Conheça o ecossistema de inovação que impulsiona startups em Uberlândia
Destaque nacional como cidade inteligente, Uberlândia, no Triângulo Mineiro, segue fortalecendo o ecossistema de inovação, um dos principais pilares de desenvolvimento local. O alinhamento entre setor produtivo, poder público e universidades impulsiona investimentos privados, que devem atingir R$ 15 bilhões até o fim do ano, com forte presença de startups.
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Uberlândia, Fabiano Alves, destaca que a segunda maior cidade de Minas Gerais possui um dos ecossistemas de inovação mais estruturados do País, com destaque fora do eixo das capitais. “Estamos focados em setores estratégicos, como tecnologia e inovação, que geram valor agregado, empregos de alta qualidade e movimentação financeira para a cidade”, pontua.
Até o fim do ano, a expectativa é que Uberlândia acumule R$ 15 bilhões em investimentos privados, englobando desde grandes aportes de multinacionais até a expansão de startups que iniciaram atividades há poucos anos e hoje ganham projeção internacional.
Recentemente, a cidade anunciou aportes bilionários no data center da RT One e já negocia com outras multinacionais do setor para se instalarem na região. Segundo Alves, o município está em tratativas com outros data centers, de origem americana e chinesa, sendo uma delas a negociação mais avançada, o que reforça o otimismo em relação a novos investimentos para o próximo ano.
A atração de investimentos em inovação e tecnologia em Uberlândia resulta de ações coordenadas há pelo menos vinte anos. O analista do Sebrae Minas, Eduardo Ramos, destaca que o apoio às iniciativas voltadas para inovação e criação de novos negócios começou em 2002, ainda com a associação de empresas Trisoft.
A iniciativa consistia, à época, em uma pequena associação de empresas de tecnologia da informação, formada por empreendedores e pesquisadores do Triângulo Mineiro. “Com o tempo, esse movimento evoluiu e incorporou o conceito de startups”. “Desde então, o Sebrae Minas tem atuado de forma contínua com ações de aceleração, eventos técnicos, meetups e fóruns científicos, contribuindo para fortalecer a cultura de inovação no município”, acrescenta
Biofy desenvolve solução pioneira para combater superbactérias
Com sede em Uberlândia, a startup mineira Biofy passa por uma virada estratégica para se posicionar como uma healthtech, com o propósito de enfrentar a crescente ameaça global das superbactérias. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a resistência antimicrobiana é responsável por mais de 1 milhão de mortes por ano e pode chegar a 10 milhões até 2050.
À medida que os novos antibióticos deixam de acompanhar a evolução dos micro-organismos resistentes, especialistas classificam o cenário como uma “pandemia silenciosa”. Nesse contexto, a empresa aposta na inteligência artificial (IA) “Abby” como caminho para acelerar diagnósticos, orientar decisões médicas e aumentar as chances de sobrevida dos pacientes.
A tecnologia, segundo o gestor de marketing e comunicação da Biofy, Felipe Araújo, identifica com alta precisão o agente causador de infecções, o perfil genético e o grau de resistência microbiana, recomendando o melhor tratamento. “A análise de bactérias com suporte de IA é pioneira no mundo e reduz de cinco a dez dias para apenas quatro horas o tempo necessário para que o médico obtenha um diagnóstico completo”, destaca.
O processo envolve cinco etapas: coleta de sangue, sequenciamento genético, envio dos dados para a nuvem, análise por IA e emissão do relatório clínico. Ao todo, foram dois anos e meio de desenvolvimento até a criação de um software voltado exclusivamente para esse contexto.
Os testes experimentais realizados em São Paulo registraram resultados promissores, com destaque na imprensa internacional do Chile, Colômbia e Estados Unidos. Em Uberlândia, a startup firmou parcerias com laboratórios e espera ampliar o número de amostras para ganhar escala no mercado.
O próximo passo, segundo o executivo, é consolidar os experimentos e articular medidas para reduzir custos e viabilizar a operação comercial, prevista para 2026. “Queremos entregar valor e contribuir para a medicina do País. Para os hospitais, é uma vantagem competitiva, pois podem reduzir custos com pacientes e aumentar o fluxo de leitos”, afirma.
Portão 3 disputa mercado com gigantes financeiras
Fundada como traveltech pouco antes do decreto da pandemia de Covid-19, a startup Portão 3 transformou os desafios em oportunidade para ampliar sua atuação no mercado. A paralisação das viagens corporativas exigiu que a empresa aprofundasse sua proposta de valor, reforçando soluções de gestão, controle financeiro e automação, que se tornaram ainda mais relevantes com a retomada gradual dos serviços.
