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Carnaval de Ouro Preto será prejudicado com rodovia bloqueada

Carnaval de Ouro Preto será prejudicado com rodovia bloqueada
Carnaval de Ouro Preto | Crédito: Ane Roue

DO rompimento da barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), no dia 25 de janeiro, continua causando prejuízos de toda ordem e até a quem está a muitos quilômetros de distância. Após a tragédia de responsabilidade da mineradora Vale, uma série de paralisações de atividades em barragens e evacuação de áreas mineradoras tem assustado a população de toda a região mineradora – que engloba a RMBH e a região Central do Estado – e afastado turistas.

Ouro Preto, na região Central, dona de um dos carnavais mais tradicionais de Minas Gerais, e que tem na festa um dos grandes momentos de geração de receita, é uma das vítimas. No dia 20 de fevereiro a Vale anunciou a retirada de 15 moradores de uma comunidade na zona rural do município, a 15 quilômetros do distrito de Engenheiro Correia. No mesmo dia, foi anunciada a retirada de moradores de comunidades situadas na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem a montante de Vargem Grande, que fica em Nova Lima (RMBH).

O problema em Nova Lima levou à interdição da BR 356, que liga a Capital às cidades históricas de Ouro Preto, Mariana e Itabirito, na sexta-feira, dia 22. Agora, a estrada funciona no esquema “Pare e Siga”, com interrupções de 10 minutos.

De acordo com o secretário municipal de Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto, Felipe Vecchia Guerra, o principal desafio da Prefeitura é informar e garantir aos turistas que a cidade é segura e está pronta para receber todos os foliões. A arrecadação estimada é de cerca de R$ 15 milhões, tendo um gasto mínimo. O Carnaval oficial é patrocinado pela cervejaria Ambev, por meio da marca Skol, que investiu R$ 2,5 milhões, maior volume já aplicado em Ouro Preto por uma patrocinadora no Carnaval.

“Esse ano o Carnaval é um dos nossos grandes eventos, junto com a Semana Santa e o Festival de Inverno. As notícias da mineração envolvendo o nome de Ouro Preto são muito sérias. As pessoas só veem o nome da cidade, é difícil entender que não há perigo para o Centro Histórico e nem para os distritos. Trabalhamos em parceria com os demais municípios do circuito, Secretaria de Cultura e Turismo do Estado e Ministério do Turismo. O Carnaval é uma época em que as imagens de Ouro Preto correm o mundo e não podemos deixar que informações incorretas afastem as pessoas daqui”, explica Guerra.

Em nota, a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo afirmou que está acompanhando de perto as ações da Defesa Civil e demais órgãos ligados à segurança de Minas Gerais, mais especificamente aquelas capazes de impactar diretamente as cidades de Ouro Preto, Mariana e Itabirito, como a interdição parcial da BR-356, realizada na semana passada.

“A interdição parcial da BR-356 nos causou grande preocupação, pois sabemos que essas cidades dependem visceralmente de suas atividades culturais e de turismo. O Carnaval é fundamental para esses municípios e tem relevância nacional. A diminuição de turistas traria um impacto econômico e social muito grande para a região”, afirma o secretário de Estado de Cultura e Turismo, Marcelo Matte.

“Felizmente a Defesa Civil informou que não há nenhum risco de um possível rompimento de barragem atingir as áreas urbanas das cidades. Turistas e moradores podem curtir a festa em segurança, pois não há riscos. É necessário apenas estarem atentos às mudanças no trânsito na BR-356 e se planejarem para sair de casa com a antecedência necessária”, ressalta Matte.

Programação – O “Carnaval Patrimônio” pretende resgatar e homenagear os antigos desfiles dos blocos caricatos e escolas de samba da cidade de Ouro Preto. Além disso, o evento promete mostrar com muita leveza e diversão a história do carnaval ouro-pretano com várias apresentações teatrais e musicais, em meio ao maior conjunto homogêneo de arquitetura barroca do Brasil. Ao todo, serão quatro palcos na sede (Praça Tiradentes, Largo do Cinema, Largo da Alegria e Praça Orlando Trópia), e outros 11 pontos de folia espalhados pelos distritos. O evento terá 64 apresentações musicais, além de 84 apresentações de Djs.

O tema deste ano – “Damas do Samba” – foi projetado para enaltecer as mulheres que contribuíram e contribuem significativamente para a difusão da cultura no município, bem como valorizar todos os artistas locais e regionais que tanto fortalecem o patrimônio cultural e histórico de Ouro Preto.

“Muitos hotéis e repúblicas estão recebendo ligações de pessoas preocupadas com o acesso à cidade e os riscos por causa das barragens. Tivemos, claro, alguns cancelamentos. Por isso nos mobilizamos imediatamente para garantir um fluxo de informações corretas e completas. Todo a cadeia produtiva está envolvida nesse esforço.

Precisamos agir rapidamente não só pela proximidade do Carnaval, mas porque aprendemos como o ocorrido em Mariana (vítima do rompimento da barragem de Fundão em 2015, de responsabilidade das mineradoras Samarco/Vale/BHP). Até hoje, Mariana perde turistas que não compreenderam que o Centro Histórico não foi afetado”, pontua o secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto.

Se Ouro Preto é a principal estrela do Circuito Turístico do Ouro (CTO) – composto também por Barão de Cocais, Caeté, Catas Altas, Congonhas, Itabira, Itabirito, Mariana, Nova Era, Nova Lima, Ouro Branco, Raposos, Rio Acima, Sabará e Santa Bárbara -, as outras cidades não deixam de ter festas importantes e sofrer com a insegurança gerada.

Nos dias 25, 27 e 28, a mineradora AngloGold Ashanti programou uma série de testes de seu sistema de sirenes de emergência de barragem Córrego do Sítio II, em Santa Bárbara, também na região Central. “A ação seria realizada, originalmente, entre os dias 28 de janeiro e 1° de fevereiro, mas foi adiada, em respeito aos moradores para que o teste não fosse confundido com uma situação real, por causa do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho. O objetivo dos testes é avaliar o funcionamento do equipamento, parte do Plano de Ação Emergencial de Barragens de Mineração (PAEBM) da empresa. Trata-se de uma exigência legal para todas as empresas de mineração que possuem barragens. Assim, os moradores podem manter suas atividades normais durante o acionamento do alarme, sem necessidade de se deslocar do local em que estiverem”, diz a nota divulgada pela empresa.

Para a diretora-executiva do CTO, Isabella Ricci, já no planejamento do Carnaval as cidades tiveram um comportamento diferente este ano, com uma tentativa de diminuição de custos. Ouro Preto conseguiu um bom patrocínio, que cobriu os textos. Sabará também conseguiu economizar com uma mudança de lugar, que permitiu uma estrutura menor, economizando R$ 600 mil.

“Nem todas as cidades do Circuito têm um carnaval que atraia turistas, mas as que têm estão com a festa garantida. Ouro Preto tem expectativa de 50 mil visitantes. Claro que a questão das mineradoras atrapalhou bastante, especialmente para quem usa a BR-356 como acesso. A ocupação até agora está em 75% e a expectativa é que chegasse a 90%”, destaca Isabella Ricci.

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