Burnout avança e pressiona empresas a reverem gestão

O burnout, classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como fenômeno ocupacional resultante do estresse crônico no trabalho não gerenciado, é caracterizado por exaustão emocional, distanciamento mental e queda de eficácia profissional.
No Brasil, a gravidade do problema é evidente: em 2023, o INSS concedeu 288.865 benefícios por incapacidade relacionados a transtornos mentais e comportamentais, um aumento de 38% em relação a 2022.
A combinação entre pressão por resultados, metas inalcançáveis e escassez de tempo para recuperação tem elevado os índices de adoecimento e afastamento no País, reforçando que falar de saúde mental nas empresas não pode ser ação isolada ou restrita ao calendário de campanhas, mas estratégia contínua de gestão e cultura organizacional.
“Prevenir burnout não é oferecer apenas um benefício ou uma palestra, é transformar saúde mental em prioridade de gestão. Isso significa repensar processos, metas e a forma como as equipes trabalham diariamente”, destaca Alessandra Kinjo, psicóloga da Vetor Editora, empresa especializada em saúde mental, parte do grupo Giunti Psychometrics.
Nesse contexto, a psicóloga aponta cinco estratégias fundamentais para a prevenção do burnout nas empresas:
Redesenhar o trabalho e reduzir sobrecarga
Para isso, é essencial mapear cargas de trabalho com clareza e priorizar entregas realmente estratégicas. Além disso, adotar modelos de gestão que considerem a sustentabilidade do desempenho a longo prazo, e não apenas a produtividade imediata, ajuda a evitar a exaustão.
Capacitar líderes como agentes de prevenção
Isso significa treiná-los para identificar sinais de estresse, promover diálogos empáticos e agir preventivamente quando perceberem sobrecarga. Também é importante evitar que a pressão sofrida pelas lideranças se multiplique em efeito cascata sobre suas equipes.
Equilibrar vida profissional e pessoal de forma real
Isso passa por estabelecer políticas de desconexão fora do expediente, com limites claros de disponibilidade, oferecendo maior flexibilidade de jornada e de modelo de trabalho. Quando possível, devem-se respeitar preferências individuais e incentivar pausas, intervalos efetivos e programas que estimulem o autocuidado.
Oferecer apoio especializado e acessível
Isso pode ser feito por meio de atendimentos psicológicos, programas de assistência ao colaborador (EAP) e workshops baseados em evidências científicas. Tratar a saúde mental como questão de saúde ocupacional, reconhecendo seu impacto direto em afastamentos e produtividade, deve ser prioridade. Além disso, os recursos disponibilizados precisam ser de fácil acesso, sem burocracia e livres de estigmas.
Utilizar ferramentas validadas cientificamente
O diagnóstico e o acompanhamento da saúde mental nas organizações devem ser embasados em métodos confiáveis. O uso de ferramentas psicológicas validadas cientificamente permite às empresas compreender, de forma estruturada, os níveis de bem-estar emocional e cognitivo de seus colaboradores. Além de apoiar decisões estratégicas de gestão, esses instrumentos podem ser aplicados como parte da implementação da NR-1, contribuindo para o mapeamento de riscos psicossociais e para a criação de planos preventivos eficazes.
Implementação da NR-1
A discussão sobre saúde mental no trabalho deve ganhar ainda mais força com a NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1), que trata da gestão de riscos ocupacionais. A norma, que inclui a obrigatoriedade de mapeamento de riscos psicossociais e de implementação de medidas preventivas, teve sua aplicação adiada recentemente, movimento que gerou debates entre empresas e especialistas.
Embora o prazo tenha sido prorrogado, a tendência é que as organizações passem a considerar, de forma estruturada, aspectos emocionais, cognitivos e sociais do trabalho como parte de sua política de saúde e segurança. Isso implica novos padrões de monitoramento e maior responsabilidade das lideranças para prevenir não apenas acidentes físicos, mas também o esgotamento mental.
“Quando a empresa coloca saúde mental no centro da gestão, cria ambiente mais humano e sustentável. Isso não apenas reduz afastamentos e custos, mas fortalece o engajamento, a inovação e a confiança entre colaboradores e liderança”, reforça Alessandra Kinjo.
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