Brasil sobe no ranking global de competitividade digital
                            Na edição 2025 do Ranking de Competitividade Digital, do IMD World Competitiveness Center (WCC), divulgada na segunda-feira (3), que analisou 69 nações, o Brasil ocupa o 53º lugar, superando o período de estagnação observado em 2023 e 2024. O País registrou melhora nos três principais fatores avaliados: em tecnologia, subiu para a 58ª posição, dois pontos acima do ano anterior; em conhecimento, alcançou o 56º lugar; e em prontidão para o futuro, apresentou o maior progresso, com avanço de três posições, chegando à 50ª colocação.
O estudo, realizado no Brasil em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), sediada em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), revela uma recuperação gradual da competitividade digital brasileira, impulsionada por avanços em inovação, digitalização e capacidade de adaptação às transformações tecnológicas globais.
De acordo com o diretor do Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da FDC, Hugo Tadeu, o Brasil apresenta avanços expressivos em inovação e digitalização, alcançando posições de destaque em indicadores que reforçam o fortalecimento da economia do conhecimento e a capacidade do País de gerar e difundir tecnologia.

O País obteve sua melhor colocação em produtividade de publicações por pesquisas (9º lugar), resultado do crescimento de programas de fomento à ciência e da aproximação entre universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) e empresas.
“Esse movimento tem impulsionado o desenvolvimento tecnológico, ampliado a visibilidade internacional da produção acadêmica brasileira e estimulado a criação de soluções de alto valor agregado, conectando pesquisa e aplicação prática. Mas o Brasil ainda enfrenta grandes desafios, especialmente relacionados à infraestrutura e educação”, explica Hugo Tadeu.
Outro ponto relevante é o aumento dos investimentos privados em inteligência artificial (16º lugar), reflexo do amadurecimento do ecossistema de startups e da expansão do uso de IA em setores estratégicos, como saúde, finanças e educação. Esse avanço evidencia o fortalecimento do ambiente de inovação nacional, marcado pela maior participação do setor privado em tecnologias de impacto econômico e social. Além disso, demonstra uma tendência de consolidação da inteligência artificial como vetor de transformação produtiva, com aplicações que vão desde a otimização de processos empresariais até o aprimoramento de políticas públicas.
“Esse relatório traz uma perspectiva importante pelos investimentos significativos em tecnologias digitais, especialmente em inteligência artificial. Um ponto que merece destaque é o lançamento do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA). O governo brasileiro tem apresentado boas perspectivas de investimento por meio de agências de fomento, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), buscando responder a desafios ligados à educação e à infraestrutura”, afirma.
Falta de integração entre empresas e academia torna o Brasil menos competitivo
A posição brasileira nas últimas colocações em alguns subfatores de desenvolvimento e integração digital, como prática de transferência de conhecimento (65º) e disponibilidade de capital de risco (64º), ainda limita o ritmo de avanço e a consolidação de um ecossistema inovador.
A integração entre universidades, empresas e o poder público permanece como um dos maiores desafios para o avanço da competitividade digital brasileira. O Brasil ocupa a 65ª posição em prática de transferência de conhecimento, o que evidencia a dificuldade de transformar a produção científica em inovação aplicada e em soluções tecnológicas escaláveis. Essa desconexão entre pesquisa e mercado reduz o impacto dos avanços científicos e limita a capacidade nacional de gerar produtos e serviços de alto valor agregado.
“Investir em pesquisas aplicadas e ampliar a interação entre o setor acadêmico e o produtivo são passos fundamentais para transformar conhecimento em inovação, impulsionar a competitividade nacional e elevar a relevância científica do Brasil no cenário global. Os líderes do ranking, além de investirem fortemente na formação STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), também priorizam a educação básica e buscam liderança em tecnologia, especialmente em infraestrutura de dados e inteligência artificial”, destaca.
O acesso ao capital de risco ainda é uma barreira significativa ao avanço da inovação no Brasil. Na 64ª colocação, o País demonstra um ecossistema de investimentos conservador, que privilegia a segurança e evita riscos, dificultando o financiamento de startups e empresas emergentes. Essa limitação é agravada pela burocracia e pela ausência de instrumentos de apoio público-privado, que em outras economias são decisivos para o crescimento de negócios inovadores.
“A dificuldade com financiamentos e capital de risco no Brasil está mais relacionada à insegurança jurídica do que aos juros altos, embora esse fator também deva ser considerado. As constantes mudanças de regras afastam investidores nacionais e estrangeiros, e isso é um problema sério para um país que precisa investir em infraestrutura e pretende se consolidar como desenvolvedor e exportador de novas tecnologias”, avalia.
Para o pesquisador, a jornada brasileira rumo a um futuro digital competitivo depende de dois alicerces inseparáveis: a preparação criteriosa da força de trabalho e a consolidação de um ecossistema que fomente ativamente a inovação.
“Precisamos alinhar as agendas do governo, da academia e do setor privado, tornando-as mais convergentes e integradas. Há um descompasso entre a pauta da pesquisa, do fomento, a visão governamental e a da iniciativa privada. Enquanto as empresas têm metas de curtíssimo prazo, buscando retorno imediato sobre o capital investido, as universidades trabalham com horizontes de longo prazo, voltadas à geração de conhecimento e pesquisa. No meio desse processo está o governo, que aloca recursos, mas ainda carece de uma visão clara e estratégica”, analisa o diretor do Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da FDC.
Europa concentra melhores colocados no ranking de competitividade digital
Após forte concorrência no último ano, a Suíça passou a ocupar o 1º lugar no ranking (no ano anterior, estava em 2º). O país europeu apresenta desempenho de destaque em conhecimento (1º lugar), resultado associado à infraestrutura de ensino e pesquisa e à capacidade de formar e reter talentos qualificados.
A Suíça é seguida pelos Estados Unidos (2º), Singapura (3º) e Hong Kong (4º). A Europa também mantém forte presença entre as primeiras colocações: a Dinamarca (5º lugar) aparece como líder em prontidão para o futuro (1º), enquanto os Países Baixos (6º) e a Suécia (8º) mantêm destaque em indicadores de tecnologia e conhecimento. Esses resultados refletem esforços consistentes em inovação, educação e desenvolvimento de competências digitais.
Os Emirados Árabes Unidos (9º lugar) representam o Oriente Médio entre os dez primeiros países do ranking. O desempenho do país está relacionado a iniciativas de digitalização e a políticas voltadas à modernização administrativa e à diversificação econômica.
Na América Latina, todos os países estão na segunda metade da lista, sendo o Chile (43º) o único acima do Brasil. Colômbia (55º), México (59º), Argentina (60º) e Peru (64º) aparecem abaixo, com a Venezuela em último lugar (69º).
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