Travessia de Furnas revela o Mar de Minas para turistas
Inaugurado em 1963 para ser o reservatório da usina hidrelétrica de Furnas, o Lago – o famoso Mar de Minas -, muito mais do que gerar energia, passou a forjar o destino e o caráter das 34 cidades que vivem em suas margens. Com 3,5 mil quilômetros de perímetro, abriga uma população que ultrapassa um milhão de pessoas.
A cidade mais famosa do Circuito Turístico Lago de Furnas talvez seja Capitólio, com suas escarpas. Mas universidades, plantações de café, polos de tecnologia, esportes radicais, contemplação da natureza, arte, religiosidade e festivais gastronômicos também movimentam a região.
Com o objetivo de ajudar os turistas a conhecerem algumas dessas paisagens sob um ponto de vista diferente, começa a operar, a partir de dezembro, a rota Cruzeiro pelo Mar de Minas, uma travessia náutica que liga Fama a Capitólio.
O passeio, que pode durar de três a cinco dias, vai depender do interesse dos turistas. Com direito a muitas histórias, à típica gastronomia mineira e a uma paisagem de tirar o fôlego, as embarcações têm capacidade para receber até 25 viajantes.
De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Social, Cultura e Turismo de Fama, Douglas Jesus Prado Futemma, o turismo ainda não é a principal atividade econômica, mas é compreendido como uma ferramenta essencial de diversificação da economia e fundamental para o futuro da cidade.
“Fama é a Princesa de Furnas. Somos a cidade da tilápia e temos um dos melhores carnavais de rua do Brasil, além do turismo de contemplação. Agora estamos investindo no Cruzeiro Mar de Minas como um novo produto turístico. Essa rota nasceu do desejo de unir as duas cidades. Precisávamos criar um atrativo para o Lago que, até aqui, não existia. Esse esforço abre oportunidades também para investidores do setor, especialmente no segmento de hospedagem em nossa cidade”, explica Futemma.
Segundo a presidente do Circuito Turístico Lago de Furnas e responsável pelo cruzeiro, Thaíse de Castro, o passeio será operado, neste primeiro momento, pela agência Sapucaia Turismo, e a expectativa é gerar 10 empregos diretos. O percurso terá rotas de dois, três e cinco dias, com hospedagem, alimentação e degustação de produtos especiais produzidos na região – como vinhos, queijos e cafés – incluídos. A expectativa é que a diária por pessoa, no trajeto de três dias, fique em torno de R$ 2 mil.
“É um desafio realizar essa navegação. São destinos distantes, e ligamos Fama a Capitólio, passando pelos municípios de Carmo do Rio Claro, Guapé, Formiga, Pimenta, São José da Barra e São João Batista do Glória. Vamos visitar essas cidades e promover experiências gastronômicas e culturais. Estamos bastante animados e já temos lista de espera para a primeira viagem, que deve acontecer no fim de novembro ou início de dezembro. Nosso objetivo é criar rotas integradas, inclusive para os moradores da região. Queremos que as outras cidades também promovam seus passeios e ampliem sua oferta turística. A água nos une”, afirma Thaíse de Castro.
Furnas: pequenos negócios acolhem e encantam turistas no Mar de Minas
Não é só à beira do lago que o turista se diverte e aprende no circuito. Em Perdões, a Cachaçaria João Mendes é parada obrigatória. O empreendimento familiar está na segunda geração e já começa a integrar os netos. A produção de dois mil litros da bebida por dia é envelhecida em diferentes tipos de madeira e também dá origem a outras bebidas, como os licores de sabores variados.
Para o presidente da Cachaçaria, João Mendes (o filho), o segredo da empresa, que começou a exportar após ser procurada por compradores internacionais, está em ter preservado o modo de fazer original. Aos visitantes, ele reserva um tour pela propriedade, com maquinários preservados, e explica pessoalmente os detalhes da produção.
“Há dois anos vendemos para os Estados Unidos. Os brasileiros estão ensinando os americanos a beber. A gente não sabe como vai ficar por causa dessa questão da tarifa, mas ainda temos entregas confirmadas a fazer. Por enquanto, não houve impacto. Exportamos a marca João Mendes, e marcas terceiras que fabricamos, como Rio Negro e Solimões, também já estão sendo exportadas. O bom de vender para fora é que é um dinheiro grande e recebido de uma vez só. E a cachaça é igual ao vinho. O vinho é uma produção antiquíssima, e as pessoas gostam de visitar as vinícolas. Hoje, aqui em Minas, está acontecendo isso: as pessoas estão descobrindo as cachaçarias e as queijarias. Mas o mineiro precisa se soltar mais para fazer o negócio acontecer”, pontua o presidente da Cachaçaria João Mendes.
