Congresso de governança corporativa discute desafios do ambiente de negócios brasileiro

Os desafios do ecossistema de negócios do Brasil foram o tema central do 25º Congresso do Instituto de Governança Corporativa (IBGC), realizado em São Paulo nesta terça-feira (8) e quarta-feira (9).
O evento, que reuniu lideranças empresariais, academia e especialistas do Brasil e do exterior, discutiu os desafios empresariais, ambientais, sociais e de governança (ESG), as nuances no contexto sócio e geopolítico, os riscos e inovações que impactam o modelo de negócio das empresas brasileiras.
De acordo com a presidente do Conselho de Administração do IBGC, Deborah Wright, a cultura de governança é capaz de ajudar o Brasil a superar esses desafios.
“A cultura de governança corporativa exige uma liderança ética, inovação, tecnologia e sustentabilidade socioambiental. Visamos um Brasil estratégico da estrutura da sociedade até a competitividade das empresas. A ética é o pilar principal da governança corporativa e gestão de riscos é fundamental para a governança das empresas. Os princípios de governança mantêm as empresas equilibradas e essa é uma tarefa dos líderes”, pontuou.
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A transição cultural como motor para a inclusão, inovação e sustentabilidade e que a governança é o alicerce do ESG foi a tônica do painel Governança em evolução: o papel da transição cultural na geração de valor.
O presidente-executivo do Grupo Edson Queiroz (GEQ), Carlos Rotella – primeiro executivo de fora da família a assumir a presidência do Grupo – destacou a força da cultura em uma empresa familiar e como valores ligados ao legado do fundador podem proteger o negócio.
“A cultura familiar gera uma proximidade maior na hora da tomada de decisão. Imaginei que apresentando um business case com alta rentabilidade, ele seria aprovado. A proposta era incluir alcoólicos no portfólio. Era um business case com tecnicidade e a família reprovou. Aquilo foi chocante, mas me trouxe um grande aprendizado: o alinhamento dos sócios vem baseado em valores. A empresa familiar não transgride os seus valores”, analisou Rotella.
Governança corporativa contribui na busca pela justiça climática
Governança climática: saindo da retórica para a prevenção de tragédias foi o tema da conversa entre a conselheira – pioneira dos ODS pela ONU em finanças sustentáveis – membro do comitê consultivo do Chapter Zero Brazil (IBGC), Denise Hills; e a conselheira de administração e fiscal da Future Carbon, Instituto Inhotim, WCD Brasil e Conselheira 101, Jandaraci Araujo.
Diante do cenário radical de incerteza, em que o conhecimento acumulado não é capaz de dar respostas eficientes para a solução de crises globais como as mudanças climáticas e eventos climáticos extremos, reconhecer a importância desses assuntos sobre a tomada de decisão nos negócios é fundamental para garantir a perenidade das organizações.
“O grande desafio é dar materialidade ao tema das mudanças climáticas. Nós já temos evidências estatísticas que podem subsidiar estratégias e evitar decisões erradas. Toda companhia deverá conhecer, medir e divulgar os impactos, seja por compliance ou inteligência estratégica. Isso é urgente”, analisou Denise Hills.
A Justiça Climática – termo usado para enquadrar o aquecimento global como uma questão ética e política, em vez de uma questão de natureza puramente ambiental ou física – para a proteção das populações mais vulneráveis e também dos negócios, também foi assunto do painel.
“Precisamos trazer a governança corporativa multinível também na perspectiva da justiça climática, trazendo a economia circular. A bioeconomia e a economia circular permitem reduzir o impacto sobre os biomas, gerar renda nas comunidades, incentivando a economia local e através disso, mitigar com clareza e transparência os riscos, gerando oportunidades e novos negócios”, pontuou Jandaraci Araujo.
Comunicação estratégica na governança corporativa

Na gestão corporativa, mais do que uma atividade acessória, a comunicação – interna e externa – é vista como estratégica para a construção de um ambiente de negócios seguro. O tema apareceu de forma direta e indireta durante o 25º Congresso do IBGC.
No painel Stakeholders: formas de priorizar o relacionamento e a comunicação, a gerente-geral e VP Corporativa da Novo Nordisk Brasil, Isabella Wanderley, analisou a necessidade de um fluxo livre de comunicação entre as diferentes unidades de uma empresa.
“Uma estratégia de comunicação começa com a reputação da empresa. Tem que vir dos valores da organização e o conselho tem um papel importante no gerenciamento do que está sendo dito. Precisamos de um radar muito mais amplo do que antes, uma preparação para saber as posturas e respostas da empresa, além de uma fluidez de comunicação entre as unidades locais e globais. Além disso, sempre respeitar a dinâmica local. A pior coisa que pode acontecer em um momento de crise é a companhia não conseguir responder”, ponderou Isabella Wanderley.
O CEO da Latam Airlines Brasil, Jerome Cadier, seguiu a mesma linha de raciocínio, destacando a necessidade de um histórico de transparência capaz de sustentar a credibilidade da organização em momentos de crise.
“A comunicação tem que ser pautada na verdade. E precisamos entender que é uma conversa, que tem duas mãos. No negócio da aviação a gente vive pequenas crises diárias. Cada reação constrói esse estoque de transparência que gera reputação. A comunicação deixou de ser corporativa para ser pessoal. Todos que estão nas empresas comunicam em nome dela, resta saber que comunicam de forma alinhada, como a empresa precisa. Precisamos garantir coerência entre as comunicações oficiais e o que os executivos dizem nas suas redes pessoais”, destacou.

No painel “A nova fronteira da sustentabilidade”, o diretor de Estratégia Econômica do Safra, Joaquim Levy, as empresas brasileiras precisam estreitar o relacionamento com os seus stakeholders.
“Todas as empresas no Brasil têm uma exposição ao ambiente enorme, basta você ver o tamanho da agricultura, da mineração, da geração de energia porque tudo isso tem a ver com a natureza, com o ambiente. Nenhuma empresa vive sozinha e ela precisa se comunicar. Se a empresa não olhar os stakeholders e cuidar de todos os relacionamentos, ela vai se perder”, avaliou Levy.
Minas Gerais no Congresso do IBGC
Mais de 40 empresários mineiros estiveram no 25º Congresso de Governança Corporativa, em São Paulo. Para o coordenador-geral do Capítulo Minas Gerais do IBGC, Luís Gustavo Miranda, em Minas a governança corporativa tem contornos específicos para atender às características e necessidades dos setores mais importantes na economia do estado: mineração e agronegócio.
“Essas são atividades de grande impacto sobre o meio ambiente e as pessoas, mas temos empresas que são exemplo para o mundo, inclusive, de forma pioneira e um esforço dos setores para movimentar as cadeias produtivas no sentido da sustentabilidade. Precisamos valorizar o que a gente tem feito e, claro, ainda temos muito para ser feito. Reconhecer que a gente tem uma trajetória muito longa, mas também que a gente já fez muito”, completou Miranda.
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