DC LIVROS | 03/10
Apagão da mente
Até 2025, cerca de 71% da população mundial com 65 anos ou mais sofrerá de alguma doença da mente e o Mal de Alzheimer está no topo desta lista. Quem já teve um caso na família ou cuidou de um paciente sabe: a sua evolução é inevitável e, à medida que o tempo passa, a pessoa fica cada vez mais dependente. O que está em jogo é o bem-estar tanto de quem está doente quanto dos familiares, que precisam de apoio e orientação. Essa dificuldade em saber como lidar com a doença fez o selo editorial Cienbook, da Editora Edipro, trazer para o Brasil o livro Alzheimer: o dia de 36 horas – Cuidando de quem tem e de quem cuida, uma verdadeira bíblia para famílias, cuidadores e profissionais de saúde, além dos próprios pacientes. Escrito pelo médico neurologista norte-americano Peter V. Rabi e pela consultora do Alzheimer’s Association, Nancy L. Mace, o livro vai além de um recurso essencial para quem trata Alzheimer. Esse guia auxilia tanto as pessoas que sofrem com esse problema quanto as que convivem com elas, apresentando dicas úteis para dificuldades do cotidiano com uma visão positiva e realista dos fatos. Desde os riscos ligados a estrutura das moradias, o preparo das refeições, a forma como se deve conduzir a higiene pessoal, até problemas como os de locomoção e equilíbrio. Além de informações sobre as mais recentes pesquisas e terapias, a edição inclui ainda uma descrição detalhada dos diferentes tipos de demência e como obter um diagnóstico; os sintomas comportamentais e neuropsiquiátricos; as estratégias para resolver conflitos familiares; abordagens para retardar a evolução da doença e também dicas práticas para o cuidador evitar esgotar seus recursos emocionais e físicos. (Alzheimer: o dia de 36 horas – Cuidando de quem tem e de quem cuida, Peter V. Rabi e Nancy L. Mace, selo editorial Cienbook – Editora Edipro, 448 páginas, R$ 89)
Diário da catástrofe brasileira
Um dos mais originais romancistas brasileiros da atualidade, Ricardo Lísias estreia na não ficção com um diário que começou a ser escrito na noite de 28 de outubro de 2018, quando o atual presidente foi eleito. Diário da catástrofe brasileira (Editora Record) é uma busca quase desesperada do autor para compreender como pouco mais de 57 milhões de brasileiros depositaram na urna o voto em um candidato desprovido de um programa de governo organizado e orgulhoso de suas declarações racistas, machistas e homofóbicas. Entram na mira da lupa de Lísias não apenas o juíz Sergio Moro, analisado a partir de suas leituras preferidas, os gibis do Batman, e os seguidores do escritor Olavo de Carvalho, como também analistas políticos e intelectuais progressistas que seguiram negando a possibilidade da eleição do atual presidente mesmo nas vésperas do pleito eleitoral. Ilustrado, o livro exibe uma vasta coleção de “memes” que servem de apoio à leitura da estética e do discurso dos grupos de ódio. Ao longo das 350 páginas, o leitor não encontrará uma única conjunção adversativa, opção autoral que explicita o momento polarizado. (Diário da catástrofe brasileira, Ricardo Lísias, Editora Record – Grupo Editorial Record, 354 páginas, R$ 62,90)
Ficção existencial: a busca pelo significado
O Outro Significado, lançamento do jornalista paulistano André Puga, é ambientado em Pinneápolis, cidade fictícia que recebe o protagonista da história para a nova escola. Wes sonha em ser escritor, mas se vê obrigado a estudar para ingressar em uma universidade pública, atendendo aos desejos do pai. Na nova rotina, Wes precisa lidar com bullying, preconceitos e drogas, em meio as novas amizades nem sempre construtivas. Ele identifica um importante amigo e aliado quando conhece Abelardo, o faxineiro da escola, que lhe mostra a vida sob um novo prisma. Por um momento, em meio a tantas dificuldades e anseios, a missão escritor passa a ser postergada… Rebecca, sua melhor amiga, percebe as mudanças no comportamento do protagonista. A família de Wes está um caos: seu pai se candidata a vice-prefeito da cidade, enquanto a mãe pede separação. Leitura importante para o universo jovem que vivencia conflitos internos e externos na época escolar e universitária, O Outro Significado reúne os sentimentos e experiências vividas pelos leitores nessa época da vida. (O Outro Significado, André Puga, Editora Giostri, 136 páginas, R$ 54,90)
Liberdade: uma palavra excluída do dicionário
Qual preço você pagaria para viver em uma sociedade sem fome e violência? Em Aghaia, os moradores foram privados da liberdade. Eles trabalham 14 horas por dia e não podem ultrapassar os muros dos distritos. A realidade, que se passa no pós-guerra, em um período marcado por tragédias ambientais e escassez de recursos naturais, forma a trama de A Rainha Perdida, primeiro volume da trilogia da escritora Ana Cristina Melo. A obra marca a estreia da Editora Opala no mercado. Um dos países criados pela nova divisão mundial, Aghaia é governado por Petrus, um rei que mantém um controle cruel sobre todos a ele subordinados. Nesse cerco encontra-se Ellena, jovem nascida no distrito 7 que descobre o improvável: a palavra “liberdade” foi abolida do dicionário. Envolto em discussões políticas e sociais, a história também se prende em um triângulo amoroso entre Ellena, Lukhas e Reed, os príncipes herdeiros dessa sociedade distópica. Esta é, aliás, uma das principais marcas da autora, que cria metáforas a partir de vivências cotidianas para fazer o leitor repensar “verdades” enraizadas e há muito reproduzidas. A Rainha Perdida toca em diferentes temas essenciais, como a perspectiva de crescimento pessoal dentro das favelas, as diferenças entre áreas nobres e subúrbios, passando pela sustentabilidade e as novas tecnologias para utilização dos recursos naturais. Uma ficção distante dos enredos fantasiosos, segundo a autora, “com personagens tão humanos quanto eu e você”. (A Rainha Perdida, Ana Cristina Melo, Editora Opala, 368 páginas, R$ 49,90)
Baluarte do pensamento contemporâneo
Com sua longa experiência como pesquisador e leitor do ser humano, aos 99 anos recém-completados, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin fala sobre a necessidade de transcender as disciplinas que limitam a compreensão dos fenômenos vivos. Morin explora, em Conhecimento, ignorância, mistério, os novos territórios do conhecimento. Aos seus olhos, o mistério de forma alguma ofusca o conhecimento que leva a ele. Isso nos torna conscientes dos poderes ocultos que nos controlam e nos possuem, como demônios dentro e fora de nós. Mas, acima de tudo, estimula e fortalece o sentido poético da existência. Este livro, que chega às lojas pela Bertrand Brasil, é fundamental para entender o século XXI. Trata-se de um ensaio profundo sobre os limites do conhecimento, do ser humano, e uma reflexão acerca do mistério que a humanidade carrega dentro de si. (Conhecimento, ignorância, mistério, Edgar Morin – tradução de Clóvis Marques, Editora Bertrand Brasil – Grupo Editorial Record, 112 páginas, R$ 49,90)
Romance de época retrata condições femininas do século XIX
Amores improváveis, perdas, preconceito e diferença de classes. Esses são elementos que marcam a narrativa de A Dama das Lavandas, escrita pela professora de português e espanhol Anne Valerry e lançada pela Novo Século Editora. Por trás de um romance conturbado ambientado no século XIX e repleto de reviravoltas, A Dama das Lavandas apresenta a história da jovem órfã Victoire Martinet. A jardinista acredita que pode mudar a condição feminina de sua época, mesmo sendo uma pobre mulher que semeia lavandas no campo ao lado de sua tia Augustine. No entanto, trabalhar apenas no plantio e colheita de lavandas não era suficiente para suprir todas as despesas da casa. Ao passar por dificuldades financeiras, Victoire se obriga a criar uma irresistível fórmula de perfume com a intenção de conquistar a nobreza parisiense, a fim de salvar sua família. Mais do que um livro de romance de época, A Dama das Lavandas traz ensinamentos reais sobre a vida. Com uma escrita dinâmica e surpreendente, Anne Valerry consegue transmitir lições importantes sobre empoderamento feminino, preconceito, machismo, luta de classes e ainda atenta as mulheres em relação às escolhas para o futuro. A obra também consegue misturar uma excitante história de desejos arrebatadores com uma pitada de humor que conquistará todas as leitoras. (A Dama das Lavandas, Anne Valerry, Novo Século Editora, 440 páginas, R$ 59,90)
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