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‘Crise do metanol’: vendas de bebidas enlatadas e artesanais de BH crescem

Produtores de bebidas artesanais de Belo Horizonte indicam que há um fortalecimento do setor diante da 'crise do metanol'
‘Crise do metanol’: vendas de bebidas enlatadas e artesanais de BH crescem

O alerta sobre intoxicações por metanol em bebidas destiladas provocou uma mudança no padrão de consumo em Belo Horizonte e no Brasil. Enquanto bares registram queda de até 40% na procura por drinks feitos na hora, as fabricantes de bebidas enlatadas e artesanais da capital mineira relatam alta nas vendas e buscam reforçar a confiança dos consumidores.

Segundo o sócio da Vanfall, Pedro Junqueira, a empresa registrou aumento expressivo no comércio eletrônico após o início dos casos. “Em seis dias, dentro do nosso e-commerce, faturamos 76% da média mensal. Se fizermos o proporcional, seria como se tivéssemos vendido 3,8 vezes a mais do que a média diária, um crescimento de 280%”, afirma.

Além da linha de drinks prontos, a Vanfall também registrou alta na venda de destilados próprios. “A venda dos drinks prontos veio acompanhada da venda de destilados, nosso gin e a nossa vodka – que é o maior peso dos pedidos. As pessoas estão procurando alternativas que não sejam os destilados mais populares, que não sejam fáceis de falsificar. Com isso, elas recorrem a produtos artesanais, o que dá uma maior garantia de que é, de fato, legítimo”, explica.

Junqueira atribui o aumento nas vendas também à estratégia da empresa voltada para transparência. “Mais do que dizer que o processo produtivo é fiscalizado, passamos a divulgar os laudos que comprovam a ausência de metanol. Isso gerou repercussão e aumento da procura pelos nossos produtos”, acrescenta Junqueira.

Bebidas da Vanfall Destilaria.
Foto: Divulgação Vanfall Destilaria

Setor de drinks enlatados se fortalece

A Lambe Lambe, marca de drinks prontos, também registrou crescimento nas vendas, principalmente em São Paulo. “Logo na primeira semana das confirmações de intoxicação, houve aumento imediato nas vendas nos pontos de venda. Em São Paulo, tivemos alta de 20%, e neste fim de semana, em Belo Horizonte, o aumento foi de 10%”, informa a sócia da Lambe Lambe, Kalinka Campos.

De acordo com ela, os distribuidores têm buscado reforço de estoque diante da mudança de comportamento dos consumidores. “Com o susto, os pontos de venda começaram a buscar bebidas seguras e com distribuição controlada. As bebidas enlatadas são uma alternativa porque não há casos de alteração nelas, já que as latas são invioláveis”, avalia.

Kalinka Campos também destaca que a adulteração por metanol não é economicamente viável nesse formato. “Para fazer a alteração, seria preciso violar as latas e perder produto, o que inviabiliza o lucro. Por isso, o risco é praticamente inexistente nesse tipo de embalagem”, completa.

Maior desconfiança, mas abertura para novos mercados

Drinks prontos com caldo de cana da marca Xá de Cana.
Foto: Xá de Cana / Divulgação

Na Xá de Cana, produtora de coquetéis prontos, o impacto foi inicialmente de retração em Belo Horizonte, mas com novas oportunidades em outros estados. “Percebemos uma queda no consumo na loja do Mercado Central e uma resistência à experimentação. Fizemos um trabalho de informação sobre o nosso processo produtivo e sobre as latas, que dificultam qualquer tipo de falsificação”, diz a proprietária Sthella Lima.

Segundo ela, o cenário começa a se inverter com o interesse de bares de outras regiões. “Fomos procurados por locais como Manaus e São Paulo, que têm buscado alternativas seguras. Ainda é cedo para apontar todas as causas, mas vemos um processo em formação”, avalia.

Queda na procura por drinks preparados em bares

O aumento nas vendas de bebidas enlatadas reforça a tendência observada desde o início da crise do metanol, quando bares e restaurantes da capital mineira relataram queda no consumo de drinks preparados com destilados, mas estabilidade no faturamento devido à substituição por produtos prontos e de origem rastreável.

A mudança de comportamento foi observada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Segundo o líder de conteúdo, inteligência e imprensa da entidade, José Eduardo Camargo, mesmo com a crise do metanol, em Belo Horizonte o cenário é de normalidade, com festas e bares lotados no fim de semana.

Camargo destacou que o principal efeito tem sido a mudança de comportamento de parte dos consumidores. “Algumas pessoas têm trocado os destilados por outras bebidas, mas de forma pontual. O consumidor está mais consciente e busca locais de confiança, que têm fornecedores certificados e critério na compra das bebidas”, completa.

Primeiro caso suspeito em Belo Horizonte

Uma mulher de 48 anos está internada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Belo Horizonte, com suspeita de intoxicação por metanol. A informação foi confirmada nesta terça-feira (7) pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).

Na segunda-feira (6), o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais (Cievs-Minas) foi notificado sobre dois casos suspeitos de intoxicação por metanol após a ingestão de bebidas alcoólicas: um em Belo Horizonte (citado acima), que está sendo investigado, e outro em Poços de Caldas, no Sul de Minas, que foi descartado.

O último balanço do Ministério da Saúde, divulgado na noite dessa segunda-feira, mostra que o Brasil já contabiliza 17 casos confirmados de intoxicação por metanol, e outras 200 ocorrências investigadas. A maior parte das notificações se concentra em São Paulo.

Até então, duas pessoas tiveram a morte confirmada por intoxicação por metanol, e outros 12 óbitos são investigados.

(Com informações de Juliana Baeta)

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