Burnon: quando a alta performance vira autodestruição

No ritmo frenético do mundo corporativo atual, a exaustão tornou-se uma companheira invisível, muitas vezes mascarada pela dedicação excessiva. Enquanto o burnout, o colapso físico e mental causado por esgotamento extremo, já é uma realidade dolorosa para milhões de trabalhadores em todo o mundo, um estágio anterior e perigosamente silencioso tem sido negligenciado: o burnon. Essa armadilha se instala quando o profissional, mesmo sem energia, prazer ou sentido no que faz, continua a produzir incessantemente.
Segundo a Pesquisa Internacional de Saúde e Bem-Estar no Trabalho, conduzida pela consultoria Aon, 86% dos líderes acreditam que o bem-estar mental é o principal fator de risco capaz de impactar a produtividade, sinalizando a urgência de olhar para as raízes do problema antes que ele se manifeste em sua forma mais grave.
É nesse contexto que Renata Livramento, psicóloga, doutora em Administração e especialista em gestão de saúde corporativa, emite um alerta crucial.
“O que o mercado tem chamado de burnon é o estágio inicial do burnout, ou seja, o estresse crônico. A pessoa se sente como um robô, seguindo comandos, mas sem a ‘alma’ naquilo que faz. Essa desconexão é perigosa porque retarda a busca por ajuda, já que a performance ainda está lá”, explica.
Essa é a grande diferença – e o perigo – do burnon em relação ao burnout. Enquanto o burnout é a manifestação final e aguda do esgotamento, o burnon é o estágio inicial, silencioso e progressivo.
“É como uma dor crônica com a qual você se acostuma. Você não para de andar, mas, a cada passo, a dor está lá, silenciosamente corroendo. Quando essa dor se torna insuportável, o burnout se instala, levando a um colapso físico e mental”, afirma a especialista.

Ela também destaca a importância de empresas e profissionais estarem atentos aos sinais do burnon, como a perda de prazer em atividades antes motivadoras, a sensação de vazio ao final do dia e a ausência de propósito claro no trabalho.
“Não basta focar em prevenir o burnout; é fundamental reconhecer e tratar as causas do burnon. É um trabalho que exige uma cultura de cuidado, na qual a saúde mental e o bem-estar sejam prioridade, e não apenas tema de palestra anual”, enfatiza.
Para combater o burnon, Renata Livramento sugere a implementação de ações como:
Promover o diálogo aberto: incentivar conversas honestas sobre desafios e dificuldades, sem medo de julgamento.
Reconectar com o propósito: ajudar os colaboradores a redescobrir o sentido em suas atividades ou a encontrar novos caminhos dentro da empresa.
Respeitar limites: estabelecer e respeitar limites de carga horária e demanda, incentivando o descanso e o tempo de desconexão.
“O burnon é um sinal de alerta que não podemos ignorar. Reconhecê-lo é o primeiro passo para resgatar a saúde, a energia e o prazer de trabalhar. É hora de repensar nosso modelo de produtividade e valorizar o bem-estar como o verdadeiro motor da inovação e do sucesso”, conclui.
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