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Cidades secundárias atraem redes de hotéis para o interior de Minas

Cidades como Ouro Preto, Monte Verde, Tiradentes e Mariana inauguram, em breve, empreendimentos de alto padrão
Cidades secundárias atraem redes de hotéis para o interior de Minas
Foto: Reprodução Adobe Stock

A boa infraestrutura, atrativos naturais e culturais próximos, redes de negócios em funcionamento e, principalmente, qualidade de vida, têm levado muita gente e muitos investimentos para o interior. Cidades secundárias e até terciárias têm recebido especial atenção de redes hoteleiras nacionais e internacionais que levam hotéis cada vez mais qualificados e diversificados no interior.

É no segmento de lazer que os maiores investimentos estão acontecendo. A badalada rede portuguesa de resorts Vila Galé, anunciou a entrega da primeira fase do seu resort em Cachoeira do Campo – distrito de Ouro Preto -, para dezembro de 2024. O investimento total foi calculado em R$120 milhões. A mesma rede também negocia para construir o seu segundo resort no Estado próximo ao Inhotim, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Quem também já fincou os pés bem próximo ao maior museu de arte contemporânea a céu aberto do mundo foi o Grupo Clara Resorts. O hotel butique será entregue até o fim do próximo ano e a construção de um novo resort já está prevista para 2029. O investimento é estimado em centenas de milhões de reais.

Já o Grupo H2 anunciou nos últimos dias de novembro investimentos em Monte Verde, distrito de Camanducaia, no Sul de Minas; e em Tiradentes, no Campo das Vertentes. O primeiro já está em fase final de aprovação junto à prefeitura municipal. O orçamento de R$ 23 milhões dará origem a um conjunto de lojas voltadas para a calçada e um hotel formado por chalés, compondo uma paisagem integrada.

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Segundo o diretor financeiro da H2, Lucca Sperancini, o início da obra, no terreno de 21 mil metros quadrados, está previsto para o início de 2024 e a entrega até meados de 2026.

“A ideia é trazer para o espaço das lojas restaurantes, bistrôs, cafés, que agreguem à operação. Nós vamos ter chalés de alto luxo que vão carregar a bandeira cinco estrelas da empresa, a H2 Áurea Park. Assim que as lojas ficarem prontas, já vamos começar a operação. A locação desses espaços vai nos ajudar a financiar a obra dos chalés”, explica Sperancini.

Já na tricentenária Tiradentes, onde o terreno já foi comprado próximo à estação ferroviária, o processo está em etapa anterior. Embora não esteja exatamente no centro histórico, o empreendimento deverá obedecer padrões de proteção ao patrimônio e de caracterização do ambiente arquitetônico da área. O terreno de 10 mil metros quadrados também deve dar vida a um conjunto de chalés.

“Em Tiradentes o processo é mais lento e entendemos que deva ser assim. Outro complicador é o coeficiente de construção que é apenas de 10%. Vamos cumprir todos os requisitos e vencer as etapas em parceria com a prefeitura e os órgãos de proteção ao patrimônio para oferecer à cidade uma oferta diferenciada de hotelaria”, pontua.

Para o coordenador regional da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação em Minas Gerais (FBHA-MG), Marcos Valério Rocha, está acontecendo um movimento natural das redes hoteleiras em direção ao interior do País, em especial ao interior dos estados mais importantes como Minas Gerais.

“É um movimento conjuntural, orgânico. Existe uma predominância dos empreendimentos familiares no Estado. Normalmente, essas empresas têm pouco posicionamento mercadológico. Não estão vinculadas a entidades de classe ou associações comerciais e são isolados no que diz respeito à estratégia de negócios. É natural que elas busquem agora por profissionalização da gestão em um momento em que a concorrência no interior está crescendo. Ou elas fazem isso por conta própria ou se aliando às redes sob pena de não mais existirem”, avalia Rocha.

Outro exemplo é Mariana, também na região Central. O Grupo Liderança, formado por empresários locais, vai investir R$ 20 milhões para construir na primeira capital de Minas, um hotel de 120 quartos e restaurante. A inauguração está prevista para o fim de 2025. 

Hotéis no interior unem lazer e negócios nas cidades secundárias

A retomada do setor de turismo pós-pandemia foi marcada pela volta mais rápida e contundente do segmento de lazer. Enquanto as empresas ainda mediam os riscos sanitários e econômicos de voltarem a colocar seus colaboradores para viajar, as famílias buscavam espaços amplos, atividades ao ar livre e viagens rodoviárias – preferencialmente com o próprio carro -, mais baratas e seguras do ponto de vista dos riscos de uma contaminação.

