Crocheteiras ativam economia criativa em Barão de Cocais
A valorização de saberes e modos de produção locais e o resgate de atividades e vocações tradicionais impulsionam a economia criativa no interior de Minas Gerais. Popularizado nos anos 1990, o conceito de economia criativa diz respeito a um modelo de produção alternativo, que tem como recursos principais a criatividade, o conhecimento e o capital intelectual.
O coletivo Crochetai-vos, de Barão de Cocais, na região Central de Minas, reúne cerca de 40 mulheres com “mãos de fada” que estão descobrindo que a habilidade aprendida com mães e avós é muito mais do que um eco do passado, podendo ser também uma ponte para o futuro.
Apoiadas pelo programa Corredores e Rotas, da mineradora Vale, as artesãs participaram de um processo de cocriação e capacitação com o estilista Ronaldo Fraga. As oficinas, realizadas na cidade, foram um mergulho criativo e afetivo, no qual fios e histórias se entrelaçaram em um trabalho coletivo que uniu tradição e inovação. O resultado foi a criação de peças escolhidas para o desfile do estilista na São Paulo Fashion Week (SPFW), no início de outubro.
De acordo com o diretor da GKS Inteligência Territorial, empresa executora do projeto, Cássio Garkalns, esse é um programa estruturante da Vale nos territórios onde atua em todo o País e não tem relação com as ações de reparação relativas aos rompimentos das barragens de Fundão, em Mariana, e do Córrego do Feijão, em Brumadinho, ocorridos em 2015 e 2019, respectivamente.
O objetivo do Corredores e Rotas é conectar comunidades, saberes e fazeres locais, impulsionando o desenvolvimento sustentável dos territórios por meio do turismo de experiência e da economia criativa.
“O coletivo é um símbolo do poder transformador da economia criativa. Cada peça que elas produzem carrega identidade, memória e pertencimento. Trabalhamos com a valorização dos conhecimentos locais e com o desenvolvimento econômico. O programa acontece desde 2021 e, em Minas, já foi implementado em 17 municípios. Em Barão de Cocais e em mais oito, desenvolvemos ações estruturantes, com um conjunto de iniciativas mais consistentes”, explica Garkalns.
A ação estruturante é baseada em três eixos:
- Apoio ao poder público municipal, oferecendo bases para que políticas voltadas à economia criativa floresçam;
- Fortalecimento da governança de grupos organizados, gerando um legado concreto para as pessoas do território e promovendo a apropriação dos conceitos e ações do programa;
- Capacitação, mentoria das atividades e conexão com o mercado.
Assim, a ideia é que o grupo ganhe autonomia e dependa cada vez menos do programa, sendo capaz de gerar emprego e renda com uma atividade economicamente sustentável e perene.
“Não queremos criar dependência da Vale, mas buscamos que a emancipação dos grupos seja madura e gradual. Nessa agenda, identificamos, junto às crocheteiras, a oportunidade de refinar um bom trabalho que já era feito e mostrar que ele tem um valor diferenciado, além de conectá-las com um mercado mais sofisticado, capaz de pagar por esse produto. Tudo isso gera um sentimento de pertencimento e valor. Trouxemos o Ronaldo (Fraga) como parte de uma estratégia mais ampla, aproveitando as conexões que ele possui. Ele orientou e refinou algumas peças que seriam utilizadas no desfile. Levamos duas representantes do grupo para assistir e foi emocionante”, destaca.
Os resultados do Corredores e Rotas comprovam o impacto da iniciativa. Entre os 87 empreendedores da Rede Criativa pesquisados em setembro de 2025, 91% relataram aumento na visibilidade no mercado local, 88% ampliaram suas redes de contato e 100% declararam crescimento nas vendas. Até o momento, as vendas somaram mais de R$ 408 mil, beneficiando empreendedores de nove municípios mineiros.
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