Bancos digitais provocam grande revolução

9 de julho de 2020 às 0h14

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No Inter, a pandemia nos ajudou a corroborar que nossa estratégia estava certa, disse Helena Lopes Caldeira | Crédito: Divulgação/Banco Inter

Nos últimos anos o sistema bancário vem passando por uma grande revolução com o aparecimento dos bancos digitais. Sem agências físicas, prometendo menos burocracia, taxas mais baixas e tudo feito na velocidade da internet, eles agora experimentam a sua primeira crise estrutural.

Os nativos digitais dessa vez não impõem uma “reinvenção” aos tradicionais, mas eles mesmos, tão acostumados a se chamarem de inovadores, navegam em incertezas.

Para a diretora Financeira e de Relações com Investidores do Banco Inter, Helena Lopes Caldeira, no início não havia a noção de que a crise causada pelo Covid-19 fosse tão longa e nem tão grave. Ela, porém, ajudou a consolidar a crença de que a estratégia primeira do banco estava correta.

“No Inter, a pandemia nos ajudou a corroborar que nossa estratégia estava certa. Hoje não é preciso contato físico para realizar negociações financeiras e receber suporte. Hoje, por causa da doença, o ideal é que não seja físico. Então, a forma de conexão tem que ser diferente. Foi muito importante ser um player em que o cliente não teve que mudar a forma como se relaciona com o banco. Começamos a nos estruturar melhor para fazer essas conexões via videoconferência, por exemplo, com muito mais facilidade, porque as pessoas estão se familiarizando”, explica Helena Caldeira.

Para a executiva, a grande novidade desse período é a abertura para a comercialização de produtos não-financeiros. Alguns bancos tradicionais também têm lançado mão de estratégias parecidas, porém os digitais teriam, ao menos teoricamente, uma vantagem estrutural e cultural para começar a jornada.

“Na nossa experiência o que se destacou foi a possibilidade de ter produtos não-financeiros nessa plataforma bancária. Nos questionamos se somos o Banco Inter que funciona através de uma plataforma, ou uma plataforma que também tem um banco. Um produto que ganhou espaço foi o nosso marketplace. Podemos gerar uma conveniência grande para o cliente, com a possibilidade de dar um cashback, por exemplo. Claro que essas novidades não são intuitivas. É inteligência aplicada sobre os dados. Queremos ser parceiros do cliente, não queremos ofertar produtos que não façam sentido pra ele”, pontua a diretora Financeira e de Relações com Investidores do Banco Inter.

E, em meio a tantas novidades, o Inter vê o número de clientes aumentar. No primeiro trimestre foram 14 mil contas abertas por dia útil, mesmo com a pandemia paralisando as atividades no meio de março. Um novo público, antes mais resistente às novas tecnologias, tem procurado o banco.

“Não vimos necessariamente uma mudança de perfil de cliente, muito mais uma abertura para entender novos produtos e serviços. Hoje, o nosso mercado endereçado é maior. Quem tinha uma barreira fica mais aberto. O compartilhamento de conteúdo digitalmente é outra coisa que tem uma importância e muda o jeito que as marcas se relaciona com os clientes. Deixamos de ser só um prestador de serviços financeiros”, completa.

PIX – No início de maio, quando a pandemia já somava oficialmente quase de 500 mil infectados pelo Covid-19, o Banco Central (BC) iniciava o processo de regulamentação do Sistema Financeiro Aberto (SFA), mais conhecido como open banking.

Após a autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN), a previsão do funcionamento ficou agendada para 30 de novembro deste ano, com estimativa de estar totalmente implantada até outubro de 2021.

O SFA é um sistema de compartilhamento de dados, informações e serviços financeiros de uma plataforma para outra. Segundo o diretor de Inovação e novos negócios da Matera – empresa de tecnologia voltada ao mercado financeiro, fintechs e gestão de riscos – Alexandre Pinto, o objetivo do BC é fomentar a inovação, a concorrência e a eficiência do sistema financeiro, tornando-o mais justo, seguro e garantindo a interoperabilidade.

Em junho, foi instituído oficialmente o Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI) e a Conta de Pagamentos Instantâneos (Conta PI), dando mais um passo para a implementação do PIX, que permite pagamentos instantâneos e transferência entre contas 24 horas por dia, todos os dias da semana, em até 10 segundos.

