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Auxílio emergencial ancorou MPEs

Auxílio emergencial ancorou MPEs
Crédito: Alisson J. Silva Pão Boa Vida

As micro e pequenas empresas (MPEs) são as grandes responsáveis pela economia do mundo. No Brasil, segundo dados do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), elas já respondem por 27% do Produto Interno Bruto (PIB) e compõem 99% do total de empresas no País. O Brasil possui 6,5 milhões de microempresas e 9,7 milhões de microempreendedores individuais (MEIs). Costuma-se dizer que enquanto as grandes empresas são responsáveis pelo PIB, as menores são responsáveis pelos empregos e pela seguridade social.

Apesar de tamanha importância, foram justamente elas que mais sofreram os impactos da pandemia. Pouco digitalizadas e, via de regra, com pouco capital de giro, muitas não tiveram tempo de reação. Pesquisa do Sebrae Minas, feita em novembro e dezembro, mostrou que quase a metade dos entrevistados sofreram forte impacto negativo com as restrições de funcionamento no período de pandemia. Já sobre o home office, 60% disseram que mesmo sendo feitas todas as adaptações necessárias, nenhum funcionário da empresa teria condições de trabalhar em casa. Mais de 40% dos donos de pequenos negócios acreditam que a forma como essa prática de trabalho afeta a produtividade da empresa depende da situação.

Para o gerente da Unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão de Melo, o auxílio emergencial foi determinante para que as pequenas empresas sobrevivessem. O dinheiro foi importante especialmente nas pequenas cidades e comunidades. “Setores como turismo, bares e restaurantes e vestuário tiveram uma parada imediata e demoraram muito tempo para esboçar uma reação. Isso só veio a acontecer, principalmente, por causa do auxílio emergencial que colocou dinheiro na economia, já em julho. O auxílio emergencial conseguiu melhorar a economia e alguns negócios conseguiram fôlego para se reinventar a partir da digitalização”, explica Melo.

Crédito: Paulo Márcio
Felipe Brandão de Melo | Crédito: Paulo Márcio

Ainda de acordo com o estudo, questionados sobre a possibilidade de o auxílio emergencial não ser mais pago em 2021, 62% dos donos de pequenos negócios acreditam que o fato pode vir a causar impactos negativos na procura e/ou consumo de seus produtos e/ou serviços.

Para o especialista, a economia brasileira no primeiro trimestre de 2021 será lenta, impactada, ainda, pelo baixo índice de vacinação e pelas vendas abaixo do esperado na Black Friday, em novembro, e no Natal. “Algumas transformações vieram para ficar, como a digitalização e a maior intensidade dos protocolos sanitários. Até que tenhamos um plano de vacinação eficaz, vamos conviver com restrições de deslocamentos, diminuição da massa disponível para consumo e possíveis rupturas nas cadeias de produção. Embalagem, por exemplo, se tornou um setor crítico. Já faltam insumos para as indústrias farmacêutica e de bebidas. A própria agricultura, que é um setor ‘anticrise’, começou a sofrer com o aumento do preço dos insumos atrelados ao dólar e redução da demanda. No segundo semestre, a economia – salvo outra tragédia – deve retomar, mas as empresas que não estiverem organizadas não terão folego”, avalia o gerente do Sebrae Minas.

Incertezas – Diante de tantas incertezas, o empreendedor brasileiro e o mineiro seguem preparando o futuro. A edição 2020 da pesquisa “Agenda”, realizada pela Deloitte, revela que 56% das empresas mineiras desejam aumentar o quadro de funcionários. Segundo o relatório da pesquisa, esse é um reflexo da curva de recuperação, o que indica que haverá uma recomposição de parte dos postos de trabalho perdidos no ápice da crise.

De acordo com o líder do escritório da Deloitte em Belo Horizonte, Manoel Silva, a economia brasileira é um “gigante com os braços amarrados” e a economia mineira, de alguma forma, se beneficiou pela sua própria estrutura baseada em atividades primárias consideradas essenciais, especialmente mineração e também a siderurgia.

“Esse grupo é um pouco diferente porque essas empresas não sofreram tanto. O preço do minério aumentou 30% nesse período. A siderurgia sofreu no início, com a queda do setor automotivo, mas depois voltou. Eles são mais otimistas. Hospitais e startups, outras forças do Estado, também cresceram muito. Para os demais, 2021 ainda será muito difícil, com medo da segunda onda e incertezas sobre a vacina. Isso leva a uma certa cautela dos empresários. Todo mundo acredita em uma recuperação, mas existe um certo grau de moderação”, destaca Silva.

