Dia dos Pais: o exemplo que inspira gerações a manterem os negócios familiares

Entre os processos mais sábios da natureza, a dispersão de sementes se destaca por representar a manutenção dos ecossistemas como são conhecidos hoje. Dos frutos maduros, as sementes germinam na terra para a continuidade de suas espécies e abastecimento da vida. As sementes traduzem também o legado de pais que inspiraram, e ainda inspiram, seus filhos a seguirem com negócios familiares que nasceram no solo fértil de Minas Gerais. Regados com amor, exemplo e sabedoria, os sucessores conduzem empresas que crescem mantendo a tradição ao mesmo tempo em que abrem espaço para o novo.
Gerações que abastecem famílias
Rafaela Nejm (32), sócia e diretora de branding do Grupo Supernosso, recorda das noites em que seu pai, Euler Nejm, chegava tarde do trabalho. Essa dedicação, segundo ela, não passava despercebida em casa, onde Rafaela e o irmão, Rodolfo, acolhiam o cansaço do pai e começavam a se despertar para os negócios.
“A gente se apegou e percebeu que todos nós estávamos juntos. É uma vida inteira observando meu pai e entendendo que nem tudo são flores. Ele sempre nos envolveu nos negócios, plantou sementinhas. Eu lembro dele me desafiando a vender chicletes no balcão do Ceasa, porque ele tem esse senso nato de negociador. E tudo isso ficou no subconsciente, uma riqueza muito grande que acompanha a minha vida”, conta Rafaela Nejm.

Ainda segundo Rafaela, o cuidado com o outro e a sua humildade em conduzir os negócios são marcas do pai que a fizeram querer somar e fazer parte. O conhecimento e a experiência de Euler, além de sua capacidade de ouvir com sensibilidade os sócios, significam também uma preparação para a sucessão da empresa.
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“A sucessão é um processo de médio a longo prazo. Nós precisamos de tempo para absorver o máximo da gestão dele para que no momento certo a gente assuma mais responsabilidades. Hoje, nós temos um projeto de governança corporativa que é muito importante para que o processo seja leve, profissional e muito respeitoso”, explica Rafaela.
Para Rodolfo Nejm (38), também filho e sócio de Euler, o amor pelo negócio também começou desde cedo, quando o pai o levava, em suas férias escolares, para o escritório. Ele passou por todas as áreas do supermercado, experiências e responsabilidades que hoje fazem a diferença na gestão da diretoria comercial e de operação do Supernosso.
“Eu sigo o exemplo de dedicação no trabalho, seriedade, força de vontade e equilíbrio que vejo em meu pai. Para mim, essas são as palavras que mais representam o que carrego hoje na minha vida. Com esses valores enraizados, depois, naturalmente, você começa a seguir a partir da experiência”, afirma Rodolfo.
Entre os irmãos, além do consenso do exemplo que o pai representa, do orgulho e da admiração, acende ainda o brilho nos olhos de abastecer milhares de famílias mineiras, uma semente que o avô plantou, que o pai desenvolveu com maestria e que deve crescer com o fôlego da 3ª geração.

Sabores artesanais de pais para filhos
As plantações de frutas para o mineiro despertam sentidos. As gerações da família Mol, de Ponte Nova, ressignificam a goiabada cascão que chega não só às famílias do estado, mas aos brasileiros. A tranquilidade do senhor Olavo é, hoje, uma característica de José Renato Carneiro Mol, que mantém a tradição da família na produção do doce.
“O pai toda vida foi uma pessoa muito tranquila e prezava pela produção bem feita. Ele queria qualidade e não quantidade. Hoje, o que temos de diferente na empresa é o maquinário, que segue as exigências dos órgãos de vigilância sanitária. Ele era um apaixonado por doce de goiaba e achava ruim quando não tinha”, lembra José Renato.
A sucessão, no caso da Goiabada Zélia, ocorreu depois que José Renato interrompeu a faculdade de engenharia para ajudá-lo na fazenda, aos 22 anos. Hoje, aos 62 anos, ele já abre caminhos para Lorran Mol, seu sobrinho, que desde novo também trabalha na fábrica artesanal. Além disso, a família conta com outras duas empresas produtoras de doces, que são geridas pelas irmãs Celeste, junto à filha Andrea, e Carminha e seu filho Marquinhos.
A tradição da família significa, também, o meio de vida para muitas famílias que vivem nas redondezas da fábrica. “Os nossos produtos são artesanais, tudo ainda é muito manual. E nós tentamos mostrar à população que eles podem nos ajudar com a produção a partir do plantio de frutas. É uma sequência muito bonita que damos ao trabalho do pai”, afirma José Renato.
Embalo musical guiado
Uma carta com a data da aposentadoria marcou o anúncio da sucessão do senhor Garcia, como é conhecido o fundador das lojas de instrumentos musicais Serenata. À época, o tio de Daniela, Marco Aurélio e Rogério assumiu a presidência da empresa. Mas, antes disso, o pai já havia criado espaço para que os filhos se desenvolvessem profissionalmente na empresa.
Em 1997, Daniela Garcia, aos 20 anos, iniciou na loja como vendedora. Tempos antes, em 1990, o irmão, Rogério, atual CEO do Grupo Classic, do qual a Serenata faz parte, já trabalhava na empresa e se destacava pelo seu amadurecimento. Em 1994, foi a vez do irmão Marco Aurélio ingressar nos negócios em meio à oportunidade de a empresa Serenata se tornar importadora dos produtos Yamaha.

