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Quatro em cada dez empresas não oferecem treinamento para uso responsável de IA

Pesquisa da Robert Half aponta baixa maturidade digital e falta de diretrizes sobre segurança e ética na adoção de tecnologias de IA
Quatro em cada dez empresas não oferecem treinamento para uso responsável de IA
Foto: Reprodução Adobe Stock

Quatro em cada dez empresas brasileiras não oferecem treinamento para o uso responsável da inteligência artificial (IA). É o que revela uma pesquisa da consultoria global Robert Half, que aponta baixa maturidade digital e falta de diretrizes claras sobre segurança e ética no uso da tecnologia.

Para a diretora e Career Advisor & Headhunter da Prime Talent, Bárbara Nogueira, os dados não são uma surpresa. “Eles refletem o estágio atual de maturidade das organizações e dos profissionais em relação à inteligência artificial. O mundo corporativo está mudando em uma velocidade jamais vista, e tanto empresas quanto pessoas ainda não conseguem acompanhar o ritmo acelerado de transformações e novidades. O que observamos é que maioria das companhias está mais preocupada em utilizar a tecnologia para ganhar eficiência do que em investir na educação das pessoas sobre como aplicá-la de forma ética e segura”, observa.

Segundo o estudo, apenas 9% das empresas brasileiras alcançaram alto nível de maturidade digital, enquanto 42% já relatam ganhos de produtividade com o uso da IA. Mesmo assim, só 15% das organizações mantêm programas regulares de capacitação, e 40% não oferecem qualquer tipo de treinamento às equipes — cenário que amplia o risco de vazamento de dados e uso inadequado das ferramentas.

“Há uma lacuna significativa entre o entusiasmo com as possibilidades da inteligência artificial e a preparação prática para sua adoção ética e eficiente”, afirma a gerente da Robert Half, Elisa Jardim.
“As empresas precisam agir com rapidez para evitar riscos e formar equipes capacitadas a extrair o melhor valor dessas soluções”, acrescenta.

Empresas ainda estão em estágio inicial de uso da IA

A pesquisa ouviu 1.150 profissionais no Brasil, entre tomadores de decisão, empregados e desempregados qualificados. O levantamento mostra que 53% das empresas ainda estão nos estágios iniciais de adoção da IA, enquanto 35% não percebem impacto relevante da tecnologia em suas operações.

Por outro lado, 35% das companhias já automatizaram tarefas repetitivas, e 31% reorganizaram fluxos internos para aumentar a eficiência e a agilidade. Ferramentas abertas, como ChatGPT e Gemini, já são utilizadas por 47% das empresas brasileiras. No entanto, a falta de políticas estruturadas de governança digital continua sendo o principal desafio.

Segundo os recrutadores consultados, as áreas com maior potencial de crescimento nos próximos dois anos são:

  • tecnologia e segurança da informação;
  • análise de dados e business intelligence;
  • atendimento ao cliente e experiência do consumidor;
  • projetos de transformação digital.

RHs tem potencial para auxiliar na educação digital

Segundo Nogueira, os RHs das empresas têm papel crucial para promover a educação digital dentro das organizações. Para isso, a especialista aponta que há necessidade de estabelecer diretrizes e comunicações claras sobre o assunto, além de treinamentos. “Essa atuação vai muito além de treinar: envolve comunicar com clareza, engajar e incentivar comportamentos que gerem resultados positivos tanto para a empresa quanto para as pessoas. É fundamental que o RH trabalhe de forma próxima a áreas como Tecnologia da Informação e Jurídico para construir diretrizes básicas, simples, claras e acessíveis”, observa.

Ainda, ela aconselha a introdução do tema “IA Responsável”nas trilhas de desenvolvimento contínuo das empresas. “Trata-se de um assunto em constante evolução, que precisa ser revisitado com frequência, reforçando o senso de corresponsabilidade digital. É importante mostrar que segurança não é apenas uma questão de tecnologia, mas de comportamento, e que a educação digital precisa estar conectada à cultura organizacional”, instrui.

Framework de Ética em IA

No caso do setor público, também há uma preocupação constante com a utilização das IAs de forma ética e transparente. Para isso, o Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) desenvolveu o Framework de Ética em IA, para orientar os órgãos federais na avaliação de riscos e boas práticas da ferramenta.

“O objetivo é colocar em prática o uso dos frameworks éticos, adaptando-os à realidade do governo brasileiro”, explica a coordenadora-geral de Fomento à IA Responsável do MGI, Thaciana Cerqueira.

Conforme o MGI, o Framework vai permitir a classificação de soluções conforme o grau de risco e fornece 44 recomendações práticas para mitigação e aprimoramento de projetos. “Se uma solução apresentar risco excessivo, o framework orienta que ela seja reavaliada antes da implementação”, detalhou Thaciana.

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