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ChatGPT deixa tempo mais precioso, mas olhar crítico é vital

Para especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, recursos de IA precisam caminhar em conjunto com o trabalho humano e a ética
ChatGPT deixa tempo mais precioso, mas olhar crítico é vital
Ferramenta ChatGPT propõe fazer serviços como redações, provas escolares, petições jurídicas e outras funcionalidades | Crédito: Dado Ruvic/Reuters

Você sabe o que é um Transformador Generativo Pré-Treinado? Esse nome pode até soar estranho em um primeiro momento. No entanto, não se trata de nada do futuro, pois ele está cada vez mais presente e foi inserido há pouco tempo no mercado. Essa é a tradução do termo ChatGPT, que foi criado em 2018, mas lançado globalmente em novembro de 2022 pela empresa norte-americana DALL.

Assim como existe o ChatGPT e os seus concorrentes, tantas outras ferramentas recentes como a Alexa, a Cortana e a Siri são produtos de Inteligência Artificial (IA). Elas passaram a fazer parte da rotina de milhares de brasileiros e de outras nacionalidades por todo o mundo. Dentro de um contexto macro, todas essas ferramentas são desenvolvidas para garantir uma experiência refinada de conteúdos e que provoque os limites da criatividade humana.

Do RH à área de produto, da sala de reunião às plataformas de mídias digitais, do quarto de estudos à sala de aula. Automatizar funções e permitir às pessoas um trabalho mais criativo e estratégico é o grande novo cenário da tecnologia. Independentemente da área de atuação – tecnológica ou não -, todas as pessoas podem aproveitar essa ferramenta, é o que garante o COO da Alura e líder da Alura Para Empresas, Adriano Almeida.

Segundo ele, qualquer uso de ferramenta tecnológica necessita de um olhar crítico das pessoas que a manipulam nos bastidores. “A empresa, por exemplo, ao utilizar o ChatGPT para automatizar processos, não significa tomar como verdade tudo o que for produzido por ele. É aí que entra o lado humano dessa operação. A empresa precisa se questionar se faz sentido o que a inteligência artificial está propondo”, aponta.

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Para Adriano Almeida, é preciso avaliar a coerência das informações que a ferramenta apresenta. “Se condiz com o que as pessoas, dentro de suas competências e habilidades, iriam propor. Se é inovador, mas que ainda assim se encaixe dentro de princípios éticos e de valores organizacionais. O trabalho humano precisa caminhar em conjunto”, sugere.

Consultora de Inovação no escritório Luma Consultancy, Luma Boaventura Favarini lembra que o uso da IA tem limites. “Muita gente tem pensado que a Inteligência Artificial tem poderes mágicos. Seja para fazer coisas ilimitadas e até mesmo de substituir a inteligência humana, a verdade é que não é bem assim”, reflete.

Uso precisa ter limites para que chatbot seja apenas coadjutor

Luma Favarini exemplifica que se a base de dados utilizada para treinar a Inteligência Artificial não tiver profundidade e a acurácia necessária ela fica sem seus poderes de que pode gerar qualquer tipo de resultado consistente. “É importantíssimo ter limites para a aplicação da Inteligência Artificial. Isso vale ao que tange, principalmente, à proteção de dados, à não discriminação e aos limites éticos”, elenca.

Escrito em 2020, a consultora entende que o projeto de marco legal da Inteligência Artificial, que aguarda a aprovação em Brasília, pode ser essencial para uma adequação. “Este marco é importantíssimo para regulamentar todos os aspectos que mencionei. É importantíssimo para trazer diretrizes e os fundamentos que podem ser aplicados da forma mais coerente e organizada possível”, avalia.

De acordo com Adriano Almeida, é válida a reflexão: “Onde o ChatGPT pode ajudar mais?”. Ele responde que é necessário as pessoas se desenvolverem em suas áreas de especialidades, mas que também aprendam a trabalhar em conjunto com a IA. “Isso inclui limites éticos e estratégicos de cada organização. Diante disso, até que ponto o ChatGPT pode ser prejudicial, então? Até o momento em que as pessoas da empresa pararem de colocar sua visão e sua estratégia de negócio nesse trabalho em conjunto”, propõe.

Falta de regulação pode gerar distorção em profissões

Assim, como existem inúmeras vantagens e desvantagens da IA para vários setores e segmentos do mercado, no universo jurídico não é diferente. Tanto é que, recentemente, a empresa norte-americana DoNotPay alegou ter construído o primeiro robô da área de Direito do mundo. O fato gerou polêmicas e até processos de ação conjunta. A presidente da Comissão de Direito Digital da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Chayana Rezende, explica quais são os avanços e infrações resultantes desse uso.

“Existem inúmeros benefícios decorrentes da utilização de AI, como ampliação do acesso à Justiça, a redação com rapidez na apreciação de causas de menor complexidade, a redução dos custos e taxas com advogados. Porém, o desenvolvimento desregulado da inteligência artificial pode fazer com que advogados de uma determinada área passem de juristas para operadores de sistemas jurídicos”, projeta.

A presidente da OAB-MG entende que não ter um olhar analítico e crítico para os efeitos da automatização tecnológica resultará em um significativo empobrecimento da profissão. “São evidentes os prejuízos da ausência de efetiva análise por parte de um profissional do Direito. Eles podem ocasionar às partes, sem olvidar, a possível responsabilização pelos serviços realizados pelos algoritmos”.

Tais ponderações afirmadas por Chayana Rezende já são questões de preocupação por parte da OAB. A instituição, inclusive, avalia que os pontos em pauta devem ser articulados e diagnosticados em todas as empresas jurídicas. “É preciso existir ressonância para que o modo ufanismo, no emprego de tais tecnologias, não se transforme num cavalo de Troia para o exercício legítimo da aplicação do Direito”.

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