Empreendedorismo no Brasil também é instrumento de inclusão; veja dados de estudo nacional

Ter o próprio negócio foi o sonho de 48 milhões de brasileiros em 2023. O empreendedorismo como forma de inclusão figurou no terceiro lugar quando o assunto foi desejo dos brasileiros adultos, ficando atrás apenas de viajar pelo Brasil e conseguir comprar a tão sonhada casa própria.
A informação foi divulgada neste mês de setembro, quando foi lançada a publicação “Empreendedorismo no Brasil 2023“, feita com base nos dados do Monitoramento Global do Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM), que registou uma taxa de empreendedorismo potencial da ordem de 48,7% no País.
Embora esse percentual tenha sofrido um recuo em 2023, após trajetória crescente de 2019 (30%) a 2022 (53%), ainda assim, se manteve significativamente alto.
A publicação também trouxe um panorama detalhado sobre as atividades empreendedoras no País e apontou que o cenário do empreendedorismo no Brasil está em expansão, inclusive como instrumento de inclusão social.
Os dados foram apresentados em uma live, no último dia 11 de setembro, acompanhada por mais de 1,5 mil pessoas, promovida pelo Serviço Brasileiro de (Sebrae) e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe).
Empreendedorismo ajuda famílias de baixa renda
A estatística e coordenadora da pesquisa da GEM Brasil, Simara Greco, explicou como o empreendedorismo se reflete especialmente em famílias de baixa renda.
“A população de baixa renda e escolaridade mais baixa é menos empreendedora. São pessoas que empreendem por necessidade, em negócios informais, praticamente não geram postos de trabalho e tampouco inovação. Então, essa população merece uma atenção maior, através de outros programas de inclusão, além dos voltados ao empreendedorismo”, avaliou.
O estudo demonstra que o empreendedorismo tem grande potencial de inclusão social, particularmente entre os seguintes grupos:
- pessoas de baixa renda (70%),
- baixa escolaridade (77%),
- mulheres (55%),
- jovens (50%) e a
- população preta e parda (63%).
Esta comunidade, frequentemente à margem das atividades econômicas tradicionais, encontra no empreendedorismo uma oportunidade de ascensão econômica e integração produtiva.
Empreendedorismo é forte nas favelas, mas ainda informal
Para o empreendedor social e presidente da Central Única das Favelas do Distrito Federal (CUFA-DF), Bruno Kesseler, existem muitas teorias e muitas informações sobre os empreendedores de favelas que, na verdade, ainda são muito subjetivas.
“É necessário ter uma relação muito próxima para entender a realidade dos territórios e poder, de fato, criar ações para que essas pessoas possam ter sucesso naquilo que elas estão empreendendo”, considerou ele.
Kesseler destacou também que, entre os 17,9 milhões de moradores de favelas no Brasil, 5,2 milhões são empreendedores, mas apenas 37% estão formalizados.
“Isso nos mostra que ainda existe uma dificuldade de acesso à informação no aspecto da formalização”, complementou, ressaltando ainda que a união de forças entre instituições pode ser capaz de mudar essa cultura.
Segundo ele, dados e informações sobre as favelas são imprescindíveis para mapear e traçar as melhores estratégias de aprimoramento para os empreendimentos desses territórios.
“A última pesquisa da Data Favela mostra que, se as favelas do Brasil fossem unificadas, nós teríamos o terceiro maior estado em população. E isso é muito significativo, porque o número de favelas dobrou na última década. Hoje nós temos 3.100 favelas mapeadas no Brasil”, destacou. Ainda de acordo com o dirigente, “este é um mercado que movimenta R$ 200 bilhões por ano”.
Ações de fomento podem ajudar
De acordo com a economista da Unidade de Inteligência Estratégica do Sebrae Minas, Bárbara Castro, os dados são muito relevantes para que seja possível repensar as ações de fomento, principalmente, para esta comunidade empreendedora.
“O empreendedorismo funciona como uma importante ferramenta de inclusão social. Pois estas pessoas que estão empreendendo podem, também, gerar emprego e renda. E renda não apenas para si próprio, mas para sua família e também transbordando isso na questão da geração de mais empregos, fomentando o negócio para que mais pessoas obtenham renda. Enfim, um ciclo social inclusivo e muito virtuoso”, avaliou a economista.

