Em Belo Horizonte, casal cria casa de apoio para crianças do interior
Buscar tratamento médico para uma criança fora da cidade de origem nunca é fácil. Em Belo Horizonte, por ser uma capital, essa história se repete com frequência. Famílias, principalmente as mães, em busca da cura ou, pelo menos, de uma melhor qualidade de vida para os filhos doentes, desembarcam na cidade sem as condições adequadas e, muitas vezes, sem sequer um lugar para ficar. Apoio para suas crianças é tudo de que elas precisam.
Observando essa situação na Região Hospitalar de Belo Horizonte, enquanto realizava um trabalho social com moradores de rua, o casal Marcos Augusto Pêgo Lenk e Maria Cristina Nassau Pêgo Lenk resolveu criar a Casa das Flores. Projetada e construída com recursos próprios, a casa tem o objetivo de acolher crianças carentes do interior do Estado que estão em tratamento de saúde na rede hospitalar da Capital.
São 12 quartos com duas camas cada, roupas de cama e banho, cinco banheiros, cozinha e copa, duas salas de TV, biblioteca e área de convivência. Está preparada para receber 24 acolhidos (criança e acompanhante), além dos voluntários e empregados. A Casa das Flores é uma casa sustentável que possui energia fotovoltaica, energia solar para aquecimento de água e sistema de coleta de água da chuva.
“É muito comum crianças doentes precisarem de longos tratamentos e, para isso, elas precisam ter um lar para ficar em Belo Horizonte quando o tratamento não exige internação, como é o caso da quimioterapia ou radioterapia. Por falta de um lugar adequado, muitas não realizam o tratamento. A Casa das Flores foi construída para dar apoio a essas crianças, oferecendo quarto, banho, alimentação e convivência de forma integral durante o tratamento, tanto para a criança quanto para o acompanhante”, explica Marcos Lenk.
Para manter o espaço, os fundadores contam, além dos próprios recursos, com doações em dinheiro ou insumos de empresas e pessoas físicas. A Casa das Flores também realiza campanhas para doações específicas.
As crianças e acompanhantes, a maioria mães, são indicadas pelas prefeituras e já chegam com as consultas e tratamentos agendados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Mais do que um lugar para abrigar, precisamos ser um lugar que acolhe. As mães chegam aqui exaustas e, muitas vezes, adoecidas. Eu digo a elas que foram escolhidas, mas há dias em que elas baqueiam. Às vezes também precisam de atendimento e nós encaminhamos, mas isso tem um custo alto. A ajuda sempre aparece, mas eu preciso garantir, pelo menos, o custeio dos gastos fixos e a ampliação da equipe de colaboradores. Hoje contamos com alguns voluntários, mas é necessário ter uma equipe permanente, capaz de atender aos problemas que surgem de repente”, afirma.
A Casa das Flores não é a única nem a primeira ação social do casal. Em Sete Lagoas, na região Central, a comunidade de Fazenda Velha, distante 12 quilômetros da sede do município e com aproximadamente 3 mil pessoas (600 famílias), conta com o Centro Comunitário Amigos de Fazenda. O espaço foi idealizado, projetado e construído com a participação da comunidade, sob a coordenação e orientação do casal. O terreno foi doado por um fazendeiro local, e o projeto arquitetônico e a execução da obra foram viabilizados por meio de doações.
Na mesma comunidade funciona o Posto de Saúde Fazenda Velha. Sensibilizados com a falta de assistência médica para os moradores, o casal coordenou a campanha de construção do posto, desde o projeto até sua inauguração, entre 2001 e 2007. Foi firmada uma parceria com a Prefeitura de Sete Lagoas, em regime de comodato, para que o município utilize as instalações por 30 anos como unidade de saúde. Hoje o equipamento público conta com médico, dentista, equipe de enfermagem, equipe de saúde da família e pessoal administrativo. Mais uma vez, o apoio às crianças foi o principal objetivo. A partir da inauguração, a mortalidade infantil por falta de assistência na comunidade caiu a zero, e os adultos passaram a ter suas doenças controladas.
“O posto de saúde era para ser uma construção pequena, com três cômodos, um médico e um dentista. Acabou ficando com 440 metros quadrados. Conseguimos a doação do terreno e muita gente ajudou. Com o passar do tempo, as pessoas foram parando e eu assumi a obra. Foi aí que entendi que o dinheiro não é meu, sou apenas um administrador e ele deve trazer benefícios para o maior número de pessoas possível. A partir disso, as coisas ficaram mais leves e eu sempre conto com a bondade humana”, completa o idealizador da Casa das Flores.
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