Com esse movimento, a empresa tornou-se uma plataforma completa de gestão de despesas corporativas, incorporando ferramentas de governança, políticas inteligentes e meios de pagamento integrados para organizações como franquias, indústrias e fintechs. Em 2021, a Portão 3 participou de um processo com o maior acelerador de startups do mundo, reforçando sua curva de crescimento e o potencial da operação.
Com mais de 300 mil usuários ativos, a empresa consolida sua atuação em Uberlândia, disputa mercado com gigantes do setor e projeta fortes investimentos em inteligência artificial e integração de sistemas nos próximos anos. “Estamos trazendo agentes e leitura de informações com IA para detectar anomalias. Se uma transação ocorrer fora do horário estipulado ou apresentar algo incomum, o sistema emite alertas, integrando as plataformas mobile e desktop. Nosso objetivo é oferecer cada vez mais insights e previsibilidade aos clientes”, disse a gestora de marketing, Eduarda Camargo.
Blips projeta faturar R$ 550 milhões no próximo ano apostando em negativados
Outra fintech sediada em Uberlândia que vem ganhando espaço é a Blips, com soluções de crédito, venda e locação voltadas a clientes negativados, que não encontram espaço nos grandes bancos. Com a alta demanda em diferentes frentes de atuação, a empresa projeta encerrar 2025 com faturamento de R$ 350 milhões e ampliar para R$ 550 milhões no próximo ano.
A empresa aposta em um modelo que combina financiamento, produtos de alto valor agregado e suporte técnico nacional. Atualmente, a Blips atende diversos segmentos, como comunicação visual, confecção, estética, fitness, construção civil, alimentação e sorveteria, facilitando o acesso de empreendedores a máquinas e equipamentos profissionais.

De acordo com o gestor de marketing da Blips, Rubens Prudente, pelo menos 50% dos pedidos negados pelos bancos são aprovados pela empresa. Durante a análise, a fintech avalia o potencial empreendedor, a base de clientes e os dados do CNPJ, além de aplicar um questionário próprio que gera um score interno para avaliar a capacidade de pagamento.
“Onde há gente fechando portas, também existem oportunidades. Nosso perfil é atrair quem foi rejeitado pelo mercado financeiro e viabilizar novas possibilidades”, destaca o gestor. Para o próximo ano, a expectativa é ampliar a oferta de equipamentos para outros segmentos, como artesanato, brindes, logística e painéis de LED. Além disso, a empresa direciona esforços à inovação, especialmente para aprimorar a experiência do cliente. “Estamos sempre inovando, seja nos equipamentos, na forma como o cliente acessa as informações ou no motor de crédito. Trabalhamos continuamente para aperfeiçoar esses processos”, ressalta Prudente.
Universidade se consolida como principal motor de engrenagem para novas tecnologias
Um dos pilares dos avanços de Uberlândia no campo da inovação é a forte atuação do meio acadêmico em pesquisa e desenvolvimento de soluções. Como parte desses esforços para ampliar o potencial da cidade, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) vai criar um centro de transição energética, com investimento de R$ 15 milhões dentro do parque tecnológico local, que deve ser inaugurado no segundo semestre de 2026.
O reitor da UFU, Carlos Henrique de Carvalho, destaca que a proposta do laboratório inserido no parque tecnológico é criar sinergia com parceiros, aproximando a pesquisa das empresas e da sociedade.

“Produzimos muito academicamente, mas nem sempre transformamos esse conhecimento em inovação e transferência de tecnologia. Precisamos articular laboratório, sala de aula e prática, colocando os alunos onde deveriam estar, unindo empreendedorismo e educação para inovação”, ressalta Carvalho.
Nos últimos cinco anos, a UFU recebeu aproximadamente meio bilhão de reais em recursos destinados à pesquisa e ao conhecimento, destacando-se entre as principais universidades do País e exportando soluções para o mundo. Ainda assim, a jornada exige transformações mais profundas, especialmente para posicionar o Brasil no cenário global da inovação. “Apesar das dificuldades, o Brasil é o 13º em produção científica, mas apenas o 47º em inovação. O sistema nacional ainda enfrenta barreiras importantes nessa transição, e o principal vetor dessa engrenagem é a universidade, onde a pesquisa nasce. Precisamos ouvir mais as pessoas e buscar soluções para os desafios da sociedade”, finaliza o reitor.
*O repórter viajou para Uberlândia a convite do Sebrae Minas
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