“Brasil precisa de segurança energética”

Os desafios e tendências no setor de energia foram o destaque da edição do Diálogos DC, que aconteceu na última sexta-feira e foi transmitido on-line pelo site do DIÁRIO DO COMÉRCIO.
A crise energética, as mudanças climáticas e as oportunidades no setor de energias renováveis se mostraram parte de um mesmo pacote de temas que, se hoje impõe restrições ao desenvolvimento das pessoas e do País, pode ser convertido em soluções que trarão desenvolvimento local e melhores condições de vida e negócios para todo o planeta.
O evento é parte de uma série de debates em fomento ao Movimento Minas 2032 – pela transformação global (MM 2032). Capitaneado pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, o MM 2032 tem como objetivo criar uma comunidade de desenvolvimento para a construção conjunta de reflexões e ações efetivas para promover a consolidação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015.
Para a gerente de energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Tânia Santos, o Brasil está em uma posição confortável diante das médias mundiais no que diz respeito às emissões de gases de efeito estufa (GEE) realizadas pelo setor de energia. Isso, porém, não pode deixar o setor passivo diante da necessidade que o mundo tem de reduzir essas emissões e mitigar os prejuízos causados pelas mudanças climáticas.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
O trabalho desenvolvido pela Fiemg de mobilização e qualificação da indústria mineira, segundo ela, atua diretamente sobre cinco dos 17 ODS:
ODS 7: Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos.
ODS 11: Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
ODS 12: Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis.
ODS 13:Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.
“No mundo, um quinto das pessoas não tem acesso à energia elétrica. No Brasil temos a universalização do atendimento e 99% da população tem acesso. Esse é um número que muito nos orgulha, mas temos que seguir construindo uma infraestrutura que garanta a distribuição; linhas de crédito que fomentem o desenvolvimento de matrizes renováveis; um preço justo, que as pessoas e empresas consigam pagar assegurando um padrão de consumo sustentável. Tudo isso tem a ver com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na medida em que buscamos fontes limpas e renováveis. Em Minas temos uma situação e oportunidades ainda melhores. 17% da produção de energia fotovoltaica nacional acontece no Estado e os investimentos continuam. A Fiemg apoia todos os projetos de energia renovável para que não sejamos apenas exportadores de commodities. Fazemos campanhas do uso consciente de energia e água e tentando sempre atrair os investidores para construir suas estruturas em Minas”, explicou Tânia Santos.

De acordo com o gerente de sustentabilidade da Cemig, Adiéliton Galvão de Freitas, o enfrentamento às mudanças climáticas devem ser feitas sobre dois pilares: a mitigação dos efeitos com a redução das emissões dos GEE, o que passa pela produção de energia de fontes renováveis e redução do consumo com foco em eficiência energética; e o pilar da adaptação aos efeitos da mudança climática construindo estruturas mais resilientes.
“No mundo, 25% das emissões vêm do setor elétrico, então precisamos participar das soluções. O Brasil está em uma situação melhor que a média mundial. Temos como diferencial o etanol que precisamos explorar melhor. Os consumidores têm, cada vez mais, verificado a fonte de energia das empresas. A Cemig oferece energia renovável e emite um certificado pelas empresas. É crescente a instalação de placas fotovoltaicas nos telhados. É uma medida focada na solução financeira individual, mas tem um impacto global. É cada vez mais importante conectar as nossas ações. Quando uso energia de geração distribuída ou transporte coletivo, por exemplo, me conecto com a busca pelo combate às mudanças climáticas”, destacou Freitas.
O terceiro participante foi o engenheiro eletricista, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Alexandre Bueno. Para ele, as mudanças climáticas, que alteram os ciclos de chuvas e secas e provocam eventos extremos, trazem para o setor uma preocupação específica sobre os reservatórios, sejam eles represas, baterias, reservatórios fósseis ou usinas nucleares, por exemplo.
“Precisamos de segurança energética, isso quer dizer garantia de suprimento e preços estáveis. Isso é proporcionado por reservatórios gerenciáveis. Por isso não podemos ter um único modelo de geração. Não existe uma solução única ou correta. A melhor é a combinação de modelos. E também não existe solução livre de impacto ambiental. Eficiência energética é uma premência e existe uma série de possibilidades a serem exploradas principalmente nas indústrias”, afirmou Bueno
Novos participantes
Na segunda parte do evento foram apresentados os novos participantes do MM 2032: Rede Cidadã e a equipe técnica do Conselho de Desenvolvimento Regional e Local da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e do Projeto Rede Horizontes.
O fundador da Rede Cidadã, Fernando Alves, apresentou o trabalho de inclusão social da população em situação de rua pelo trabalho, realizado na cidade de São Paulo pela organização, a partir de 2017.
Para ele, a máxima que diz que “as pessoas são admitidas por suas habilidades técnicas e demitidas pelas comportamentais” está correta e, por isso, inclusive as pessoas em vulnerabilidade social, precisam muito mais de uma educação sócio-emocional do que uma formação técnica, embora, claro, essa última continue agregando valor.
Atualmente a Rede Cidadã, que é uma organização não-governamental mineira, atua em sete estados e deve fechar o ano presente em 103 cidades. Em 19 anos já foram formados 100 mil jovens.
“O maior problema da base da pirâmide para se manter no trabalho são problemas socioemocionais, questões de aprendizado social vinculado ao emocional. Percebemos que, após a formação técnica, poucos permaneciam empregados. Após três meses, apenas 1%. Três aspectos são fundamentais para que a pessoa se mantenha empregada: acolhimento, ninguém fica empregado se não tiver um endereço para onde possa voltar, dormir, tomar um banho. Depois o treinamento, mas muito mais que um treinamento técnico formal, um treinamento para a convivência no mundo corporativo. E, por fim, o RH compartilhado. Assim como os candidatos, as empresas, o seu RH e suas lideranças, também precisam ser treinadas e acompanhadas”, explicou Alves.
Naquela época, a cidade de São Paulo tinha cerca de 20 mil pessoas em situação de rua. A Rede Cidadã trabalhou com 5 mil e 50% delas foram empregadas no final do processo. 110 empresas apoiaram o projeto.
Em Belo Horizonte
Convidado, o subsecretário de Trabalho e Emprego da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Luiz Otávio Fonseca, apresentou o programa “Estamos Juntos”, da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). O projeto tem como objetivo fomentar e garantir a inclusão produtiva da população em situação ou com trajetória de vida nas ruas no âmbito do município. Criado em janeiro de 2019, suas ações vão desde o favorecimento da promoção de autonomia econômica, por meio da qualificação socioprofissional e da inserção no mercado de trabalho, ao incentivo ao empreendedorismo e à economia popular solidária.
O principal eixo do programa é a captação de vagas no mercado formal de trabalho. Ele funciona a partir do oferecimento de vagas de emprego ou de qualificação profissional por parte das empresas e a Prefeitura, por meio do Sine, encaminhando as pessoas para entrevista e contratação.
Como incentivo à participação, as empresas que aderirem ao programa “Estamos Juntos” e recebem o selo de responsabilidade social, têm a possibilidade de acessar condições especiais de negociação de dívidas com a Prefeitura, como é o caso daquelas que estão na dívida ativa.
“Temos ampliado nossa capacidade de atendimento a esse público e em breve vamos lançar, em parceria com a Ocemg, a primeira cooperativa de pessoas em situação de rua do Brasil, com o apoio da Pastoral de Rua”, anunciou Fonseca.
Ouça a rádio de Minas