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Entrevista: Brasil é fundamental para os resultados da Concha y Toro

Confira a entrevista com o enólogo e CEO da Don Melchor, Enrique Tirado
Entrevista: Brasil é fundamental para os resultados da Concha y Toro
Crédito: Reprodução

Ela foi criada em 1883, a partir do sonho do fundador Melchor Concha y Toro de produzir os melhores vinhos. A Concha y Toro, situada na prestigiosa e belíssima zona vitivinícola do Vale de Maipo, a uma hora de Santiago, no Chile, é hoje uma das marcas de vinhos mais admiradas do mundo, presente em mais de 130 países, tendo o Brasil entre os seus três principais mercados.

Marcas como Casillero del Diablo, Marques de Casa Concha e Don Melchor conquistaram espaço por sua excelente qualidade e mantêm uma posição de liderança no competitivo mundo do vinho.

E foi para lançar a 35ª safra da Don Melchor que o enólogo e CEO da Don Melchor, Enrique Tirado, esteve no Brasil. Aproveitando sua passagem por Belo Horizonte, ele recebeu com exclusividade o Diário do Comércio para uma conversa sobre a cultura dos vinhos, o crescente e cada vez mais sofisticado mercado brasileiro, mudanças climáticas e planos para o Brasil.

Você está no Brasil para o lançamento da 35ª safra da Don Melchor. Já passou por São Paulo e agora está em Belo Horizonte. Qual a importância de falar da Don Melchor para os brasileiros e, especialmente, para os mineiros?

Don Melchor é o nosso vinho ícone e é uma marca muito querida no Brasil. Estamos lançando a safra 2021. E ela reflete fielmente sua origem, Puente Alto, e o trabalho rigoroso por trás do vinho. Existe uma tarefa pesada para compreender cada detalhe do terroir e obter sua melhor expressão. Vir ao Brasil é fundamental, pois o País está entre os nossos três principais mercados e, dentro do Brasil, Minas Gerais só fica atrás de São Paulo. Existe uma proximidade, uma relação de afeto especial dos brasileiros por Don Melchor. Por isso a divulgação começa pelo Brasil.

Temos em Minas a rede Super Nosso como um parceiro muito especial, que faz um grande trabalho não só de divulgação da marca, mas de formação de público, imprescindível. Venho, normalmente, duas vezes por ano ao Brasil e Minas Gerais não pode ficar fora do roteiro.

Don Melchor é um vinho, como você disse, ícone. O que faz dele tão especial?

O vinhedo Don Melchor está localizado na aclamada denominação de Puente Alto, localizada no sopé da cordilheira dos Andes, a 650 metros de altitude. Essa é uma região com condições muito especiais para criar um terroir único e equilibrado. Além disso, adotamos a técnica de parcelamento do vinhedo. Os 127 hectares do vinhedo são divididos em 150 parcelas que têm as suas características cuidadosamente estudadas para que possamos formar o melhor blend. O vinhedo é formado em 90% pela variedade Cabernet Sauvignon, 7,1% de Cabernet Franc, 1,9% de Merlot e 1% de Petit Verdot. Atualmente, o vinhedo antigo, que corresponde a 72% das parcelas, atinge uma média de mais de 35 anos de antiguidade.

A safra 2021 do Don Melchor é composta por 93% de Cabernet Sauvignon, 4% de Cabernet Franc e 3% de Merlot, e estagiou 15 meses em barricas de carvalho francês, das quais 68% eram novas e 32%, de segundo uso. O resultado é um vinho de grande complexidade aromática, com frutas vermelhas e frutas silvestres pequenas, combinadas com notas florais de violeta, além de uma grande amplitude e textura aveludada.

Historicamente o Brasil não tem uma grande tradição como consumidor ou conhecedor de vinhos, mas o mercado vem crescendo muito nos últimos anos. A Concha y Toro tem um trabalho importante de divulgação da cultura dos vinhos no Brasil. Como você vê essa “educação” do brasileiro para o mundo dos vinhos?

Hoje estamos celebrando especialmente o Don Melchor, mas a Conha y Toro está no Brasil há mais de 30 anos. Hoje os brasileiros já fazem parte desse mundo e cada vez mais consomem e entendem sobre vinhos. Existe um grande interesse. Na vinícola recebemos visitantes e mais de 90% deles são brasileiros. Isso faz com que tenhamos no Brasil o nosso primeiro e-commerce voltado para o público final. A plataforma – chamada Clube Don Melchor – é um clube de experiências de Don Melchor, além da venda de safras icônicas em tamanhos diferenciados e todo o lifestyle que envolve a arte como degustar o vinho.

O terroir de um vinho depende essencialmente das condições de solo e clima do lugar, trabalhados por uma equipe especializada e extremamente qualificada. Mas o mundo enfrenta as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos. Como a Don Melchor está se preparando para lidar com essa realidade tão incerta quanto perigosa?

Temos uma grande vantagem que é a própria Cordilheira dos Andes, que protege o vinhedo. É impressionante como isso acontece, mas precisamos ir além. Há muitos anos nos dedicamos a conhecer mais o solo, mais sobre manejo do vinhedo e, para isso, criamos um vinhedo experimental, em 2018, chamado Vinhedo Solar. Esse local tem as fileiras plantadas em 60 diferentes orientações em relação ao sol, temperaturas, precipitações e irradiações solares. Estamos colhendo uma grande quantidade de dados como temperatura, radiação, quantidade de água, açúcar, fenóis, taninos que nos permite estar mais preparados para tomar decisões para o futuro. Podemos pensar no futuro em termos da plantação e – mais importante – o manejo do vinhedo atual frente às condições mais extremas. E mais, temos o Centro de Pesquisa e Inovação Concha y Toro, onde fazemos pesquisas de ponta para ter todos os dados que nos permitam tomar as melhores decisões em temas relativos às mudanças climáticas.

Fazer vinho é conhecer a natureza, dominar técnicas e reverenciar uma cultura. Como a pandemia impactou essa produção?

Claro que houve um grande impacto, mas serviu para nos mostrar que temos que estar sempre vigilantes e estudando. A digitalização fez com que nos comunicássemos melhor e com mais pessoas. A automação e adoção de outras tecnologias vieram para somar, mas a arte de fazer vinhos continua humana e continua sendo arte.

A produção de vinhos finos no Brasil e em Minas Gerais vem aumentando e já conquistando prêmios. Você conhece a nossa produção e qual sua avaliação a respeito?

Temos recebido ótimas notícias do Brasil, mas confesso que não conheço o suficiente para dar um parecer. O clima quente do País é um dificultador importante, mas vocês têm desenvolvido técnicas para contornar essa característica. Posso dizer que já experimentei espumantes brasileiros ótimos e eu torço para que vocês se desenvolvam também como produtores. Quanto mais diverso for o mercado do vinho no mundo, melhor para todos.

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