Negócios

Empoderamento digital impulsiona novas líderes no empreendedorismo feminino

Relatório estima que as mulheres representam somente 28,2% da força de trabalho Stem, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática
Empoderamento digital impulsiona novas líderes no empreendedorismo feminino
Foto: Reprodução/Adobe Stock

As executivas Jordana Souza, Priscila de Oliveira Spadinger, Raissa Florence e Cristieni Castilhos chegaram a caminhos profissionais distintos, mas contam a mesma lição sobre o empoderamento digital. Ele não se resume a fazer cursos ou saber usar plataformas, mas é sobretudo a capacidade de transformar o conhecimento em instrumento para derrubar barreiras históricas contra as mulheres. Neste 19 de novembro, Dia do Empreendedorismo Feminino, elas convidam todas as mulheres a explorar o ambiente digital sem medo e os homens a apoiá-las.

A importância desse chamado está nos dados do mercado de trabalho. O Global Gender Gap revela a disparidade de gênero. O relatório estima que as mulheres representam somente 28,2% da força de trabalho Stem, sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática, globalmente. Esse cenário impacta o empreendedorismo em tecnologia e inovação, com menos líderes femininas.

Empreendedora
Foto: Reprodução Adobe Stock

As recomendações do GEM Women’s Report diante desse cenário são dar destaque a empreendedoras de sucesso como forma de neutralizar estereótipos negativos e inspirar outras mulheres; apoiar pesquisas e a coleta de dados sobre empreendedorismo feminino para lançar luz às barreiras estruturais da sociedade; facilitar a educação e o treinamento inclusivos para meninas e mulheres, além de expandir o acesso das empreendedoras a investimentos.

O digital que abriu portas

Jordana Souza, 36 anos, é cofundadora e diretora de novos negócios da VOLL, agência digital de viagens corporativas. Saída do interior de Santa Catarina para as grandes cidades e primeira da família a se formar na faculdade, ela conta que “o maior desafio, enquanto mulher, foi acreditar que eu podia ocupar um espaço de protagonismo também no digital”. Só com o tempo ela diz ter aprendido a se posicionar, compartilhar ideias e liderar mudanças com autenticidade. Por isso, fez questão de abrir portas para outras mulheres quando fundou a VOLL, “incentivando que elas ocupem espaços estratégicos na área de dados, produtos e inovação, vendas ou onde elas quiserem”.

A executiva ressalta que, atualmente, 66% dos cargos de liderança da VOLL são ocupados por mulheres. Jordana Souza é peça-chave nessa iniciativa e na conquista de clientes como Itaú, Nubank e iFood, além da Localiza como acionista, com um total de 850 mil usuários no app de gestão de viagens a trabalho. A VOLL faturou R$ 1 bilhão em 2024 e, no mesmo ano, Jordana Souza entrou para a lista dos 100+ Poderosos do Turismo Panrotas. Agora a agência prevê um faturamento de R$ 1,7 bilhão para 2025.

Tecnologia abre portas no universo jurídico

Priscila Spadinger, 44 anos, é uma das vozes que têm transformado o ecossistema de inovação jurídica no País. Especialista em M&A (fusões e aquisições), investidora-anjo e CEO da Aleve LegalTech Ventures, ela criou a venture builder para suprir uma lacuna de tecnologia e inovação no setor jurídico. Desde então, já apoiou o desenvolvimento de 13 startups, que somam uma avaliação total de R$ 200 milhões. “Eu vejo as mulheres como a força motriz da ética e da inovação inclusiva na próxima onda digital”, afirma.

Priscila Spadinger diz que utilizou o empoderamento digital para “quebrar o ar de ‘arcaico’ e inacessível do Direito e do mundo dos negócios. Criei plataformas e modelos de gestão que são ágeis, transparentes e que colocam a tecnologia a serviço do empreendedor, não só do grande capital”. Ela relata, porém, ter lidado com todo tipo de assédio no mundo do trabalho, moral, sexual e intelectual, pelo simples fato de ser mulher. “A transição para o ‘empoderamento digital’ não foi só aprender a tecnologia, mas usá-la como uma ferramenta para legitimar minha voz e minhas decisões”, destaca.

Propósito e estratégia para expandir a Koru

Raissa Florence, 33 anos, traz a marca da execução criativa. Cofundadora e diretora de Growth da Koru, startup de educação corporativa, sócia da Oz Câmbio e membro da Female Force Latam, rede que luta por mais representatividade de mulheres no capital de risco, ela aprendeu cedo a transformar energia em resultado. Ao assumir a operação da Koru, enfrentou um caixa apertado e escolheu não aceitar investimentos que colocassem a empresa fora do seu propósito. Reestruturou vendas, salvou o caixa e, com isso, manteve a missão, que inclui programas de formação e empregabilidade que já empregaram 5 mil pessoas em uma única edição.

Hoje a Koru soma 300 clientes, entre eles iFood, Suzano, Alpargatas e Grupo Boticário. Ela relembra o preço da visibilidade. Antes da Koru, precisou provar sua competência em ambientes que questionavam a credibilidade feminina. Isso a levou até mesmo a mudar sua imagem e suas roupas para parecer mais velha e profissional. “Para as mulheres, se impor tem seu preço”, lamenta. Apesar disso, ela se recusa a parar. “Quero estar sempre onde eu tenha espaço para criar, construir, impactar. Eu crio quantas empresas precisar.”

Arquiteta da inclusão digital nas escolas

Cristieni Castilhos é movida pela convicção de que conectividade é sinônimo de equidade, por isso transformou sua trajetória em um projeto de alcance nacional. Fundadora e CEO da MegaEdu, uma organização da sociedade civil que atua para levar acesso à internet de qualidade a todas as escolas públicas do Brasil, ela lidera uma iniciativa que apoia gratuitamente secretarias de Educação de todo o País na implementação de projetos de conectividade e tecnologia na educação pública. Seu trabalho já promoveu acesso à internet de qualidade em mais de 13 mil escolas públicas, beneficiando diretamente mais de 5 milhões de estudantes.

“Precisamos desenvolver a tecnologia no País, sim, mas precisamos olhar para as desigualdades sociais na mesma proporção. O mundo discute os avanços em inteligência artificial enquanto tantas escolas não têm sequer acesso à internet”, argumenta. Não por acaso, Cristieni Castilhos se tornou Embaixadora para Conectividade em Áreas Remotas pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e, em 2023, conselheira do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust).

Há um fio condutor nessas quatro histórias. O empoderamento digital potencializa tanto a capacidade de executar quanto a de criar autoridade pública, e essa autoridade reduz vulnerabilidades, como assédio, descrédito e exclusão do capital. No Dia do Empreendedorismo Feminino, lembrar dessas trajetórias é celebrar conquistas e cobrar mudanças.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas