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Dia Internacional da Cerveja: Minas chega a 235 cervejarias e consolida mercado artesanal

Estado é o terceiro com mais cervejarias no Brasil e teve um crescimento de 155% em sete anos, com destaque para polos de produção como Nova Lima e Belo Horizonte
Dia Internacional da Cerveja: Minas chega a 235 cervejarias e consolida mercado artesanal
Monka, de BH, produz cerveja sour de goiaba e jabuticaba. | Divulgação/ Monka

A primeira sexta-feira de agosto é sempre o Dia Internacional da Cerveja. Pelo menos desde 2007, quando a data surgiu na Califórnia, nos Estados Unidos, e se espalhou mundo afora. Em Minas Gerais, com suas 235 cervejarias registradas – 20 delas instaladas em Belo Horizonte –, a comemoração ganhou força.

E este é um mercado que se consolida ano a ano. Dados do Anuário da Cerveja, produzido e publicado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) em 2024 (o relatório de 2025 deve sair neste mês, conforme informou a pasta ao Diário do Comércio), mostram que, em 2017, o Estado contava com apenas 87 estabelecimentos cervejeiros.

A alta em sete anos foi de 155% no número de marcas para um produto que, de acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas) e fundador da cervejaria Prussia Bier, Fernando Cota, além de gerar empregos, renda e impostos, reflete o perfil cultural dos mineiros.

“O mineiro gosta de prosear, de estar em roda, em família no fim de semana, em bar, restaurante, visitando cidades históricas e do interior. A cerveja está ligada à nossa cultura, à tradição de receber, de parar para ouvir”, afirmou. Não por acaso, Minas é o terceiro estado com mais cervejarias artesanais.

Ranking de cervejarias por estado:

  • São Paulo: 410
  • Rio Grande do Sul: – 335
  • Minas Gerais: 235
  • Santa Catarina: 225
  • Paraná: 171

Evolução no número de cervejarias no País:

  • 2000: 40
  • 2010: 114
  • 2015: 332
  • 2023: 1.847

Produção artesanal é destaque no Estado

Em Minas, a produção de cerveja é impulsionada pela combinação de tradição, inovação e empreendedorismo, com destaque para a produção artesanal e rótulos diversificados em estilos como IPA, weiss, stout, pilsen e sour.

Não há dados específicos sobre a produção no Estado, mas o Brasil tem uma produção superior a 15 bilhões de litros de cerveja por ano, segundo o Mapa. Desse total, 8,2 bilhões são produzidos somente na região Sudeste.

Monka produz cervejas de acordo com a estação do ano

Das mais de 200 marcas mineiras, 20 estão sediadas em Belo Horizonte, Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco desde 2019 e “Capital dos Bares”, com 178 botecos para cada 100 mil habitantes, conforme a Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Uma das mais novas cervejarias belo-horizontinas nasceu no fim de 2023. Trata-se da Monka, que produz bebidas de acordo com a estação do ano: na primavera e no verão, produtos mais refrescantes; no outono e no inverno, combinações mais potentes.

A fórmula tem dado certo e a empresa produz cerca de 10 mil litros por mês na fábrica, que também é bar e restaurante da marca. A Monka não é vendida em mercados. Para experimentá-la, é preciso ir ao local (rua Nossa Senhora de Lourdes, 111 – Olhos D’Água, região Oeste de Belo Horizonte) ou a eventos dos quais participa, como o Festival Internacional de Cerveja e Cultura (FICC), que será realizado no dia 23 de agosto na Praça da Assembleia.

“O que nos caracteriza é o cuidado na seleção de ingredientes e na produção da cerveja artesanal, independentemente do estilo. Só utilizamos insumos de alta qualidade”, relata Guilherme Marinho, um dos três idealizadores da empresa, que estuda ampliar a comercialização do produto para supermercados.