Com o falecimento precoce do tio, em 1998, Rogério precisou assumir a presidência “no susto”, conforme relata Daniela . Os irmãos iniciaram as conversas sobre a estrutura societária da empresa para organizar as relações familiares e de trabalho. “Nós nos perguntávamos como uma loja de varejo poderia comportar tantos sócios. A partir disso, passamos por programas de desenvolvimento, fizemos terapia familiar, estudamos a sucessão e os processos de governança familiar”, conta Daniela.
Ainda de acordo com Daniela, esse processo de aprimorar a estrutura familiar da empresa está em constante movimento e, hoje, já há conversas sobre os novos sucessores. Atualmente, a sócia da Serenata sente gratidão e orgulho pela história iniciada pelo seu pai, que foi reconhecido como um dos protagonistas do segmento da música mineira.
“Os valores que ele nos ensinou em família continuam sendo uma bússola. Eu tenho muito orgulho e muita gratidão por toda semente plantada por meu pai. Me lembro dele como um homem de muita visão, honestidade, garra, que gostava de coisas simples e que me ensinou o valor do trabalho. Ele iniciou como vendedor de sapatos quando jovem, e aos 23 anos empreendeu com coragem e muita vontade. O prazer que tenho hoje ao trabalho certamente vem dele”, conta Daniela.
Família em movimento e a característica dos pais
Patrícia Tensioli (49), CEO da Total Log, viajava de caminhão desde criança com o pai, Ionaldo Amaral. Era o seu programa favorito e forma de ficar mais próxima dele, com quem é muita “agarrada”. Em suas recordações, o presente de aniversário com materiais de escritório e a sua empolgação em recebê-lo mostram que o prazer em trabalhar foi construído com a inspiração que sente em relação ao pai.
“A vivência com ele e a forma como ele sempre me ensinou a importância do trabalho despertou essa vontade de trabalhar desde nova, até porque eu ficava incomodada em receber mesada. Eu queria uma função para justificar. Com 15 anos, eu comecei a trabalhar meio horário na empresa, conciliando com a escola. De lá para cá, passei por todos os setores da empresa, aprendendo com as pessoas”, conta Patrícia.
Patricia se lembra também de ver o pai com 3 caminhões e 1 kombi. Hoje, o negócio da família atende com transporte de carretas pesadas empresas como Magazine Luiza, Fibria Celulose e Via Varejo. A firma, criada em 2001, passou a ser gerida integralmente por Patrícia Tensioli em 2011.
“Em um belo dia meu pai perguntou se era o que eu queria e se eu estava realmente feliz. A partir da minha resposta positiva, ele passou a ser meu conselheiro. A empresa é a minha vida e eu percebia que ele queria independência,… descansar. Hoje, mesmo em viagem, ele está sempre disponível para ajudar em grandes decisões”, lembra Tensioli.
Em sua gestão, conforme conta Patrícia, as características mais marcantes que traz do senhor Ionaldo são a resiliência e a perseverança.
“Ele nunca desistiu, e mesmo em cenários ruins ele tem uma palavra de incentivo. Essa essência dele e também a atitude de olhar com o mesmo olhar para todas as pessoas do processo com a mesma importância me inspiram”, declara.

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