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Dores crônicas afastam profissionais do trabalho e impactam produtividade

Postura inadequada, longas horas diante de telas e falta de apoio dos empregadores contribuem para o crescimento de doenças ocupacionais no País
Dores crônicas afastam profissionais do trabalho e impactam produtividade
Crédito: Freepik

Em recente pesquisa da Onlinecurrículo – plataforma de currículos on-line – 68% dos entrevistados relataram dor física frequentemente devido ao trabalho. A constatação parece refletir o aumento nos afastamentos por doenças ocupacionais, que deixaram mais de 1 milhão de brasileiros incapazes em 2024, segundo o Ministério da Previdência Social – dentre as doenças, a dor na coluna lidera o ranking desde 2023.

Os resultados mostram, ainda, que, apesar do mal-estar físico ser algo comum, 51% dos participantes não recebem nenhuma forma de suporte ou benefício dos empregadores para lidar com desconfortos e dores habituais. Essa falta de apoio pode agravar ainda mais diferentes tipos de incômodos, como dores posturais, enxaquecas, inchaço ou fadiga ocular.

Segundo a médica especialista em saúde mental Jaqueline da Mata, as empresas precisam atuar preventivamente, entendendo o gasto em mobiliário e práticas saudáveis como investimento.

Jaqueline da Mata
Para Jaqueline da Mata, obedecer à legislação é uma obrigação, mas as empresas podem ir além com um custo muito baixo | Crédito: Divulgação Arquivo pessoal

“A legislação brasileira traz uma série de regras para garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável. Obedecer à legislação é uma obrigação, mas as empresas podem ir além com um custo muito baixo. Além da ergonometria, a empresa pode incentivar seus colaboradores a ter práticas saudáveis através de palestras, treinamentos e bons exemplos. Incentivar a hidratação, promover intervalos regulares, conscientizar sobre a importância da atividade física podem ser práticas diárias dentro da organização”, explica Jaqueline da Mata.

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O panorama traçado pela pesquisa está em linha com outros resultados do ministério:

  • Dores na coluna e hérnia de disco foram as doenças que mais geraram benefícios por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) no Brasil em 2024.
  • Do total de 3,5 milhões de afastamentos liberados, doenças relacionadas a dores na coluna lideraram o ranking, com 205,1 mil benefícios.
  • A hérnia de disco ficou em segundo lugar, com 172,4 mil afastamentos, seguida por fraturas na perna, com 147,6 mil concessões.

Para os entrevistados da pesquisa da Onlinecurrículo, existem quatro causas que se destacam no desenvolvimento dos desconfortos durante a jornada de trabalho: postura inadequada ao longo do dia (63%), exposição prolongada a telas (43%), movimentos repetitivos ou esforço físico excessivo (35%) e um ambiente de trabalho estressante (31%).

Para minimizar dores ou desconfortos no ambiente de trabalho

Mais da metade (52%) dos respondentes afirmaram que pausas regulares para alongamento ou descanso seriam a mudança mais impactante para o bem-estar físico no trabalho. A ergonomia também é uma preocupação relevante: 41% dos participantes destacaram a importância de melhorias no mobiliário e suporte para home office, incluindo cadeiras ajustáveis, mesas ergonômicas e apoio para os pés. 

Pensando no espaço de trabalho, 36% dos trabalhadores acreditam que mais áreas de descanso ou espaços para relaxamento durante o expediente fariam diferença na rotina – ambientes planejados para momentos de recuperação, como salas de descompressão, por exemplo. Outros fatores que envolvem o local profissional incluem maior ventilação ou controle de temperatura no ambiente (30%) e um espaço físico mais amplo para circulação e organização (30%).

Por fim, 33% dos entrevistados apontaram que benefícios para a prática de atividades físicas ajudariam na prevenção de dores e problemas musculares, promovendo um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

“Os números são impressionantes. As dores crônicas impactam a saúde mental e tudo isso, claro, a produtividade. As empresas precisam pensar no bem-estar do funcionário para que ele tenha qualidade de vida e trabalhe melhor. Se o colaborador se afasta por um problema prevenível, a empresa perde e a sociedade também perde. A empresa tem que cuidar do funcionário para que ele viva melhor e por mais tempo. Já enfrentamos uma escassez crônica de mão de obra e um colaborador afastado vai ficar cada vez mais caro para a empresa”, afirma a médica.

