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Barbearias crescem e apostam em diferenciais

Barbearias crescem e apostam em diferenciais
Brasil é o segundo maior mercado consumidor de produtos masculinos, de acordo com levantamento do Euromonitor

O termo “barbeiro” caiu em desuso por um tempo, visto que os salões de beleza também faziam os cortes masculinos e, por muitos anos, isso foi suficiente para os homens. Hoje, não mais. Na realidade, a última década foi marcada por uma evolução do comportamento do homem em relação à sua aparência e isso tem impulsionado o mercado da beleza. Em Belo Horizonte, há estabelecimentos que estimam crescimento de 50% nos negócios neste ano e já planejam investimentos.

Só entre 2012 e 2016 o faturamento das barbearias no Brasil registrou um crescimento de 539%, segundo pesquisa da Euromonitor International, que também fez o levantamento para o Panorama do Setor de 2017 da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), apontando que o Brasil é o segundo maior mercado consumidor de produtos masculinos.

Em Belo Horizonte, é possível encontrar diversas opções das chamadas barber shops, muitas delas com uma pegada retrô e diferentes atrativos para os clientes, como cervejas especiais, mesa de sinuca, transmissão de programas esportivos, decoração automobilística etc.

A Achado Barbearia, localizada na Savassi, no entanto, decidiu investir em um ambiente mais clean e focar exclusivamente nos serviços oferecidos.

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“Gostamos de priorizar a nossa prestação de serviços, que é diferenciada. Antes de atender, por exemplo, sentamos com o cliente para uma conversa, para entender o perfil, saber o que ele está procurando, ver o que combina mais com o rosto dele caso ele queira uma mudança de visual etc. O nosso ambiente é bem clean, moderno, não colocamos muita coisa lá, porque não é a nossa ideia encher a barbearia de coisas, mas sim, de qualidade”, conta Wagner Mariano, um dos sócios.

Atualmente, o espaço recebe cerca de 50 clientes por dia, sendo que 80% da procura é pelo corte de cabelo e barba. Mas a loja oferece também serviços como selagem, sobrancelha, tonalização, luzes invertidas. Há apenas cerca de dois meses no ponto, a demanda tem superado as expectativas.

“Abrimos há pouco tempo e o espaço já está pequeno, tivemos que colocar um banco do lado de fora com um toldo, e já estou olhando com o arquiteto para ampliar um pouco. Os nossos clientes são muito fiéis e nos indicam muito. A expectativa agora é crescer em 50% até o final deste ano”, comenta. Segundo eles, as tendências europeias deste mercado são as principais referências.

O investimento para abrir a unidade, que tem 30 metros quadrados, foi de R$ 170 mil, e a ideia é abrir uma nova unidade dentro de dois anos.

Já o Ateliê e Barbearia Ramon Ruiz Barber and Beauty Shop, no bairro Funcionários, explora bastante o estilo clássico, até mesmo pela formação do barbeiro e visagista Ramon Ruiz, que baseia a sua técnica na velha escola da barbearia do início do século XX e nos princípios do visagismo.

“Por volta dos anos 70 e 80 começaram a surgir os salões unissex, até mesmo por causa do estilo de cabelo na época, que eram longos, volumosos, e as barbearias e barbeiros que só faziam cortes masculinos acabaram caindo no ostracismo. Agora, esses cortes clássicos da década de 20, esse estilo das barbearias clássicas, voltaram com tudo e acho muito difícil que voltem ao ostracismo, porque os barbeiros também vendem um estilo de vida”, comenta.

Diferenciais – Ele também conta que a personalização do serviço é um dos diferenciais, semelhante a um médico de família, que acompanha o paciente há anos.

“O maior desafio é lidar com a concorrência não capacitada. Temos muitas barbearias sendo abertas, se aventurando no mercado, mas nem todas habilitadas para isso. E hoje, o cliente busca uma identificação com ele mesmo, uma melhor conexão do conteúdo com a embalagem. Nós trabalhamos com essa pegada da individualidade, da personalização e a experiência dentro do local também é prioridade. A barbearia é um ambiente muito próprio do homem, por isso temos um espaço mais intimista, para o cliente passar um tempo conosco e com ele mesmo”, conta Ruiz.

Novas regras do setor têm efeito positivo

Analista do Sebrae Minas, Samira Ribeiro acredita que vários fatores têm influenciado o crescimento deste mercado. “Um deles é que o próprio segmento está se organizando mais, e com a Lei do Salão Parceiro, as barbearias passaram a ver esta organização como positiva”.

Ela se refere à Lei 13.352/16, que entrou em vigor em 2017 para regularizar a prática de contratação de profissionais como cabeleireiros, esteticistas e manicures sob o regime de trabalhadores autônomos, permitindo um contrato de natureza civil entre as partes sem que haja vínculo empregatício.

Outro fator determinante para a expansão do mercado é de natureza cultural. “Antigamente, os homens não tinham esta abertura para cuidar da estética, e hoje isso é mais valorizado, principalmente com as mídias sociais em que os homens, assim como as mulheres, estão se expondo mais. E hoje, eles não só se cuidam, mas fazem questão de mostrar os resultados, o corte de cabelo, a barba feita”, explica.

O terceiro fator, de acordo com a analista, é que as barbearias souberam tirar muito proveito da inovação, até mais do que os salões de beleza. “Trabalhar com a experiência dentro do salão é uma grande inovação. As barbearias criaram um espaço que envolve o cliente, são espaços lúdicos que se assemelham a uma garagem, ás vezes, que tem uma pegada vintage, mas tudo muito sofisticado e bem pensado. Um ambiente que o homem se identifica e fica a vontade para fazer o que ele antes não fazia, como uma massagem, um design de sobrancelha, um corte diferenciado, até uma escova em uma barba ou uma depilação e ele se sente bem com isso porque é um ambiente pensado pra ele, e também de bate-papo com outros homens”, conclui.

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