De acordo com o Banco Central, cerca de 140 instituições financeiras solicitaram adesão ao PIX, que tem previsão de começar a funcionar em novembro. A expectativa é de que o pagamento instantâneo seja rival direto das transferências bancárias e dos cartões de débito e crédito.

“A tendência já estava dada, a digitalização e a desintermediação já estava acontecendo. O mercado financeiro ia em um ritmo mais lento porque estamos falando de dinheiro e confiança. Pode haver um impacto sobre os bancos em termos de receita, já que farão menos TEDs e boletos. Eles têm ao seu favor a capilaridade e a cultura, mas o brasileiro gosta de tecnologia e acredito em uma rápida aderência à ferramenta. O PIX será uma espécie de ‘internet das contas’ possibilitando o surgimento de novos modelos de negócios, como o de pequenos pagamentos. O Brasil está preparado e sai na frente de grandes mercados como os Estados Unidos, por exemplo, que só vai fazer algo semelhante a partir de 2023. Podemos ser, inclusive, fornecedores de tecnologia para eles em breve”, analisa Pinto.

Pinto: o objetivo do BC com o PIX é fomentar a inovação, a concorrência e a eficiência | Crédito: Divulgação/Matera

Pandemia acelera uso da internet e mobile banking

Reunidos durante o Ciab Live 2020, maior evento de Tecnologia da Informação para o setor financeiro da América Latina, executivos das principais instituições financeiras do País destacaram o crescimento do mobile banking e plataformas de inteligência artificial e de investimentos.

Segundo o membro do Conselho de Administração do banco, Maurício Minas, as plataformas digitais do banco tiveram crescimento acentuado no período de pandemia.

O banco digital do grupo, o Next, por exemplo, registrou crescimento de 46% nas transações, enquanto a plataforma de investimentos Ágora teve salto de 76%. Já a plataforma de inteligência artificial do banco, a BIA, teve 25% de aumento na demanda, enquanto as operações de mobile banking cresceram mais de 30%.

O diretor de Engenharia de Canais do Itaú Unibanco, Estevão Lazanha, afirmou que o uso dos canais digitais cresceu de forma espantosa durante a pandemia em sua instituição.

Como exemplo disso, mencionou que três quartos das novas contas abertas pelo Itaú Unibanco nos três últimos meses foram pelo mobile banking, como evolução da jornada de atendimento pelo aplicativo.

O número está em linha com os resultados da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária – também apresentados no Ciab Live que apontam que as transações bancárias feitas por pessoas físicas pelos canais digitais – internet e mobile banking – foram responsáveis por 74% das operações em abril, um mês após o início da quarentena e das medidas de isolamento social.

O setor financeiro brasileiro, segundo o diretor de Tecnologia do Banco do Brasil, Gustavo Fosse, é referência por ser um dos que mais utiliza tecnologia de ponta.

Durante a pandemia, os clientes puderam explorar essa capacidade das instituições financeiras de estarem na vanguarda tecnológica. No BB, ele informa que as transações pelos canais digitais durante a pandemia cresceram 76%.

Para os participantes do Ciab Live, a crise sanitária contribuiu para acelerar mais ainda a transformação digital no setor financeiro. O VP de Tecnologia da Informação da Caixa, Cláudio Salituro, disse que a pandemia foi uma oportunidade para colocar em prática rapidamente projetos que já vinham sendo discutidos pelo banco, mas que dependiam da mudança de cultura.

Quando chegou a pandemia, e consequentemente o período de distanciamento social, muitas dessas iniciativas precisaram ser lançadas em poucos dias. Ele menciona o desenvolvimento de dois aplicativos para atendimento da plataforma do auxílio-emergencial do governo e da liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para alcançar o cliente onde quer que ele estivesse.

Ao analisar a mudança de comportamento do cliente durante a pandemia, o CIO do Santander, Marino Aguiar, reforça a necessidade de implementação de novas tecnologias como o PIX, novo sistema de pagamento instantâneo do Banco Central, e open banking para facilitar a entrega de serviços. Ele explicou que o banco espanhol pode importar muitas inovações de outros mercados para implementações no Brasil.

Na visão de CFO do BTG Pactual, João Dantas, toda crise exige mudanças. Porém, o executivo avalia que o setor financeiro, por ser um dos que mais investe em tecnologia, estava mais preparado para atender os clientes nesse momento de mudança de comportamento em relação ao uso de plataformas digitais.

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