Bebês reborn: mercado em Belo Horizonte vai além da febre na internet

Conhecidos pelos traços hiper-realistas, os bebês reborn deixaram de ser uma arte de nicho para se tornarem um fenômeno comercial em expansão, impulsionando a carreira de artistas e artesãs pelo mundo, incluindo em Belo Horizonte. Com faturamento que pode ultrapassar R$ 240 mil por ano, o desafio dos negócios agora passa pelo rompimento de paradigmas para firmar-se como expressão artística e fonte legítima de renda.
Apesar da alta notoriedade nas últimas semanas – com conteúdos virais e alguns questionáveis -, o setor já conta com público cativo desde o século passado. Especulações apontam para o surgimento da categoria durante o período da Segunda Guerra Mundial como solução diante da necessidade de reformular bonecas, em meio a escassez de recursos.
Com o passar do tempo, novas técnicas foram incorporadas, com bebês reborn personalizados para diferentes públicos, de renda e faixa etária variados. A crescente popularidade levou artistas de bebês reborn em Belo Horizonte a ampliarem negócios e conquistarem a independência financeira em um mercado a partir da produção de itens em vinil ou bebês de silicone sólido.
De mãe para filha, talento vira oportunidade de renda
A paixão pela arte de criar bebês hiper-realistas, aliada ao potencial financeiro do negócio, levou a artista reborn Aline Maia a deixar o mundo corporativo e se dedicar integralmente ao próprio ateliê, em Belo Horizonte. Filha de uma das pioneiras da técnica na capital mineira, a empreendedora herdou o talento da família e transformou o trabalho artesanal em sua principal fonte de renda.
“Aprendi com minha mãe e comecei do zero, investindo cerca de R$ 3 mil iniciais. Com o tempo, fui crescendo e hoje vivo disso: sustento meus filhos e mantenho minha casa a partir da arte reborn“, destaca a empreendedora.

O material bruto é adquirido a partir de artesãs especializadas e no ateliê é transformado em bebês hiper-realistas a partir de pintura, enraizamento de cabelo, montagem e acabamento minucioso. “Me dedico diariamente, aprendendo novas técnicas e investindo em novos produtos para parecerem ao máximo com um bebê humano, seja em corpos de corpo de vinil, tecido ou bebês de silicone sólido”.
Além de escultoras e artistas, o segmento movimenta um mercado expressivo de produtos. Muito mais que bonecas, a arte demanda o trabalho de profissionais, como costureiras que produzem e vendem roupas, produtores de tintas, cabelos e materiais de enxoval.
Com relação ao público, a artista nota que o perfil tem mudado ao longo dos anos, e, o que era feito exclusivamente para adultos colecionadores, começou a ganhar espaço entre crianças e pré-adolescentes. Segundo Aline Maia, mais de 90% do público são de pais que desejam adquirir os bebês hiper-realistas para presentar as filhas. “O desejo de toda menina de 6 a 12 anos é ter um bebê reborn“, completa.
Além disso, as peças também se destacam como um presente de valor afetivo e terapêutico. A pedido de alguns familiares, a artista idealiza bebês reborn por foto semelhança a partir de fotos da infância, com aparência e até roupas semelhantes. Outro pedido recorrente é a utilização como ferramenta de conforto emocional para idosos com Alzheimer e crianças autistas, estimulando o afeto, a memória afetiva e a sensação de acolhimento.
Com o crescimento da popularidade dos bebês reborn, vieram também os desafios, que segue prejudicando a percepção de parte do público sobre o produto. De acordo com a empreendedora, vídeos e conteúdos que circulam nas redes sociais – grande parte supostamente encenados – não refletem a realidade da maioria dos clientes. “O que está acontecendo hoje são pessoas que fazem vídeos para atrair engajamento. É tudo uma grande brincadeira, mas agora se tornou um assunto viral que acabou distorcendo o mercado, prejudicando nosso setor”, reforça.
Mesmo com os desafios, a artista considera que o setor é promissor e deve ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos. Em períodos de maior venda, como no último trimestre do ano – próximo a datas como Dia das Crianças e Natal – o lucro do ateliê já chegou a R$ 35 mil por mês, com pelo menos duas unidades mensais exportadas para outros países.
“Já cheguei a vender um bebê reborn para a Suíça por R$ 24 mil. É um mercado que vem crescendo, muito rentável, além de possibilitar que as mulheres trabalhem de casa, fiquem perto da família e se aproximem da arte”, conclui.

