguir um caminho comum em uma sociedade marcada pela intolerância. A obra traz uma reflexão sobre questões racistas da sociedade atual. (Dois levados numa jangada, Corisco Moura, Editora Versiprosa, 235 páginas, R$ 66,90)
A (des)educação do negro
Com prefácio de Emicida, “A (des)educação do negro”, do historiador Carter Godwin Woodson, é uma das mais importantes sobre educação. Com exemplos práticos e soluções, Woodson demonstra que o sistema não prepara o estudante negro para o sucesso e, além disso, o impede de criar uma identidade própria, doutrinando-o para que assuma uma posição de pária social. O livro é um manual para libertar a mente do menosprezo pela ancestralidade africana. (A (des)educação do negro, Carter Godwin Woodson, Editora Edipro, 128 páginas, R$ 31,90)
Preta de Greve e as sete Reivindicações
O livro “Preta de Greve e as sete Reivindicações” conta a história de Pérola Preta, uma menina negra que até frequentar a escola se sente linda e feliz, representada nos espaços cotidianos de sua convivência, porém ao iniciar a vida escolar conhece o preconceito quanto as suas características étnico raciais. (Preta de Greve e as sete Reivindicações, Zenilda Vilarins Cardozo, Fontelele Publicações, 23 páginas, R$ 40)
Ás de espadas
A escritora inglesa Faridah Àbíké-Íyímídé estreou na literatura young adult com “Ás de espadas” e conquistou a lista dos best-sellers do “New York Times”. O thriller publicado no Brasil pela VR Editora, selo Plataforma21, traz à tona temas sobre o racismo estrutural, preconceito de classe e homofobia. É uma história com protagonismo negro e LGBTQIA+: Devon e Chiamaka são personagens queer. (Ás de espadas, Faridah Àbíké-Íyímídé, Editora Plataforma 21, 448 páginas, R$ 64,90)
Silêncio de Marias
Mulher, negra e escritora, Núbia Pimentel não se restringe à estrutura patriarcal do Brasil. Na obra “Silêncio de Marias”, a autora expõe os problemas do racismo, através de casos da vida real com desfechos trágicos, outros felizes e alguns sem um ponto final. Em um dos relatos, a personagem principal, ainda na juventude, descobre as diferenças nas relações entre pessoas pretas e brancas. (Silêncio de Marias, Núbia Pimentel, Editora Chiado, 48 páginas, R$ 34)
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