Autoteste da Covid-19 estimula negócios

Depois que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, no dia 28 de janeiro, a comercialização de autotestes para Covid-19 para o público amplo, chegou a hora das empresas apresentarem seus produtos – importados ou de fabricação própria – à Agência. A comercialização só começa depois dos produtos serem analisados e liberados.
Minas Gerais desponta como polo de produção do autoteste. Sediada em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a Labtest Diagnóstica trabalha em seis diferentes produtos para autodiagnóstico e já apresentou à Anvisa documentação de dois deles. A expectativa, segundo o CEO e presidente da empresa, Alexandre Guimarães, é que a aprovação da Anvisa se dê em 15 dias e os produtos cheguem às prateleiras das farmácias e drogarias até o fim de fevereiro.
“Hoje fabricamos 400 mil testes por mês para serem usados em laboratórios e hospitais. Podemos rapidamente triplicar essa produção dedicada ao consumidor final rapidamente porque a estrutura para a fabricação é a mesma, precisando apenas contratar e treinar mais mão de obra. A grande diferença entre os produtos para o profissional da saúde e os para o cliente final é a usabilidade. No nosso caso, já havíamos desenvolvido um dispositivo para os laboratórios já pensado para o autoteste. O maior cuidado é com a comunicação. Se antes as instruções eram lidas por um profissional especializado, agora elas precisam chegar de uma forma muito mais clara e objetiva para quem não tem formação. Buscamos ter ilustrações, letras maiores, um serviço de atendimento ao consumidor 24 horas, tudo para responder a qualquer dúvida do usuário. Também nos preocupamos com o descarte correto do material que pode estar infectado”, explica Guimarães.

A tendência é que a distribuição seja realizada na esmagadora maioria pelas redes de farmácias e drogarias e outros agentes de saúde, como as clínicas, por exemplo. A compra pelos entes públicos está praticamente descartada, embora a Anvisa preveja essa possibilidade. Outras vias de acesso para o consumidor seriam a doação por empresas privadas ou por meio da rede de saúde suplementar.
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“Seriam quatro formas diferentes de distribuição. A primeira, via Sistema Único de Saúde (SUS), com o estado brasileiro comprando por licitação pública. Uma população que declara Imposto de Renda pelo celular, porque não seria capaz de fazer o autoteste? Infelizmente o Brasil não vai fazer assim. Outro caminho seria pela saúde suplementar, evitando que o cliente fosse ao hospital sem necessidade. Poderíamos também ter as empresas, escolas e instituições incentivando as pessoas a fazerem o autoteste, evitando, mais uma vez, filas desnecessárias e antecipando as medidas de isolamento e tratamento. O autoteste é uma ferramenta para complementar o acesso à testagem ampla. Então o canal efetivo será através das redes de farmácias e drogarias que vai ser abastecido direto pela indústria e seus distribuidores. Imagino que em uma semana o produto já estará espalhado pelo Brasil inteiro”, avalia o CEO e presidente da Labtest.
O exame para detectar a Covid-19 é uma solução de diagnóstico que deve desafogar a demanda crescente por este tipo de procedimento em laboratórios e farmácias. Segundo dados da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), o aumento da procura foi superior a 640% entre a última semana de novembro de 2021 e a primeira semana de janeiro deste ano, com grandes filas de espera e prazos de 15 dias para entrega dos resultados.
Instalada na Capital, a Celer Biotecnologia também já apresentou toda a documentação de dois produtos. De acordo com a diretora-comercial da indústria, Marily Shimmoto, a empresa vai trabalhar com dois parceiros: um francês e um chinês. Do país europeu ela vai importar o produto acabado e do asiático, insumos para a fabricação e envase em território mineiro. A previsão é colocar no mercado um milhão de unidades por mês de cada produto, assim que for autorizado pela Anvisa.
O autoteste Covid-19 da Celer teve sua primeira etapa de validação realizada em Campo Belo, no Sul de Minas, com uma amostra de 500 moradores. A cidade foi escolhida porque o nível de contaminação por Covid-19 tem se mantido estável, com diagnóstico confirmado para 30% dos pacientes que apresentam os sintomas da doença. Esse é um pré-requisito exigido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
“Nos orgulhamos de um certo pioneirismo. Em 2020, quando a pandemia ainda não havia chegado ao Brasil, fomos uma das primeiras empresas a se movimentar para prover diagnóstico e monitoramento da doença no País. Sobre os autotestes já havíamos submetido um produto mesmo antes da resolução da Anvisa. Sabíamos que essa autorização ia chegar em algum momento para desafogar o sistema de saúde como foi feito em outros países. Então, estávamos de prontidão”, explica Marily Shimmoto.
Quanto ao preço para o consumidor, ambos os executivos relutam em afirmar uma média diante da disputa global por matéria-prima, as dificuldades logísticas e a desvalorização do real, já que os insumos são majoritariamente importados.
“O mercado já se movimentou e, mesmo antes da autorização, as redes de drogarias e distribuidores já vinham consultando sobre a viabilidade dos autotestes chegarem às drogarias. Vamos seguir as discussões da CBDL para determinar os preços”, pontua a diretora comercial da Celer.
Importante lembrar que o autodiagnóstico é uma ferramenta de triagem e não entrará nas estatísticas oficiais da doença no Brasil, já que o governo não disponibilizou uma plataforma para registro dos resultados, e nem servirá como documento para questões trabalhistas como o afastamento das atividades profissionais por doença.
BiotechTown disponibiliza espaço para empresas
Em Nova Lima, também na RMBH, o BiotechTown – hub de inovação em biotecnologia e ciências da vida construído por meio do investimento da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge) -, oferece a solução para quem já detém a tecnologia mas não dispõe de uma planta produtiva: o Contract Manufacturing Organization (CMO).
Segundo a coordenadora do CMO, Deborah Faria, o espaço de 500 metros quadrados oferece todas as condições técnicas e de licenciamento para indústrias que queiram produzir sem investir em uma nova linha de produção, inclusive com mão de obra treinada.
“O CMO é uma estrutura inovadora, porque normalmente as indústrias têm as suas fábricas, e a gente se propõe a produzir para eles. Também podemos adquirir os insumos importados. Para fabricar o teste rápido a estrutura precisa estar licenciada pela Anvisa e demais licenças e certificados, inclusive de boas práticas. Precisa ter sala seca, com umidade abaixo de 30%. Temos os equipamentos específicos para essa produção”, enumera Deborah Faria.
O interessado, que não precisa ser uma indústria, pode ser, por exemplo, uma startup ou um instituto de pesquisa, apresenta o projeto definindo em que fase está e de qual infraestrutura vai precisar. A partir daí o preço e o acordo são fechados e a produção pode começar em até três dias.
“Nós podemos fazer apenas a parte final do processo e a envase ou começar o projeto desde o início, inclusive importando os insumos, por exemplo. Por isso o preço depende muito da fase em que o cliente está. Isso impacta também no prazo de entrega porque existem fases que não podem ser antecipadas. Um processo de secagem, por exemplo, demora tantas horas e não pode ser feito de outro jeito. Imaginando que os nossos clientes estejam em uma fase intermediária, podemos produzir até um milhão de testes por semana”, explica.
Como o CMO não tem marca própria, não faz concorrência com as indústrias e pode atender várias de uma só vez, mesmo que estejam em fases diferentes do projeto.
“Não somos concorrentes de ninguém e a confidencialidade é garantida. Somos uma estrutura única, uma proposta que não existe no País, que soma à vocação para a biotecnologia de Minas Gerais. É muito bom devolver para o nosso Estado o incentivo que recebemos”, completa a coordenadora do CMO.
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