O interior mineiro tirou partido desse cenário e segue em desenvolvimento. Redes que oferecem estrutura para eventos corporativos e, ao mesmo tempo, atrativos para as famílias, estão voltando seus canhões para Minas Gerais. Mais uma vez, o Vila Galé é um exemplo dessa estratégia que tem como objetivo final manter a ocupação alta ao longo da semana e durante todo o ano, sem sofrer grandes períodos de baixa.

A mineira Tauá Hotéis e Resorts também trabalha constantemente para isso, investindo continuamente em inovação para as suas unidades. Em entrevista exclusiva para o DIÁRIO DO COMÉRCIO, a futura CEO do grupo, Lizete Ribeiro, que assume em janeiro de 2024, avaliou a importância dos dois segmentos estarem juntos.

“O Tauá é um conjunto de duas coisas muito fortes: eventos empresariais e lazer das famílias. As duas coisas conversam muito bem porque enquanto temos o fim de semana com lazer, durante a semana temos as grandes convenções. Com o tempo, aprendemos a construir estruturas capazes de receber eventos e famílias juntos. Temos que ter sucesso nessas duas coisas porque uma não caminha sem a outra. Durante a pandemia não tinha evento, perdemos 60% do nosso faturamento. E, ao contrário, o lazer cresceu muito com as pessoas buscando uma experiência diferente, diversão em família. E agora já vem de novo o mercado normalizando meio a meio, mas com uma coisa sempre compensando a outra”, destaca Lizete Ribeiro

Para o consultor de hotelaria Maarten Van Sluys, o momento é extremamente positivo para quem quer investir em hotéis no interior. Ele destaca oportunidades especialmente nas regiões: Sul de Minas, Zona da Mata, Alto Paranaíba e a região da Serra da Canastra.

“O efeito da pandemia foi muito menor no interior do que nas capitais. As redes estão descobrindo as cidades médias. Isso é bom porque a hotelaria familiar também tem que investir nos hotéis e profissionalizar a gestão. É um círculo virtuoso que acontece através da própria concorrência. Lavras (Sul de Minas), por exemplo, acaba de ganhar o seu primeiro Ibis. É um movimento próprio, não é algo que estava planejado antes da pandemia e ficou congelado. Existe muita gente procurando hotéis no interior para comprar ou arrendar. Esses investidores preferem empreendimentos que já estão prontos porque a reforma é mais rápida e a receita gerada já amortiza o investimento”, analisa Sluys.

E há quem aposte nos negócios. Conhecida por sua pujança econômica, Uberlândia, no Triângulo Mineiro acaba de receber de volta o antigo America Palace Hotel, que ficou sem funcionar por cerca de três anos. Relançado com reformas e um design renovado, o equipamento agora ostenta a marca Days Inn by Wyndham, sob a administração da mineira Trul Hotéis.

O investimento de R$ 3,5 milhões requalificou o empreendimento na categoria econômica. O hotel oferece 72 apartamentos, distribuídos por seis andares e divididos nas categorias Standard Twin e Standard Queen. Segundo o diretor de Desenvolvimento da Trul Hotéis, Luciano Carvalho, o modelo oferecido pela unidade de uma operação enxuta, voltada para o público corporativo, diversifica a oferta hoteleira de Uberlândia

“Uberlândia é uma cidade muito bem estruturada, com um perfil de investimento agressivo, que aposta em grandes estruturas. Trouxemos um modelo inovador que foca no custo benefício para o hóspede. Quando a operação é enxuta, não existe margem para erro. Todo o serviço tem que ser perfeito”, afirma Carvalho.

E para que tudo saia a contento do hóspede e sem colocar em risco as margens de lucro dos investidores, qualificar a mão de obra é fundamental. Gestores de todas as redes afirmam a importância do treinamento e do estabelecimento de uma política que cuide não só da remuneração, mas principalmente da experiência do colaborador.

“Mão de obra qualificada é a maior dificuldade do setor. E isso piorou com a evasão durante a pandemia. Temos uma política que não fala em retenção, mas em atração de talentos. É uma geração que não busca só a realização financeira. Ninguém gosta de ser retido, as pessoas gostam de ser atraídas, conquistadas continuamente. Estamos testando escalas de trabalho diferentes e benefícios flexíveis como o vale mobilidade no lugar do vale-transporte, por exemplo, além de outros como vale-cultura e vale bem-estar”, enumera o diretor de Desenvolvimento da Trul Hotéis.

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