Bambu pode virar matriz energética

A busca por matérias-primas e processos mais eficientes e limpos fez com que a Econew – fábrica de briquetes de carvão instalada em Várzea da Palma, no Norte de Minas, e a Universidade Federal de Viçosa (UFV), Zona da Mata mineira, se unissem em torno de uma pesquisa que pode viabilizar a troca do eucalipto pelo bambu na produção de carvão vegetal.
O objetivo, segundo o CEO da Econew, Leonardo Simões Zica, é que o produto possa substituir, no futuro, o carvão mineral de origem fóssil, e apresentar maior produtividade do que o carvão vegetal de eucalipto. Enquanto o ciclo da plantação de bambu leva em torno de três anos, a de eucalipto necessita de seis a sete anos.
“A UFV é uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento da silvicultura no Brasil a partir dos anos de 1970. Hoje, as principais empresas da mineração, siderurgia, metalurgia, entre outras cadeias produtivas estão ligadas à universidade. A Econew é pioneira na produção de briquetes de carvão no País e nossa produção é toda exportada para o varejo internacional. O desafio é produzir um briquete industrial compatível para a metalurgia e a aciaria. E é por isso que buscamos a ajuda da UFV. Chegando lá, já encontramos estudos preliminares sendo feitos com o bambu. Daí à assinatura do convênio foi um processo rápido, pois o interesse é mútuo”, explica Zica.
O briquete é considerado um substituto da lenha e também é conhecido como o “carvão ecológico” e, em linhas gerais, resulta do processo de secagem e prensagem de resíduos de madeira, apresentando após sua transformação um produto para queima com alto poder calorífico, o que faz deste um combustível ideal para uso em caldeiras industriais.
Os seus pontos positivos em relação ao carvão são, principalmente do ponto de vista físico, a regularidade granulométrica e resistência do material. Do ponto de vista econômico, está o preço do frete, já que o briquete é muito mais denso do que o carvão.
Experiência com bambu
Dez áreas com diferentes microclimas já foram escolhidas em um raio de até 100 quilômetros da planta da Econew para receber o estudo. Já foram adquiridas 45 mil mudas de diferentes espécies de bambus para o experimento que tem prazo de três anos, ou seja, um ciclo completo da planta.
O estudo quer identificar as variedades que melhor se adaptam à região, o melhor sistema de adubação, técnicas de plantio e colheita, entre outros aspectos técnicos específicos.
“Queremos que esse projeto reverta em benefícios para toda a comunidade. O bambu, diferentemente do eucalipto, que é cultivado em sistema de monocultura, pode ser plantado em áreas degradadas e compor com outras culturas. Se o agricultor tem, por exemplo, uma cultura de milho que está exposta aos ventos, ele pode plantar bambu em volta para proteger a plantação. A ideia é que o bambu seja complementar ao que já é produzido na região. Não é para ninguém abandonar o que faz atualmente, nem desmatar para plantar bambu”, pontua.
A parceria para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) foi celebrada com a interveniência da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) e contou, ainda, com a participação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
“No sistema tradicional de produção do carvão vegetal a matéria-prima tem que ser queimada na propriedade produtora. No nosso caso, levamos a matéria-prima para a nossa planta e é no nosso reator que o bambu será transformado em carvão de biomassa. Depois disso, ele vai para a linha de produção de briquete. Esse sistema de produção reaproveita os gases que são queimados depois, dando circularidade ao sistema. Tudo isso é feito para garantir a responsabilidade ambiental do processo, entregando sustentabilidade aos nossos produtos e parceiros. O objetivo final é atender ao mercado de varejo internacional e também ao mercado industrial dentro e fora do Brasil, ganhando mercado e ficando menos suscetíveis às variações dos preços das commodities no mundo”, completa o CEO da Econew.
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