Casa da Sogra chega à terceira geração

Dos finos trajes feitos sob medida para as damas da nova capital, que se desenvolvia nos agitados anos de 1930 até a invasão dos produtos chineses, nos anos 2000, e o e-commerce de roupas para todos os gostos e bolsos, a Casa da Sogra atravessou a história de Belo Horizonte mantendo-se fiel a um público exigente, capaz de reconhecer e valorizar os mais finos tecidos importados e nacionais.
Toda essa tradição, iniciada em 1934, justifica a Casa da Sogra na edição de hoje da série Mineiridade. E a história já começa bem-humorada: da dificuldade para escolher o nome da futura casa de tecidos, um dos sócios reclamou: “Isso está parecendo a casa da sogra!”. Pronto, estava batizada a nossa protagonista.
De acordo com o proprietário da Casa da Sogra, Marcelo Ribeiro Lima, o estabelecimento está na família há três gerações e sobreviveu a diferentes crises que assolaram o Brasil e o mundo. Desde a Segunda Guerra Mundial, que paralisou o comércio internacional, a hiperinflação dos anos de 1980, os seguidos planos econômicos e as diferentes moedas até a estabilização resultante do Plano Real, em 1994 – tudo muito antes da Covid-19 chegar, em março de 2020.
“Aconteceu tanta coisa nesses 89 anos que o mundo é completamente diferente. Considero que o que nos permitiu continuar foi uma aposta na qualidade dos produtos e do atendimento que prestamos. Ao longo do tempo, nos especializamos em tecidos finos, especialmente para roupas de festa femininas. Claro que temos também tecidos excelentes para moda masculina, além da moda casual e básica, porém o carro-chefe são tecidos finos – e muitos deles exclusivos, desenvolvidos junto com os nossos fornecedores – para atender às mulheres”, explica Lima.
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A Casa da Sogra teve início com uma loja no Centro e, há 38 anos, se mudou para o bairro Funcionários (região Centro-Sul). Foi nessa época também que o garoto José dos Santos Lima foi ganhando espaço nos negócios até chegar ao cargo de gerência. Dono de um espírito empreendedor, tinha o desejo de montar o próprio negócio e acabou comprando a Casa da Sogra. Ele era o avô de Marcelo, que, naquela época, dava início a um negócio – junto com a esposa Edith Carli Lima, que era funcionária da contabilidade da loja -, que hoje está na terceira geração.
Do tempo do “contrato no fio do bigode” vivido pelo avô, até as vendas por WhatsApp e Instagram, o empresário relembra as histórias e os ensinamentos que atravessaram gerações, como a chegada das confecções, a quebradeira das tecelagens durante o governo Collor e a tentativa de e-commerce durante a pandemia.
“Meu avô contava que até nos anos de 1970 eram poucas as confecções e todo mundo mandava fazer roupas. Com o passar do tempo, as pessoas começaram a pagar mais caro por praticidade e rapidez. A partir disso, as lojas de tecido começaram a sofrer e muitas não resistiram. No nosso caso, a especialização nos salvou. No Plano Collor (1990), com o dinheiro preso, lembro do meu pai pagando os funcionários do próprio bolso. Com a inflação disparada, criamos até um indicador próprio. Todo dia o ‘CS’ mudava. Sem contar problemas mais recentes, como a pandemia, que paralisou as importações e fechou o comércio. Fiquei fechado e pagando o salário mínimo da categoria para todos. São coisas que a gente custa a acreditar. Cheguei a pensar em fazer um e-commerce, mas um entrave é a devolução. Para a gente que corta o tecido, a devolução é muito difícil. Não tem como emendar duas peças. Eu faço vendas via WhatsApp e Instagram porque é uma venda muito mais pessoal, para clientes contumazes, quase não há devolução”, destaca.
Hoje o relacionamento com as costureiras é fundamental para o negócio. Elas indicam e são indicadas pela loja. E, para atender o desejo de exclusividade das consumidoras, a Casa da Sogra mantém dois estilistas que desenham as roupas para as clientes como serviço agregado.
E, ainda que a moda seja também arte porque é uma forma de expressão de um povo e de uma época, o empresário tem poucas ilusões sobre o futuro das lojas de tecidos e dos profissionais do setor, como costureiras e alfaiates.
“Eu vou continuar aqui batalhando para crescer e fortalecer a marca, especialmente no mercado mineiro, mas não sei se meus filhos terão interesse em seguir com a tradição. Vejo que o futuro da roupa vai ser a impressão 3D. Cada um vai ter a sua impressora, vai buscar o modelo na internet e vai poder reciclar a fibra quando quiser. Acredito que nesse futuro, para ocasiões especiais, quem quiser algo exclusivo vai recorrer a uma espécie de consultor ou estilista como temos hoje”, analisa o proprietário da Casa da Sogra.
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