Crédito: divulgação/Deloitte
Manoel Silva | Crédito: divulgação/Deloitte

Treinamento e formação – A ampliação ou criação de treinamento e formação de funcionários também será prioridade para 90% dos entrevistados e isso mostra que apesar das contratações previstas serem para apenas 37% das empresas, há uma valorização na qualificação dos profissionais internos.

“Com a Covid, as empresas perceberam que precisam treinar as pessoas, principalmente em tecnologia e recursos humanos. O pessoal do RH teve que motivar, formar, selecionar em distanciamento. Esse investimento é uma resposta à crise, com a valorização dos profissionais internos. Do outro lado, as pessoas também sentiram que precisam se qualificar pela insegurança de perder o emprego”, pontua o líder do escritório da Deloitte em Belo Horizonte.

Educação mergulha de vez na digitalização

Mais do que carteiras abandonadas e quadros vazios, o fechamento das escolas pela pandemia deu ao mundo a dimensão da importância das instituições de ensino e professores muito além dos conteúdos programáticos. As escolas nos ensinam também a ser humanos no convívio entre diferentes, na diversidade das culturas e na descoberta de que sempre há o que se aprender.

Investimentos em tecnologia passaram a integrar a planilha de custos das instituições não mais como um diferencial. Pais e estudantes adultos, abalados pela perda de renda, se debatem entre a impossibilidade de arcar com todos os custos e o medo de deixar o sistema particular. Enquanto isso, o ensino remoto fica mais sofisticado e ganha a confiança de quem nunca assistiu aula mediado por um telefone celular. As editechs avançam e querem ser a bola da vez para os investidores.

No mercado de educação até quem já nasceu digital passou por sua “própria pequena revolução” em 2020. Fundado em 2011, o Descomplica oferece cursos on-line preparatórios para Enem e vestibulares, concursos públicos, reforço escolar e pós-graduação, alcançando 5 milhões de usuários por mês e 300 mil alunos pagantes. Em 2020, lançou a Faculdade Descomplica, com quatro cursos: Pedagogia, Administração, Contabilidade e Gestão de Pessoas.

De acordo com o presidente da Faculdade Descomplica, Daniel Pedrino, a pandemia também alterou o perfil dos acessos. Entre os alunos da pós-graduação da plataforma, por exemplo, o tempo de uso, em especial pelo desktop, aumentou na comparação com o ano passado, reflexo do maior tempo das pessoas em casa, motivado pelas políticas de distanciamento social e home office.

Sempre na comparação entre 2020 e 2019, a navegação pela plataforma web via desktop cresceu 686%, enquanto via mobile caiu 532%. O consumo de aulas via desktop cresceu 782% e via mobile caiu 573%. O download de materiais pelo desktop aumentou 472% e pelo mobile aumentou 373%.

“A gente veio se preparando para um mundo que seria transformado. Somos uma geração de transição, mas, mesmo assim, existe um certo preconceito contra o digital. O legado da pandemia é a experimentação. O ensino on-line não é uma aula gravada. A maneira de se comunicar e dar a aula é outra. As pessoas precisam de estímulos diferentes. Tivemos um aumento gigantesco de matrículas e consumo na plataforma. O volume de aula cresceu no desktop e caiu no celular”, explica Pedrino.

Crédito: divulgação/Faculdade Descomplica
Daniel Pedrino | Crédito: divulgação/Faculdade Descomplica

Compartilhamento – Sediada em Belo Horizonte, a Samba Tech é referência no mercado de vídeos on-line, especializada em soluções que garantem infraestrutura de alta qualidade para venda, distribuição, gerenciamento e armazenamento de vídeos. Logo no início da pandemia, a empresa abriu gratuitamente na web parte dos seus conhecimentos e produtos a favor do mercado, liberando conteúdos e ferramentas para empresas que são clientes ou não.

Para o CMO da Samba Tech, Pedro Filizzola, a lição principal é que compartilhar conhecimento só faz com que ele se multiplique e possa gerar bons negócios no futuro. Há tempos o mundo inteiro fala na necessidade de uma formação continuada para profissionais e empresas e a pandemia apenas jogou mais luz sobre a questão.

“A educação superior não chegava ao interior. Hoje, qualquer pessoa tem acesso a um bom conteúdo, mesmo a distância. Só que, por outro lado, algumas coisas foram atropeladas. Quando a gente fala de educação a distância, falamos de infraestrutura, conteúdo e professores. A tendência é trabalhar a questão da interatividade para agregar valor e ter um ensino cada vez mais personalizado através de analytics. A partir dos dados coletados vou direcionar o conteúdo e o momento de interação. Assim, ajudo o cliente a atrair e reter os seus alunos”, afirma Filizzola. (DM)

Pedro Filizzola| Crédito: divulgação/Sambatech
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