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Comunicação interna eficiente exige liderança disposta a mudar

Engajar esse público como comunicadores é grande desafio da estratégia
Comunicação interna eficiente exige liderança disposta a mudar
Crédito: Pexels

A 8ª edição da Pesquisa de Tendências em Comunicação Interna (CI), realizada pela Ação Integrada em parceria com a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), revela que engajar lideranças como comunicadores (64%) é o principal desafio da Comunicação Interna.

Outros desafios que aparecem em destaque na pesquisa são: melhorar a mensuração e gestão de dados (52%), comunicar estratégia e cultura (49%), e fazer a comunicação chegar aos públicos operacionais (46%). Os dois principais objetivos da CI nas empresas refletem alguns dos principais desafios da área para 2024: fortalecer cultura e orgulho em um ambiente que valorize o colaborador (93%) e criar clareza em torno da estratégia da empresa engajando os colaboradores nessa jornada (79%).

De acordo com o coordenador do Núcleo de Pesquisas da Aberje, Carlos Ramello, a pesquisa mostra uma necessidade de as empresas se aproximarem mais das pessoas, investindo em personalização no lugar da massificação.

“A comunicação interna é a origem de toda comunicação organizacional. Ela tem um princípio fundamental que é contribuir e engajar as pessoas dentro da empresa. Com o tempo, a comunicação foi ficando sistematizada e massificada e vejo que a partir da pandemia até pela falta do encontro, se via a necessidade de ter uma comunicação interna mais próxima das pessoas. A pandemia trouxe a evidência dessa necessidade”, afirma Ramello.

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Carlos Ramello
Ramello: é preciso aproximar liderança e público interno | Crédito: Divulgação / Aberje

Para a fundadora e diretora-presidente da Ação Integrada, Adevani Rotter, esse cenário tem gerado angústia nos profissionais de comunicação para fazer de um jeito diferente e melhor. Temos as mesmas ferramentas, mas precisamos fazer diferente. Na pandemia perdemos o ‘face a face’, descobrimos a força das ferramentas on-line, mas isso não basta. Precisamos ‘trocar o pneu com o carro andando’”, pontua Adevani Rotter

O estudo mostra, ainda, que as formas mais efetivas de comunicação interna são os canais internos (85%), gestores imediatos (79%) e a alta liderança (61%). CEO (58%) vem logo em seguida e Eventos e ativações temáticas (55%).

Em 61% das empresas participantes, o CEO ou líder de negócios faz reuniões ou lives para os colaboradores. Enquanto nas organizações com até mil colaboradores este índice ficou em 51%; nas demais empresas o percentual é de 64%.

“A organização sempre foi o primeiro e maior influencer da sociedade. Na pandemia isso se fortaleceu em função da própria narrativa, que era mais sensível, mais voltada para os cuidados com a pessoa e isso aproximou as empresas dos colaboradores. No passado, a principal missão da gestão de pessoas era harmonizar ou estabelecer o equilíbrio entre capital e trabalho. Mas esses dois não são dissociados. A tecnologia veio para ajudar. Através dela eu consigo ver as ‘pessoas’ dentro da organização e não apenas os ‘colaboradores’.  Entender o que elas gostam ou precisam. É nesse ponto que passamos a ter uma comunicação humanizada, não massificada”, explica o coordenador do Núcleo de Pesquisas da Aberje.

Segundo o professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC), Guilherme Miziara, os líderes precisam aprender a se comunicar melhor sob pena de não conseguir atrair e reter talentos e abalar os resultados dos negócios.

Adevani Rotter
Precisamos fazer de forma diferente, defende Adevani Rotter | Crédito: Divulgação / Ação Integrada

“As pessoas acham que sabem se comunicar porque as outras entendem, mas isso não basta. Não é raro encontrarmos profissionais muito bons tecnicamente, mas que não conseguem se comunicar. Se a equipe não entende, o maior prejudicado é o próprio líder. Se ele se comunica melhor, pode ter resultados melhores se desgastando menos, mas o ser humano resiste a desenvolver uma habilidade que ela acha que já domina”, destaca Miziara.

A simplicidade e a coerência são fatores fundamentais para a qualidade da comunicação segundo os especialistas. Cumprir as regras acordadas sobre o tipo de uso e frequência dos canais também evita conflitos e desgastes desnecessários.

“Há anos falamos em comunicação dirigida e segmentada. Mas os setores de comunicação não têm braço para isso, e então a comunicação acabou ficando massificada. Hoje a tecnologia, a inteligência artificial pode ser usada como ferramenta para evitar esse problema. Digo que a Comunicação Interna 4.0 é muito mais que usar as máquinas, utilizá-las para favorecer a comunicação entre as pessoas. “Quanto mais tech, mais touch precisa ser a comunicação entre as pessoas. Ser simples dá mais trabalho. É preciso uma estratégia mais robusta de negócios, é preciso envolver as pessoas. Ficamos tão preocupados em informar que nos esquecemos de nos comunicar. Precisamos ter um novo modelo mental para fazer mais simples, colocar as pessoas na conversa. A preocupação excessiva com a técnica nos afasta do humano. Quando as pessoas sabem do negócio e estão envolvidas com a empresa, atinge as metas e as pessoas se sentem realizadas”, ensina diretora-presidente da Ação Integrada.

Líderes ainda não se veem como comunicadores

O ditado que diz “a palavra convence, o exemplo arrasta”, vale também para a comunicação interna e as lideranças. O uso das redes sociais deve ser observado de perto para que as mensagens se mantenham coerentes com os valores da empresa e a imagem que ela quer passar inclusive para os futuros colaboradores.

A competência de comunicação pelas lideranças é incluída na avaliação de desempenho de apenas 36% das companhias, 2% a menos que em 2023. O menor índice (31%) está nas empresas com até mil funcionários, tendo as maiores de 5 mil colaboradores este índice em 43% – 3 pontos percentuais (pp) a mais que em 2023. 51% das organizações conseguem enviar informações de desdobramento com antecedência para os gestores, sendo 57% o percentual nas empresas com mais de 5 mil colaboradores.

Ao mesmo tempo, em apenas 23% das empresas os gestores se consideram o principal canal de comunicação da organização com seus times, índice que varia entre 18% nas empresas com até mil funcionários e 30% naquelas acima de 5 mil colaboradores.

 “A liderança deve entender que ela é exemplo pela sua postura. A coerência entre forma e conteúdo é fundamental. Quem fala precisa cuidar para não cair na armadilha do ‘falar bonito’ e na ‘maldição do conhecimento’. Em ambos os casos ele corre o risco de não ser entendido e como a relação é assimétrica a equipe, na maioria dos casos, não reclama. Se o líder não se colocar como parceiro da equipe, vai ter problema”, analisa o professor da FDC.

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