Presença digital eleva marca do Barreiro para o mundo
Apesar das distorções nas redes sociais, o assunto do momento em diferentes rodas de conversa também pode ser encarado como oportunidade de crescimento. Ao apostar no TikTok e Instagram como canais de venda e apresentação do produto, a empreendedora Karen Falcão quer atrair o público de Belo Horizonte para conhecer maternidade de bebês reborn, na região do Barreiro.
Junto com a mãe, a profissional desenvolveu a “Minha Infância” – loja de bonecas, que funciona há 15 anos com bebês hiper-realistas e propõe uma experiência completa para os clientes. “Minha mãe é uma artista reborn e trabalha há mais de 25 anos no mercado. Antigamente, tínhamos um pronto-socorro de bonecas, voltado para consertos e há alguns anos desenvolvemos a maternidade”.
Toda a arte a partir dos produtos semiacabados é feita pela mãe, que separou um espaço na casa para a idealização de uma pequena fábrica. A depender do pedido, a produção artesanal pode variar de 2 semanas a 2 meses, com 80% das vendas destinadas a crianças.
Com produção mensal de até 35 bebês reborn artesanais, o faturamento médio da empresa varia de R$ 30 mil a R$ 35 mil, com unidades diversas, que custam entre R$ 499 a 4,5 mil. Datas como o Natal, dobram as vendas, sendo 60% concretizadas na loja física e 40% de forma on-line, incluindo envios internacionais para países como Portugal, Alemanha e Estados Unidos.
O espaço físico, cercado de bebês reborn de diferentes aparências, tamanhos e materiais proporciona uma experiência única para crianças que desejam ir à maternidade escolher a boneca dos sonhos. “Apesar do nosso alcance ultrapassar o mercado de Belo Horizonte, nosso foco principal segue sendo a loja física.”
Além de empreendedora, Karen Falcão acumula cerca de 450 mil seguidores nas redes sociais – com conteúdos dedicados ao universo reborn para o público infantojuvenil. “Eu produzo um conteúdo que as crianças gostam. Esses vídeos que viralizaram, como parto de bebês reborn, fazem parte de uma brincadeira para crianças”, destaca.
Apesar dos bons resultados nas redes, o fato de ter alcançado novos públicos pode prejudicar na percepção da população sobre a arte reborn. “Vejo que algumas pessoas estão ridicularizando o produto e isso pode prejudicar”.








Outro desafio apontado – ainda mais preocupante para o setor – é o avanço de produtos industriais chineses no mercado nacional, que obrigou artistas e comércios artesanais a reduzirem a margem de lucro para manter a competitividade. Para Karen Falcão, a concorrência é desleal, já que o país asiático valoriza a produção em massa, com produtos descartáveis e fora da proposta da arte reborn.
Apesar disso, as empreendedoras consideram que a solução parte da conscientização do público sobre a arte reborn, além do engajamento entre os profissionais da cadeia produtiva. Assim como ocorrem encontros de colecionadores de carros, cartas e outras atividades, o mesmo acontece com o segmento de bebês reborn, que proporciona momentos de troca entre artistas e apreciadores, fortalece o sentimento de comunidade e valoriza o caráter artístico e afetivo dessas criações.
“Para o futuro, são altas as expectativas. No momento, estamos plantando conteúdos e interações para colhermos os frutos no final do ano”, finaliza a empreendedora.
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