Brasileiro sonha em ter o próprio negócio

Independência financeira, gestão do próprio tempo, mudar o mundo ou, em boa parte das vezes, simplesmente sobreviver fazem com que 60% dos adultos brasileiros empreendam ou, ao menos, sonhem em empreender.
A estatística é um dos dados revelados pelo relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, realizado pelo Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).
O estudo mostra que apesar do empreendedorismo por necessidade ter caído nos dois últimos anos, a principal motivação para se abrir uma empresa continua sendo a escassez de empregos: 82% dos entrevistados indicaram como esse sendo o motivo. Em 2021, eram 77%. Empreender para fazer a diferença no mundo foi respondido por 75%, construir riqueza por 64% e continuar uma tradição familiar por 44%.
A pesquisa GEM também detectou que 67% da população brasileira adulta está envolvida com empreendedorismo, seja porque já tem um negócio, está fazendo algo para ter ou deseja começar a empreender nos próximos três anos.
Em números absolutos, são 93 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos, sendo 42 milhões para empreendedores e os outros 51 milhões para potenciais empreendedores. Por empreendedores entende-se aqueles que já tinham um negócio, formal ou informal, e/ou que fizeram alguma ação, em 2022, visando ter um negócio no futuro. Já os potenciais empreendedores são a estimativa do número de pessoas adultas (com 18 a 64 anos) que não têm empreendimento, mas que gostaria de ter um em até três anos.
Em relação aos potenciais empreendedores, a taxa no ano passado repetiu o recorde de 2021 com 53% da população. Em 2017, essa proporção era de 15,3% da população.
Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, os números são positivos e revelam não só o espírito empreendedor do brasileiro, mas também como isso pode ser um fator de dinamização da economia nacional.
“Temos um número extraordinário que mostra o sentimento do povo brasileiro que é empreendedor. Nem todos os países têm esse fator de renovação da economia. Os micro e pequenos negócios são responsáveis por cerca de 85% das vagas de emprego no Brasil, então quando o índice de empreendedorismo por necessidade cai, quer dizer que as pessoas estão mais bem preparadas. Isso é um fato muito positivo”, explica Lima.
Baixa formalização
De outro lado, a informalidade é um fator que preocupa a entidade. Dos 42 milhões que já empreendem, a metade não está organizada dentro do sistema de micro e pequeno empreendedor e também não são microempreendedores individuais (MEI). Um dos maiores entraves à formalização e à própria sobrevivência dos negócios é a dificuldade em conseguir crédito.
“Esses empreendedores são sobreviventes dentro do mercado, mas ainda não estão constituídos dentro da legalidade. Isso mostra o tamanho do trabalho que temos em orientar e capacitar essas pessoas, ajudando-as a chegar à formalização. E a eles somam-se mais os 51 milhões que querem empreender. Um ponto crucial é a dificuldade com o crédito. Há um grave problema que é a Selic. Ela impede o crédito seguro para quem quer empreender. No atual momento o Banco Central age contra o setor produtivo, barrando o microcrédito”, pontua.
A taxa básica de juros (Selic) vem aumentando desde abril de 2021, saindo de 13,25% para 13,75%. A última vez que a Selic atingiu esse patamar foi em dezembro de 2016.
A qualidade do empreendedorismo brasileiro apresentou uma melhora no último ano, segundo a pesquisa GEM. A taxa de empreendedorismo dos negócios estabelecidos, aqueles que possuem mais de 3,5 anos de existência, teve um ligeiro incremento de 0,5%, passando de 9,9% em 2021 para 10,4%, no ano passado.
Essa taxa manteve o Brasil na sétima posição, especificamente quanto à taxa de Empreendedores Estabelecidos, em relação aos outros países que participaram da pesquisa GEM. Na frente estão Coreia do Sul, Togo, Grécia, Letônia, Guatemala e Irã.
“Esse resultado demonstra um arrefecimento na crise, uma retomada da economia e uma melhoria na gestão dos negócios. Em 2020, a taxa sofreu uma grande queda devido à pandemia e caiu de 16,2%, em 2019, para 8,7% e desde o ano retrasado já demonstra sinais de recuperação”, afirma o presidente do Sebrae.
Mesmo com esse incremento, a taxa geral apresentou uma leve queda de 0,1 ponto percentual e atingiu o menor nível nos últimos 10 anos, ficando em 30,3%. A taxa geral de empreendedorismo é a soma dos empreendedores iniciais e dos estabelecidos. O resultado é explicado pela redução na taxa de empreendedores iniciais, que caiu de 21%, em 2021, para 20%, em 2022. Menos pessoas iniciaram um negócio novo e uma parte migrou para a posição de estabelecidos.
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