Em MG, o faturamento das cervejarias cai 80%

Apesar de 2020 ter sido marcado pelo aumento de 9,2% no número de registros de cervejarias mineiras no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor enfrenta uma crise sem precedentes. Com as medidas impostas para conter o avanço da Covid-19 – o que limitou o funcionamento dos bares e restaurantes e proibiu a realização de eventos – e a queda do poder de compra das famílias, o faturamento do setor em Minas Gerais já caiu cerca de 80% e vem afetando os negócios. Os dados são do Anuário da Cerveja 2020.
No País, em 2020, alcançou-se a marca de 1.383 cervejarias registradas no Mapa. Somente no ano passado, foram registradas 204 novas cervejarias e outras 30 cancelaram os registros, o que representa um aumento de 174 cervejarias e 14,4% em relação ao ano anterior.
Segundo o Mapa, Minas Gerais encerrou 2020 com um total de 178 cervejarias registradas. O crescimento no número total de registros foi de 9,2% frente a 2019 (163 registros). Nos últimos quatro anos, os registros em Minas cresceram, em média, 27,7%.
De acordo com o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas) e presidente da Federação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Febracerva), Marco Falcone, infelizmente o aumento do número de registro de indústrias no Estado não reflete a situação econômica vivenciada e mostra a intenção de se abrir novas indústrias, o que pode, até mesmo, não se concretizar.
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“Os dados técnicos não são uma realidade econômico-financeira do setor. Enquanto tivemos uma perda de faturamento em quase 80%, Minas obteve crescimento no número de registros. Os dados do Mapa mostram a intenção de se criar novas fábricas de cerveja, o que é positivo para o futuro, mas não é o que está acontecendo agora. Somente no próximo ano será possível analisar o impacto da crise, já que os registros concedidos em 2020 podem ter sido solicitados nos anos anteriores, quando o setor vinha crescendo 15% ao ano no Estado”, disse.
Com 178 registros de cervejarias, o Estado ocupa a terceira posição no País, atrás de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em Minas, o município que concentra a maior parte dos registros do setor é Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), com 23 cervejarias e ocupando o terceiro lugar no ranking nacional. Belo Horizonte tem 18 registros e ocupa a sexta posição nacional. Juiz de Fora, na Zona da Mata, encerrou 2020 com 15 cervejarias registradas e ficou na oitava posição entre as cidades brasileiras com o maior número de registros.
Registros de cervejas
O aumento também foi verificado no número de produtos registrados. Conforme o Mapa, Minas Gerais encerrou 2020 com um total de 5.895 marcas de cervejas. Somente em 2020 foram registradas 1.233. Nova Lima possui um total de 1.053 marcas, sendo que 192 foram registradas em 2020. Belo Horizonte conta com um número total de 613 marcas, destas, 156 obtiveram o registro no ano passado.
“Também tivemos aumento de novos rótulos. As pessoas estão fazendo reserva técnica de ideias para o futuro. É um número alentador em termos de futuro das cervejarias, mas no presente não mostra a realidade. Estamos passando por uma crise muito forte, com o fechamento dos bares, suspensão de eventos e com restrições em supermercados. Além disso, este ano, com a queda de renda da população, até mesmo o delivery, que estava sustentando parte da demanda, caiu. O setor vive um momento de caos”, explicou o vice-presidente do SindBebidas, Marco Falcone.
Falcone explica ainda que a crise provocada pela pandemia de Covid-19 e pelas medidas de contenção aos vírus interromperam o momento de expansão pelo qual o setor estava passando nos últimos anos. Além de demissões, a tendência é de fechamento de empresas no Estado.
“Estávamos em um momento sensacional, com o setor crescendo cerca de 15% nos últimos anos. Fomos severamente afetados. No Estado e no País temos várias empresas do setor fechando e demitindo. É uma situação muito angustiante e com expectativas bastante sombrias”.
Cresce interesse por fabricação em casa
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o número de cervejarias no Brasil teve um crescimento de 30% nos últimos dois anos, sendo que os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina foram as regiões que mais se destacaram dentro do segmento. Até a primeira quinzena de fevereiro de 2020, eram 1.171 cervejarias em atividade, sendo que em 2018 havia apenas 889.
O crescimento pode ser justificado pelo aumento de interesse dos brasileiros em ter sua própria marca de cerveja e produzir a bebida dentro de sua residência. No site de buscas Google, as pesquisas sobre métodos de fabricação da bebida aumentaram mais de 500% nos últimos meses. Com a pandemia e as restrições impostas para evitar a proliferação do vírus, muita gente decidiu aprender como fazer cerveja em casa para consumo próprio ou até mesmo para garantir uma renda extra em um período delicado para todos os setores.
A redução do horário de funcionamento e do número de pessoas permitidas nos estabelecimentos fez com que as cervejarias tivessem que buscar alternativas para conseguir manter as vendas e o faturamento. De olho no aumento do interesse dos brasileiros em produzir sua própria cerveja, as marcas decidiram investir em cursos que ensinam de forma clara e objetiva o passo a passo da produção artesanal.
“Com o crescimento das cervejas artesanais no País, maior tempo em casa por conta da pandemia e o aumento de canais em sites de compartilhamento de vídeos que ensinam técnicas de “faça você mesmo” (DIY), os consumidores de cerveja no Brasil viram que é possível criar sua própria bebida sem muito esforço”, explica o CEO da Cervejaria Berggren, Robson Vergílio.
A cervejaria, que fica em Nova Odessa (SP), decidiu se juntar com a renomada Escola Cervejeira Bräu Akademie com o objetivo de ministrarem cursos sobre o vasto universo cervejeiro. As aulas poderão ser feitas tanto no formato on-line quanto presencial e acontecerão no laboratório da cervejaria.
“Na verdade, sempre tive o desejo de transformar o laboratório da cervejaria em um espaço para cursos cervejeiros, e, coincidentemente, no momento em que o interesse dos brasileiros em fazer cerveja em casa está crescendo, o curso foi lançado”, afirma Robson Vergílio.
Como o curso será ministrado dentro do laboratório da cervejaria, a marca tem a vantagem de não precisar se preocupar com custos extras na locação de outro espaço. Além disso, por ser um período em que os bares estão operando com horários reduzidos, o curso acaba sendo uma outra fonte de lucro para cervejaria.
“Em um momento delicado como esse, queremos que as pessoas tenham um momento de lazer e ao mesmo tempo aprendam de uma forma leve e objetiva como preparar a própria cerveja, seja por hobby ou para comercializar e se tornar um profissional da área”, finaliza Robson Vergílio.
A Berggren é uma cervejaria que foi oficialmente inaugurada em novembro de 2015. A empresa teve seu projeto iniciado entre 2008/2009, quando a família Berggren começou a estudar o funcionamento dos equipamentos para a montagem da fábrica e entre 2013/2014 a família, que tem atuação na indústria têxtil, ganhou um fôlego financeiro e deu retomada definitiva ao projeto.
Produzindo cervejas de estilo clássico, e outras inspiradas na Escola Americana, a Berggren Bier conta com uma fábrica piloto (com laboratório e estrutura de envase) para testar as cervejas – algo presente em poucas cervejarias do País.
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