Buffets infantis se unem em prol da própria sobrevivência

Com as atividades suspensas desde 18 de março, os buffets de festas infantis de Belo Horizonte estão se unindo em prol da sobrevivência do setor em meio à crise do novo coronavírus (Covid-19) no País.
Um grupo com mais de 250 empresas foi criado visando elaborar reivindicações e estratégias conjuntas para o período pós-pandemia. Os empresários sugerem que os estabelecimentos voltem a funcionar junto com as escolas, por atender o mesmo público: infantil.
Representante do Buffet Ponciano, Camila Ponciano Lima, integrante do grupo, disse que uma das reivindicações das empresas é a criação de uma categoria específica, de forma que possam se guiar quanto aos decretos que estabelecem ou flexibilizam medidas de distanciamento social a partir da autorização de funcionamento dos estabelecimentos.
“No ramo de festas trabalhamos com diferentes segmentos, que muitas vezes sãos confundidos com casas de shows e de grandes eventos. A cadeia é muito extensa, com espaços físicos de diferentes tamanhos e serviços, mas as casas de festas infantis têm funcionamento específico. Os decretos liberados proíbem casa de shows e boates e nós não somos isso”, argumentou.
Somente no Buffet Ponciano, ela diz que, hoje, a demanda é por serviço delivery direto ou por aplicativo, e pequenos kits de festa (para até cinco pessoas), além de eventos para datas especiais, como Dia das Mães e Namorados. Com isso, o faturamento caiu cerca de 80% em relação a épocas normais. Mas as expectativas quanto ao restante do ano ainda são positivas.
“Acreditamos que o ano não acabou. Será difícil, não sabemos por quanto tempo a pandemia vai durar, muito menos como a sociedade vai se portar. Porém, confiamos que é possível reaver o mercado de forma gradual e, por mais que o lucro não venha, nesse ano, queremos manter a empresa em funcionamento e arcar com despesas anteriormente geradas”, explicou.

O Buffet Marshmallow, localizado na região Oeste, precisou suspender os contratos de trabalho dos funcionários | Crédito: Divulgação
Da mesma maneira, a sócia-proprietária do Buffet Marshmallow (região Oeste), Alessandra Metzger, disse que o faturamento caiu 100%. Apesar disso, segundo ela, ainda não é possível prever o desempenho no acumulado de 2020. “Tudo pode mudar a cada dia, principalmente de forma positiva”, disse.
Mas, enquanto as atividades não podem ser retomadas, a empresária afirma que está usando o tempo para fazer melhorias e revitalizações no espaço. Ao mesmo tempo, foi necessário suspender os contratos de trabalho dos funcionários, uma vez que o número de festas por mês era variável, mas chegava a 16 eventos em 30 dias.
Na Festô Organização de Festas e Eventos, o faturamento também foi zerado, conforme a proprietária, Ana Beatriz de Pinho Barroso. Para tentar amenizar os impactos, a empresa está voltando as ações para as redes sociais, com a proposta de realizar festas nas casas e empresas dos clientes.
“Apoiamos o pedido de que as pessoas fiquem em casa. Por isso, sugerimos que façam festas pequenas apenas para a família, com delivery, para mostrar a importância de celebrar, com coisas simples e saborosas, feitas com muito amor”, justificou.
A empresária não considera o ano como perdido e defende que este é um momento para rever conceitos e encontrar novas oportunidades. “Ainda não acho seguro voltarmos a funcionar, por isso estamos oferecendo apenas as miniconfraternizações, mantendo a alegria e a segurança de todos. A saúde é nosso bem maior e precisamos preservá-la”, defendeu.
Renegociação – A diretora do Grupo Festejar, que inclui quatro buffets infantis (Faz de Conta, Be Happy, Parabéns e Home Fest), Luciana Santos, disse que com a suspensão dos alvarás de funcionamento das casas de festas, além do faturamento ter zerado, as empresas ainda estão tendo que negociar contratos com devolução de quantias ou concedendo cortesias para adiar os eventos.
Mas ressaltou que a expectativa é de que o setor possa voltar a realizar festas no segundo semestre. “Não somos empresas de grandes eventos, trabalhamos no segmento infantil. Acredito e acho justo que possamos voltar junto com as escolas. Voltaremos seguindo todas as orientações de segurança dos órgãos competentes e já estamos planejando a adoção de medidas seguras para nossa tranquilidade e dos clientes”, ressaltou.
De toda maneira, ela argumentou que em termos de faturamento o ano será fortemente impactado, mas ponderou que quem trabalhou se preparando para uma crise pode se recuperar. “Teremos que criar outras estratégias de atendimento”, ponderou. Neste sentido, até o momento, as empresas do grupo já recorreram aos incentivos do governo, negociaram aluguéis e estão solicitando aos clientes que remarquem as festas e não as cancelem.
O grupo realizava uma média de 70 festas por mês e, com o decreto municipal proibindo o funcionamento do setor, dos 80 funcionários diretos e indiretos, 70 já foram dispensados.
Mas, pensando na hipótese de voltar a funcionar juntamente com as escolas, o grupo já estuda investimentos para além dos exigidos pelas autoridades de saúde, como a instalação de túneis de desinfecção em todas as casas da rede.
Já o Buffet Carrossel, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, está realizando festas pocket, com entregas em casa, como forma de manter alguma atividade. No entanto, conforme a proprietária, Ana Carolina Moura Ataíde, isso não é suficiente para cobrir as despesas fixas do negócio. “Nosso lucro não vem de doces e comidas, e sim do entretenimento que oferecemos para os convidados”, justificou.
Ana Carolina Ataíde afirmou que costumava realizar 22 festas por mês e que não tem expectativa para que as coisas melhorem ainda este ano. Ela ressaltou também que, embora esteja otimista para 2021, os prejuízos causados em 2020 somente serão recuperados a longo prazo, “em dois anos talvez”.
Gastronomia – Já o Buffet Divertido, na região Noroeste, lançou um cardápio de massas artesanais congeladas e está entregando em domicílio. De acordo com a proprietária Carla Rivadavia, a estratégia é adaptar às demandas a nova realidade. “Se não temos os eventos, estamos usando a nossa estrutura para as pequenas entregas de congelados”, disse.
Com isso, o faturamento da empresa caiu 50% e a empresária espera recuperar parte do desempenho no segundo semestre. Porém, ela admite que o setor dos eventos deverá ser o último a voltar. “Acho que tem que ser uma volta gradual e tenho consciência de que não vai começar pelas festas. Antes disso, o comércio tem que ser aquecido e a economia tem que girar”, frisou.
Fornecedores – O mesmo problema já atinge também os fornecedores do setor. A Fast Festas, fabricante de painéis para festas e eventos, registrou queda de 95% no faturamento desde a publicação do decreto que proibiu a realização de eventos em Belo Horizonte.
De acordo com o sócio-proprietário, Denilson Lourenço do Carmo, desde então, a empresa passou a fabricar máscaras de proteção, como forma de amenizar as perdas e também contribuir de alguma maneira no controle da contaminação pelo novo coronavírus (Covid-19). “Mas isso não é suficiente para elevar as receitas e equilibrar os negócios”.
Segundo ele, antes da paralisação, a empresa atendia cerca de 150 pedidos simultaneamente e hoje conta com 10 em carteira, vindos principalmente de cidades do interior que já flexibilizaram as medidas de distanciamento social.
“Não deixa de ser uma luz no fim do túnel. Acreditamos que vai ser muito mais complicado daqui para frente para quem trabalha com eventos, porque as restrições serão maiores. Mas espero que não seja a ser um ano perdido”, finalizou.
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