Comércio se adapta para ampliar vendas de Páscoa em meio à disparada do cacau

Com a disparada no preço do cacau aliada a uma elevada inflação, o comércio em Minas Gerais projeta que as vendas da Páscoa devem ser até 15% inferiores em relação às do ano passado. A poucos dias da celebração oficial da data, empreendedores se reinventam para amenizar impactos com linhas acessíveis, novos sabores e alternativas saudáveis para atrair o público em busca de um maior volume de pedidos.
De acordo com a economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), Gabriela Martins, o principal desafio apontado pelos empresários que pode dificultar as vendas da Páscoa é o alto valor dos produtos. O aumento do preço do cacau, principal insumo para a fabricação deste produto, tornam os custos elevados, dificultando ainda mais as vendas.
Além disso, o endividamento do consumidor e a falta de dinheiro entre as famílias também são motivos que se destacam e podem afetar negativamente as vendas da Páscoa. Em janeiro, o levantamento feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) apontou uma elevação de 2,86% na inadimplência dos consumidores frente ao mesmo mês de 2024.
Apesar dos desafios, a economista avalia que as expectativas do comércio mineiro para a Páscoa deste ano são positivas e devem impactar 44,9% do segmento alimentício do comércio varejista. “Desse total, 41,7% esperam que este impacto seja positivo. O valor afetivo da data, o otimismo, a esperança e também o aquecimento do comércio são os principais fatores para essa expectativa”, destaca.
Fit&Low amplia público a partir de chocolates saudáveis

Completando sete anos de atuação em 2025, a Fit&Low, comandada pela chef de cozinha Georgia Silveira, encontrou nos desafios uma oportunidade de se reinventar e ampliar o cardápio. A empresa aposta em produtos que atendem também pessoas com algum tipo de intolerância alimentar, como lactose e glúten, além de possibilitar o consumo a pacientes em tratamento de doenças, como oncológicas, com produtos de baixo açúcar e menor teor de gordura.
Desde a pandemia, a idealizadora avalia que as pessoas se conscientizaram mais e com isso ampliou-se a procura por produtos saudáveis. Somado a isso, a valorização do consumo de produções locais em detrimento aos produtos industrializados ampliou os resultados do negócio, que cresceu cerca de 8 vezes sem unidade física e em um períodos mais desafiadores para o comércio.
Agora, o desafio passa pela disparada no preço do cacau, que resultou em uma redução na procura por chocolates no mercado. “Com relação ao ano passado a procura foi cerca de 15% menor, por uma questão da alta do cacau e além dos problemas econômicos que afetam do orçamento do belo-horizontino”, explica.
Para alavancar os resultados, a empresa aposta em uma linha de produtos fit, além de lembrancinhas com preços mais acessíveis e ovos em tamanhos reduzidos. Dentre os destaques estão os “ovos tablete” nos sabores Ferrero Rocher e Pistache – os doces consistem em brigadeiros sobre uma base de chocolate em formato oval, uma alternativa criativa e acessível para presentear na data.
As novidades prometem alavancar as vendas do negócio, que já começaram a ampliar nos últimos dias. “Minha expectativa é que os clientes sempre deixam para comprar de última hora. Por isso, esperamos uma maior procura nos próximos dias”, acrescenta.
L’Or Noir Chocolateria aposta em tradição aliada a novos sabores
A proprietária da L’Or Noir Chocolateria, Astrid Duarte, também relata que a Páscoa neste ano será marcada por vendas mais enxutas, com predominância de produtos de menor volume. A redução nos pedidos, segundo ela, está associada tanto ao orçamento das famílias quanto a escalada no preço do cacau, que aumentou em cerca de 25% o custo médio de produção artesanal. “É um aumento atrás do outro e não conseguimos repassar valor total para o cliente. Estamos temerosos e tentando captar novos clientes para continuarmos no mercado”, pontua.
Responsável por cerca de 30% do faturamento anual da marca, a Páscoa neste ano deve perder fôlego com as restrições, apesar de ainda se firmar como a segunda data mais importante para o comércio, atrás apenas do Natal. “Mesmo com esse cenário, é uma data tão importante tanto quanto Natal”, destaca.
Para 2025, a loja aposta em chocolates meio-amargos como carro-chefe, além do ovo de pistache, criado em comemoração aos 15 anos de história do estabelecimento. Mesmo com presença digital, o negócio segue com vendas concentradas no espaço físico, preservando a experiência tradicional de compra em uma loja de chocolates.
Empreendedores precisam dedicar tempo para driblar variáveis
Com os desafios impostos pelo cenário econômico, os pequenos negócios têm sido pressionados a encontrar formas criativas e flexíveis de manter o faturamento em alta. Datas comemorativas, como a Páscoa, tornam-se momentos estratégicos para aplicar tendências, segundo aponta a analista do Sebrae Minas, Michelle Chalub.
Em Minas Gerais, cerca de 4 mil pequenos empreendimentos são especializados na fabricação e comércio de chocolates, e muitos deles já estão em plena operação para atender à demanda sazonal. “Além desse segmento, o potencial da Páscoa vai além do chocolate. Bares, restaurantes e empresas de turismo também podem aproveitar o período para aquecer as vendas”, explica.
O momento, segundo ela, é de o setor investir em ingredientes e campanhas diferenciadas, apostando em novos, criando produtos temáticos e ampliando o diálogo com diferentes públicos. “Mesmo com todas as incertezas do mercado, a Páscoa permanece no topo das datas com maior potencial de faturamento para quem empreende”, conclui a especialista.
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