Bárbara Castro também considerou que a questão de ter o próprio negócio, figurando em uma terceira posição de sonho dos brasileiros, ultrapassa, inclusive questões como fazer carreira em uma empresa, ter algum tipo de bem próprio, como um automóvel, e ter diploma de ensino superior.
“O sonho de ter o próprio negócio vem à frente desse tipo de desejos. Então, isso aí é a força, a pujança da questão empreendedora no nosso País”, ressaltou ela.
A economista do Sebrae Minas apontou algumas condições fundamentais que afetam o empreendedorismo de modo geral.
“O apoio financeiro é uma dor muito forte que os empresários, principalmente os empreendedores que estão à frente de pequenos negócios sempre relatam. A dificuldade no acesso a serviços financeiros, seja por conta da exigência de certas garantias, da capacidade de pagamento, é um pouco mais limitado em relação aos grandes empreendimentos. Existem questões também de educação e capacitação, infraestrutura, acesso ao mercado, barreiras de entrada e saída, normas e legislação, que são as dinâmicas de negócios”, enumerou.
Em Minas Gerais, de modo geral, as empresas ou estabelecimentos formais estão mais concentrados, principalmente, nos setores de serviços e de comércio. “São setores que abarcam a maior quantidade de empresas formais aqui no nosso Estado. As atividades que mais se destacam são o comércio de vestuários e acessórios, mini mercados, restaurantes e outros estabelecimentos”, enumerou Bárbara Castro.
Ela também ressaltou que, com o microempreendedor individual (MEI), não é muito diferente. “Temos aquelas atividades que são mais fortes entre os microempreendedores individuais, como cabeleireiro, manicure, pedicure, atividades do ramo da beleza; comércio varejista de vestuários e acessórios, obras, alvenaria, dentre outras, são as atividades que geralmente concentram o maior número de microempreendedores individuais aqui em Minas Gerais”, pontuou a economista.

Raio X do empreendedorismo brasileiro
Veja, a seguir, alguns dados trazidos pela publicação “Empreendedorismo no Brasil 2023”, feita com base nos dados do Monitoramento Global do Empreendedorismo (Global Entrepreneurship Monitor – GEM).
Os principais sonhos dos brasileiros em 2023
- Viajar pelo Brasil 53%
- Comprar a casa própria 50%
- Ter o próprio negócio 48,2%
- Viajar para o exterior 44,8%
- Comprar um automóvel 42,4%
- Ter plano de saúde 37,2%
- Ter um diploma de ensino superior 35,4%
- Fazer carreira numa empresa 33,1%
- Fazer carreira no serviço público 29,1%
- Comprar um computador/tablet/smartphone 26,8%
- Casar ou constituir uma nova família 26,1
- Nenhum 4,4%
- Outro 4,0%
O perfil dos empreendedores em 2023
Empreendedores nascentes (em fase de preparação do negócio ou com no máximo 3 meses de existência):
- 60% (6,5 milhões) eram homens;
- 56% (6 milhões) concentravam-se nas faixas etárias compreendidas entre 25 e 44 anos;
- 50% (5,4 milhões) possuíam o ensino médio completo;
- 51% (5,5 milhões) pertenciam a famílias com renda média mensal, na faixa de mais de 2 salários mínimos até 6 salários mínimos;
- e 60% (6,5 milhões) eram pretos ou pardos.
Empreendedores novos (com mais de 3 meses e até 3 anos e meio de existência):
- 60% (9,3 milhões) eram homens;
- 58% (9 milhões) concentravam-se nas faixas etárias compreendidas entre 25 e 44 anos;
- 46% (7,2 milhões) possuíam o ensino médio completo
- e 56% (8,8 milhões) eram pretos ou pardos.
A diferença nas distribuições em relação aos empreendedores nascentes ficou por conta da renda mais alta dos novos: 51% (8 milhões) pertenciam a famílias com renda média mensal acima de 3 salários mínimos.
Empreendedores estabelecidos (com mais de 3 anos e meio):
- 65% (10,9 milhões) dos empreendedores estabelecidos eram homens;
- 39% (6,5 milhões) possuíam o ensino médio completo;
- 56% (9,2 milhões) pertenciam a famílias com renda média mensal acima de 3 salários mínimos;
- e 52% (8,6 milhões) eram pretos ou pardos.
A distribuição para a idade no grupo dos estabelecidos difere dos outros estágios, encontrando-se a maior concentração, 53% (8,7 milhões) na faixa etária dos 35 aos 54 anos.
*Com informações da Agência Sebrae de Notícias
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