Dores emocionais também impactam mundo do trabalho

Dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) revelam que cerca de 30% dos profissionais brasileiros sofrem de burnout, impactando diretamente o bem-estar dos colaboradores e o desempenho financeiro das empresas. Além disso, um estudo da Vittude – especialista no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental corporativos, em parceria com o Opinion Box -, aponta que 40% das pessoas percebem o trabalho como uma fonte significativa de estresse e desgaste mental.

Os transtornos mentais são a terceira maior causa de afastamentos entre os trabalhadores segurados no Brasil, representando 38% de todas as licenças concedidas pelo INSS em 2023. Entre 2020 e 2022 – anos da epidemia de Covid-19 -, houve um aumento significativo nesses casos, com crescimento de 30% nos afastamentos por motivos como estresse, ansiedade e burnout.

Isso coloca o Brasil na lista de países onde o adoecimento mental têm maior impacto sobre a população economicamente produtiva. Segundo o relatório anual do Estado Mental do Mundo, divulgado em 2023, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental em um ranking com 64 países, ficando à frente apenas do Reino Unido e da África do Sul e 11 pontos abaixo da média geral.

Não à toa, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foi ampliada. A regulamentação agora exige que as empresas incluam a avaliação de riscos psicossociais nos processos de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). As empresas deverão identificar, gerenciar riscos psicossociais e implementar planos de ação. Isso inclui a reorganização do trabalho para reduzir sobrecarga e melhorar a qualidade de vida dos colaboradores.

Para a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Nacional), Eliane Ramos, a liderança tem papel crucial não só ao antecipar riscos e oferecer infraestrutura adequada para os colaboradores, mas também ao dar exemplo.

“A pandemia mostrou que não dá para ser feliz sozinho. Somos seres sociais e precisamos desse relacionamento e de nos sentirmos acolhidos em um ambiente seguro. Quando a gente fala dos riscos psicossociais, é a liderança que está na linha de frente, não o RH. Ela está conduzindo, motivando, inspirando e o grande desafio é a capacitação para a liderança. Se essa liderança não pratica autocuidado, como vai cuidar do outro? E como vai convencer o outro a se cuidar?”, analisa Eliane Ramos.

Trabalho híbrido promove saúde e ajuda na redução de dores

Trabalhadores híbridos tiram menos dias de licença médica, estão menos estressados e apresentam níveis melhores de saúde e bem-estar, de acordo com uma nova pesquisa realizada com cerca de 4 mil trabalhadores híbridos nos Estados Unidos e no Reino Unido pelo International Workplace Group (IWG).

O estudo descobriu que mais de um terço (36%) dos trabalhadores tiram menos dias de licença médica agora que têm maior flexibilidade sobre como e onde trabalham. E 74% desses trabalhadores estão dedicando mais tempo à saúde preventiva, como exames regulares, check-ups e mudanças no estilo de vida.

O trabalho híbrido, no qual profissionais dividem seu tempo entre um espaço de trabalho local (como um coworking), a sede da empresa e sua casa, oferece maior flexibilidade, melhora no equilíbrio entre vida profissional e pessoal, e economias financeiras significativas para trabalhadores e empresas, além de benefícios importantes para a saúde, conforme a pesquisa mais recente do IWG.

Dentro os trabalhadores no modelo híbrido, 70% sofrem menos com condições de saúde relacionadas ao estresse, enquanto 72% conseguem gerenciar melhor qualquer condição de saúde existente.

O tempo economizado com longos deslocamentos diários é apontado como um fator-chave na redução dos níveis gerais de estresse para 80% dos trabalhadores híbridos. O mesmo fator, também para 80% dos entrevistados, proporciona um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal e sentimentos reduzidos de ansiedade. Isso teve um impacto direto nas condições de saúde relacionadas ao estresse, com 70% dos funcionários sofrendo menos com sintomas como fortes dores de cabeça, problemas digestivos e dores relacionadas à tensão.

Para o CEO Brasil do International Workplace Group (IWG), Tiago Alves, os modelos de trabalho híbrido têm se mostrado uma solução estratégica para empresas e trabalhadores no Brasil e no mundo, proporcionando uma combinação de flexibilidade e bem-estar.

Tiago Alves
Alves: modelos de trabalho híbrido têm se mostrado uma solução estratégica | Crédito: Divulgação IWG

“Em um mercado cada vez mais exigente, essa abordagem não só contribui para a saúde física e mental dos colaboradores, como também eleva a produtividade e o engajamento das equipes”, destaca Alves.

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