Em São José da Barra, a empresária e artista plástica Nina, dona da Vivenda do Rio, encontrou um lugar para chamar de seu há 20 anos e, aos poucos, vem percebendo o aumento no volume de turistas na cidade. Mas isso não a impede de seguir cultivando uma clientela da região – fiel e exigente.
“Eu vim para cá quando meu ex-marido foi chamado para trabalhar na usina. A partir disso, encontrei meu lugar no mundo e fui me tornando mineira. Eu era professora e sempre gostei de arte. O artesanato e a arte mineira são de excelente qualidade, e comecei colecionando, indicando para amigos e parentes, até que esse amor virou negócio. Eu busco os artesãos locais e os ajudo a compreender o valor único do que produzem. O movimento de turistas na cidade não é grande, mas tenho clientes que vêm aqui há anos e já sabem que vão encontrar peças originais, com identidade”, pontua Nina.
Há mais de oito anos, o casal Rony e Cris Monteiro leva turistas do Brasil e do mundo para passeios de lancha, Jeeps 4×4, bicicletas aquáticas, quadriciclos e até asa-delta, por paisagens de tirar o fôlego na região de Furnas e da Serra da Canastra.
“Muita gente vem pra cá pensando apenas em Capitólio, que é, realmente, uma cidade bem estruturada e com atrativos incríveis. Mas a região do Lago de Furnas é muito mais do que isso. Tudo começa em São José da Barra e São João do Glória, com a construção da hidrelétrica de Furnas. Cada cidade tem seus atrativos e sua história, e tudo isso é alinhavado por Furnas, o nosso Mar de Minas”, analisa Rony Monteiro.
Memória do Mar de Minas: hidrelétrica de Furnas deve receber turistas em breve
A razão de ser do Lago de Furnas – a usina hidrelétrica – ainda não é um destino turístico, mas está se preparando para começar a receber visitantes. Quando idealizada e inaugurada por Juscelino Kubitschek, em 1963, era responsável por produzir cerca de 33% da energia gerada no Brasil naquela época.
A hidrelétrica, construída entre os municípios de São José da Barra e São João Batista do Glória, deu origem ao maior lago artificial do mundo, que tem ao seu entorno mais 32 cidades: Aguanil, Alfenas, Alpinópolis, Alterosa, Areado, Boa Esperança, Cabo Verde, Camacho, Campo Belo, Campo do Meio, Campos Gerais, Cana Verde, Candeias, Capitólio, Carmo do Rio Claro, Conceição da Aparecida, Coqueiral, Cristais, Divisa Nova, Elói Mendes, Fama, Formiga, Guapé, Ilicínea, Juruaia, Lavras, Machado, Muzambinho, Nepomuceno, Paraguaçu, Perdões, Pimenta, Poço Fundo, Ribeirão Vermelho, Serrania, Três Pontas e Varginha.
De acordo com a responsável por receber os visitantes na hidrelétrica, Stephanie Driessen Van Dijk, Furnas foi criada para dar suporte ao crescimento industrial que o Brasil experimentava naquela época e, sozinha, era responsável por abastecer as três maiores capitais do País: Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
Hoje chamada Furnas Centrais Elétricas, é subsidiária da Eletrobras – empresa privada, de capital aberto – e permanece determinante para que os brasileiros sigam se desenvolvendo, influenciando inclusive o regime de abastecimento de água de países do Cone Sul, especialmente a Argentina.
Infelizmente, a usina ainda não recebe turistas, mas esse é um projeto que já está sendo estudado – a exemplo do que ocorre na hidrelétrica de Itaipu, no Paraná. Por enquanto, apenas as escolas da região podem solicitar visitas para turmas de crianças e adolescentes. “A hidrelétrica de Furnas é o coração do Mar de Minas. Por enquanto, recebemos apenas estudantes da região, mas existe um estudo para receber turistas no futuro. Temos uma grande história para contar. Imagine construir tudo isso há mais de 60 anos, com a tecnologia daquela época. Hoje todos os controles são digitais, mas preservamos a sala de controle original. Era uma sala com um grande número de profissionais altamente qualificados diante de um painel que ocupava a parede inteira. Essa é uma grande obra não só de engenharia, mas de um esforço nacional que mudou os rumos do nosso País e que encanta até hoje os estrangeiros que recebemos aqui. Essa história merece ser conhecida por todos”, avalia.
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