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Segundo maior sonho do brasileiro, empreender fica mais difícil com Selic

Levantamento aponta que 60% dos entrevistados citaram a abertura de um negócio como um dos maiores desejos
Segundo maior sonho do brasileiro, empreender fica mais difícil com Selic
Presidente do Sebrae, Décio Lima | Crédito: Sebrae/Divulgação

Ter o próprio negócio voltou a ser o segundo maior sonho do brasileiro. De acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022, realizado pelo Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pela Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas (Anegepe), 60% dos entrevistados citaram ter uma empresa como um dos maiores desejos.

O resultado é recorde na série histórica da pesquisa, realizada há 23 anos no Brasil. Em 2020, início da pandemia, a pesquisa GEM também havia detectado essa posição, quando 59% dos entrevistados indicaram esse quesito.

Outro ponto importante apontado pelo relatório é a queda nos níveis de empreendedorismo por necessidade. Mesmo que ainda estejam distantes dos registrados entre os anos de 2010 e 2014, quando variou de 31,1% a 29,1%, respectivamente, o indicador apresentou baixa pelo segundo ano consecutivo. Passou de 48,9%, em 2021, para 47,3% em 2022. Em 2020, metade dos empreende­dores entraram no universo do empreendedorismo por necessidade.

Entraves estruturais desafiam iniciantes

De acordo com o presidente do Sebrae, Décio Lima, os resultados são animadores e apontam para uma dinamização da economia nacional. Porém, alguns entraves estruturais fazem com que a vida dos empreendedores, especialmente os iniciantes, seja muito mais difícil.

“Um número de 60% é extraordinário e mostra o sentimento empreendedor do povo brasileiro. E também mostra o tamanho do trabalho que temos pela frente. Dos 42 milhões que já empreendem, a metade não está organizada dentro do sistema de micro e pequeno empreendedor e também não são MEIs (microempreendedores individuais). São sobreviventes dentro do mercado, mas ainda não constituídos dentro da legalidade”, explica Lima.

Entre os entraves da burocracia – que vem diminuindo sensivelmente nos últimos anos -, da falta de preparação para a gestão – sobre a qual o Sebrae atua em todo o território nacional -, chama a atenção a falta de crédito para os pequenos empreendedores.

E um dos motivos para tal é o nível atual da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano. “Há um grave problema que é a Selic. Ela impede o crédito seguro para quem quer empreender. No atual momento, o Banco Central age contra o setor produtivo, barrando o microcrédito. O Brasil não pode conviver com um Banco Central a serviço de interesses que não são os dos empreendedores brasileiros, criando barreiras econômicas graves. E toda a sociedade brasileira deve tomar consciência disso”, frisa o executivo.

Escassez de empregos ainda lidera motivação

Apesar do empreendedorismo por necessidade ter caído, a principal motivação para se abrir uma empresa continua sendo a es­cassez de empregos: 82% dos entrevistados indicaram como esse sendo o motivo. Em 2021, eram 77%. Empreender para fazer a diferença no mundo foi respondido por 75%, construir riqueza, por 64%, e continuar uma tradição familiar, por 44%.

A pesquisa GEM também detectou que 67% da população brasileira adulta está envolvida com empreendedorismo, seja porque já tem um negócio, está fazendo algo para ter ou deseja começar a empreender nos próximos três anos.

Em números absolutos, são 93 milhões de brasileiros entre 18 e 64 anos. Entre eles, 42 milhões empreendedores e os outros 51 milhões potenciais empreendedores. Os empreendedores são aqueles que já tinham um negócio, formal ou informal, e/ou que fizeram alguma ação, em 2022, visando a ter um negócio no futuro. Já os potenciais empreendedores é a estimativa do número de pessoas adultas (com 18 a 64 anos) que não têm empreendimento, mas que gostaria de ter um em até três anos.

Em relação aos potenciais empreendedores, a taxa no ano passado repetiu o recorde de 2021 com 53% da população. Em 2017, essa proporção era de 15,3% da população.

“A pandemia fez uma grande revolução na vida das pessoas e foi um estopim para o crescimento do empreendedorismo no País, seja pela escassez de empregos que ocorreu ou seja pela nova forma de ver o mundo e novos desejos adquiridos”, completa o presidente do Sebrae.

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