Algumas das bebidas da Monka são:

  • Mico Leão Dourado (Pilsen): cerveja produzida com maltes e lúpulos nobres alemães, que conferem notas florais, herbais e amargor suave. Dourada, com aroma maltado lembrando cereais e pães, leve e refrescante, corpo baixo e excelente drinkability, 4,4% de teor alcoólico e IBU 11.
  • Kong (Export Stout): cerveja bem escura com sabor forte, como café e chocolate amargo. Ela tem mais álcool e é mais encorpada, além de possuir uma espuma cremosa e densa, 6,30% de teor alcoólico e 30 de IBU.
  • Sagui Hazy (New England IPA): cerveja produzida com malte alemão e lúpulos nobres americanos, que conferem notas florais, herbais e amargor médio. Possui aroma e notas frutadas como maracujá, manga e abacaxi, corpo médio e excelente drinkability, 8% de teor alcoólico e IBU 39.
  • Catharina Sour: primeiro estilo brasileiro reconhecido internacionalmente pelo Beer Judge Certification Program (BJCP). É uma sour de goiaba e jabuticaba, refrescante, leve, acidez marcante, graduação alcoólica baixa (4%) e amargor quase inexistente, 6 de IBU.

Mercado passou por ‘boom‘ e ajustes de qualidade

Segundo Marinho, a preocupação com a qualidade tem mantido bons produtos no mercado. Ele afirma que, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, houve um boom de cervejarias, o que aumentou a concorrência e reduziu o rigor de alguns rótulos.

“Para sobreviver, muitas começaram a utilizar insumos de baixa qualidade ou reduzir a quantidade. A cerveja perdeu qualidade e, por isso, o consumo caiu. Vários rótulos do Jardim Canadá (polo cervejeiro de Nova Lima, na Grande BH) fecharam”, alerta.

Segundo ele, o movimento de fechamento ainda não terminou. “O mercado está selecionando as melhores”, conclui.

Cidades mineiras com mais cervejarias:

  • Nova Lima: 22
  • Belo Horizonte: 21
  • Juiz de Fora: 21
  • Uberlândia: 11

Grupo de BH produz 40 mil litros e distribui em todo País

Alfredo Llana é sócio-diretor das cervejarias Vinil (há 12 anos no mercado), Octopus e Greenhouse Brewery, consideradas superpremium. O trio, produzido em BH e Nova Lima, é distribuído em todo o Brasil.

Cervejaria Octupos
Gupo da cerveja Octupos produz entre 35 e 40 mil litros por mês | Foto: Divulgação/ Octupos

Na capital mineira, ele pode ser provado nos restaurantes do grupo, como Babel (praça Raul Soares) e pizzaria Panorama (rua Sapucaí), além da fábrica da Greenhouse (rua Tomé de Souza, 600, Savassi).

Llana concorda que houve um boom das cervejarias artesanais e que, hoje, o mercado vive um amadurecimento.

“Passamos por algo parecido com o que o vinho viveu há 30 anos: as pessoas estão mais preocupadas com o que consomem. O público quer beber melhor, saber da procedência e dos ingredientes. Não é mais questão de status”, diz.

De acordo com o empresário, isso reduziu a prática de “fazer a qualquer custo”, mas o segmento ainda tem muito potencial de crescimento. Atualmente, o grupo produz entre 35 mil e 40 mil litros por mês.

Setor movimenta cadeia produtiva

O interesse do mineiro pela cerveja movimenta toda a cadeia. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, para cada emprego direto gerado na produção de cerveja, outras 34 ocupações indiretas são criadas.

A cadeia inclui agricultores, fornecedores de insumos, transportadoras, bares, restaurantes, distribuidores e profissionais de eventos e turismo.

Empregos diretos gerados no Brasil pela cadeia produtiva

  • Produção de bebibas: 130 mil
  • Produção de bebidas alcoólicas: 58.863
  • Produção de cerveja: 41.346

Além disso, nos bares e restaurantes, segundo a Abrasel, a venda de bebidas, sobretudo cerveja, representa mais de 50% do faturamento mensal.

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