Negócios

Cancelamento do Carnaval afeta interior

Cancelamento do Carnaval afeta interior
As cidades históricas mineiras são mais prejudicadas pelo cancelamento do Carnaval | CRÉDITO: DOUGLAS COUTO

O cancelamento do Carnaval de muitas cidades do interior de Minas Gerais – especialmente das cidades históricas – representa para comerciantes e municipalidades uma queda significativa de faturamento.

A Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) não tem uma estimativa das perdas, já que a decisão depende exclusivamente dos governos locais, porém é possível ter uma ideia do impacto. No início de 2021, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) realizou um estudo no País que previu a perda de R$ 4 bilhões com o cancelamento do Carnaval. Em Minas Gerais, a estimativa era de uma perda de R$ 400 milhões.

A variante Ômicron, que já circula por Minas Gerais e que tem acelerado o ritmo de novas contaminações por Covid-19, é a grande responsável pelos cancelamentos. Uma possível pressão sobre o sistema de saúde, somado ao surgimento de surtos de uma nova variante do vírus influenza em quase todos os estados, leva prefeitos a desistirem do evento, mesmo sob forte impacto econômico.

A Secult vai orientar pela não realização do Carnaval de rua em 2022. A sugestão é que apenas festas, nos municípios que seguirem o protocolo do Plano Minas Consciente (PMC) e tiverem o selo “Evento Seguro”, sejam realizadas. No entanto, a decisão final caberá aos municípios. A medida foi tomada pela Câmara Técnica Estadual do Carnaval, criada no âmbito do Conselho Estadual de Turismo (CET), para tratar da edição da festa popular do próximo ano.

Em nota, a Secretaria explicou: “O motivo da orientação para não realização de eventos abertos é a circulação da variante Ômicron, da Covid-19, e a dificuldade de controle de públicos na rua. Já a liberação para eventos fechados é em função da possibilidade de controle de acesso, como a exigência de testes de saúde, cartão de vacinação, entre outras medidas sanitárias”.

Não haverá um protocolo sanitário específico para o Carnaval, mas sim as regras para grandes eventos, que foi atualizada em 22 de novembro. Foram adotadas regras mais flexíveis sobre o distanciamento e a capacidade máxima de lotação dos espaços. O comitê também incluiu orientações específicas para os estabelecimentos que realizam tais atividades.

“A nova versão do documento foi adotada em função do avanço da vacinação no Estado, principal medida de prevenção da Covid-19, e da estabilidade dos principais indicadores epidemiológicos, como queda no número de casos, óbitos e hospitalizações”, completa a nota.

Carnaval Alternativo

Em 10 de dezembro, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, em reunião realizada em Ouro Preto (região Central), anunciou o cancelamento do Carnaval nas cidades históricas mineiras. A decisão foi fundamentada no avanço da variante Ômicron e na também desistência de Belo Horizonte de promover a festa.

Ouro Preto, dona de um dos carnavais mais famosos do Brasil, vai, mais uma vez, promover uma versão on-line da festa, a exemplo do que aconteceu em 2021.

Segundo o secretário de Governo e de Desenvolvimento Econômico Municipal de Ouro Preto, Felipe Vecchia, o objetivo é minimizar as perdas, pelo menos, em termos de divulgação da cidade. Mais de R$ 20 milhões devem deixar de circular no período.

“Protelamos ao máximo a decisão, mas realmente se mostrou impossível organizarmos uma festa segura em 2022. Nossa preocupação maior é com as pessoas. O Carnaval está na alma dos ouro-pretanos. Temos, por exemplo, o Zé Pereira mais antigo de Minas. Este é um momento muito difícil. A população já está nesse processo de não aguentar mais ficar presa em casa. E tem a questão econômica. Na cidade temos, ainda, como diferencial que, além dos meios de hospedagem tradicionais, as repúblicas e o Carnaval estudantil recebem muitos turistas. O que faremos quanto a divulgação é o aprimoramento do que foi feito o ano passado com o Carnaval on-line. Vamos fazer mais efetivamente, movimentando também as bandas de Ouro Preto. Não teremos nenhum grande evento mas vamos utilizar imagens que relembrem a festa, nos valendo do marketing e redes sociais para levar o nome da cidade para todos. Não podemos perder essa oportunidade”, destaca Vecchia.

A possibilidade de um Carnaval temporão, talvez no segundo semestre, também foi discutida entre as cidades históricas. A ideia é bem vista pela gestão de Ouro Preto e também pela Associação Comercial e Empresarial de Conceição do Mato Dentro, também na região Central. A cidade, aos pés da Serra do Cipó, é tida como um dos melhores ecodestinos do Estado e é cercada por uma natureza exuberante e preservada pelos parques: Municipal do Tabuleiro, Estadual da Serra do Intendente e o Nacional da Serra do Cipó.

Para o presidente da Associação, Haécio Lages, o cancelamento do Carnaval do ano que vem foi uma decisão dura, porém necessária. O evento não é o de maior público durante o ano na cidade – perde para o Jubileu do Senhor Bom Jesus do Matosinhos, em julho – mas é o que mais arrecada.

“Tínhamos uma expectativa muito grande quanto ao Carnaval de 2022. Era uma boa oportunidade para recuperarmos parte do prejuízo no setor de serviços e, especialmente, para hotéis, bares e restaurantes. Infelizmente não é isso que vai acontecer. Estamos mudando a imagem de cidade mineradora para turística, para trazer um público diferente, para conhecer o lado gastronômico, cultural, religioso e a nossa natureza. Somos muito privilegiados com belezas naturais fantásticas. A referência do Cipó é a cidade. Em 2019 fizemos uma pesquisa com 67% das empresas e constatamos uma taxa de ocupação em 100% durante o Carnaval e durante os cinco dias de festa, foram mais de 8.500 pessoas visitando apenas dois atrativos: o parque do Tabuleiro e a Cachoeira Rabo de Cavalo. Esses são números expressivos, que mostram o quanto o Carnaval é importante e o quanto precisamos realizá-lo em segurança para todos”, afirma Lages.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas