Conselhos das empresas veem riscos climáticos, mas agem pouco

Embora a pauta climática já tenha chegado às salas de conselho das empresas mineiras, ela ainda não se traduziu em ações concretas. É o que aponta a terceira edição do estudo Board Scorecard: a atuação dos conselhos frente aos impactos climáticos e à estratégia net zero (2025), conduzido pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Segundo o levantamento, três em cada quatro conselheiros reconhecem os riscos das mudanças climáticas, mas menos da metade afirma que suas companhias possuem metas de descarbonização, mecanismos de monitoramento ou integração do tema à remuneração executiva.
Para o diretor de Conhecimento e Impacto do IBGC, Luiz Martha, o desafio é transformar essa percepção em ações práticas: “Mais do que reconhecer riscos e oportunidades, é preciso transformar esse cenário em ações estratégicas estruturadas, priorizar a agenda climática, estabelecer mecanismos de monitoramento e garantir a consistência do que é reportado ao mercado”, afirmou.

Entre os respondentes, 41,1% afirmaram que seus conselhos já consideram planos de adaptação aos impactos físicos das mudanças climáticas, e 53,3% disseram que há mecanismos para rastrear e verificar informações de desempenho ambiental.
Por outro lado, 60% discordam que suas empresas incluam metas climáticas de forma mensurável na remuneração dos executivos, e 45,5% apontam que suas organizações ainda não definiram uma estratégia de emissões líquidas zero (net zero) nem aderiram ao compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Esses dados, segundo Martha, refletem lacunas na governança climática das corporações, especialmente no alinhamento entre conselhos e alta gestão, e na integração de métricas ambientais às políticas de incentivo. “É fundamental transformar a compreensão e as discussões em resultados, definindo metas concretas e mecanismos de responsabilização”, disse o diretor.
Avanços graduais
A pesquisa indica melhora em relação às edições anteriores, especialmente na comunicação sobre a importância da meta climática, que passou de 37,5% em 2022 para 51,1% em 2025, e na inclusão do tema na estratégia central dos negócios (de 42,3% para 56,7% no mesmo período). Os planos de adaptação climática também evoluíram, de 26% para 41,1% dos respondentes.
A terceira edição do levantamento do IBGC contou com 90 participantes, entre conselheiros de administração (28,9%), consultivos (22,2%) e fiscais (8,9%), além de diretores-executivos (30%) e presidentes (10%) de diferentes empresas. A maior parte atua em companhias de capital privado não listadas em bolsa (56,7%), e 27,5% pertencem a organizações com faturamento anual entre R$ 1 bilhão e R$ 100 bilhões.
O estudo é baseado no Board Scorecard, ferramenta desenvolvida pelo Chapter Zero, no Reino Unido, e adaptada ao contexto brasileiro. Ele avalia quatro dimensões: liderança, responsabilidade, estratégia e mensuração.
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