Empresas criam espaços kids para melhorar rotina dos pais e fidelizar clientes

Pequenos e médios negócios têm investido em espaços kids ou áreas infantis para atender a uma demanda cada vez mais crescente nos dias atuais: integrar as crianças à rotina dos pais – ou seja, de seus clientes.
Além de ser uma vantagem competitiva no mercado, esse tipo de investimento favorece o crescimento sustentável do empreendimento, e a fidelização dos clientes.
Para o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae MG), Victor Mota, antes de mais nada, o negócio tem que conhecer quem é o público que ele pretende atender.
“Se o empreendedor quer atender pessoas na faixa dos 35 aos 50 anos, faixa etária na qual as pessoas têm filhos e, geralmente, esses filhos ainda estão pequenos, ter uma experiência que não envolva a criança torna algo impraticável”, considera.
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Como exemplo, ele citou que tem duas crianças, uma com 7 anos e outra com 9: “Se eu vou a um estabelecimento para jantar que não tem um espaço kids, eu não consigo conversar com minha esposa. Temos que dar atenção para os pequenos o tempo todo. Se tem um espaço kids, eu consigo ter essa paz. Enquanto eles brincam, conseguimos sentar, conversar e passar algumas horas agradáveis no estabelecimento”.
Por outro lado, quando não há um espaço para as crianças, as pessoas sentam, comem e vão embora, consumindo muito menos do que poderiam ter sido consumido. “Quando o gestor da empresa entende que existem soluções simples que podem tanto melhorar quanto alavancar o negócio, pode ser visto como diferencial para a empresa”, observa.
O especialista destaca principalmente a necessidade desse tipo de investimento em bares e restaurantes:
“Quem sai para jantar fora não quer só comer, quer ter um momento agradável que inclui a experiência gastronômica. Só que, se a criança está sentada à mesa, ou entregamos o telefone para entretê-la ou então temos que ficar nos desdobrando para ocupar o tempo dela”.

Outro exemplo citado por Mota é o das compras no supermercado, que também oferecem uma oportunidade aos empresários:
“Economizamos quando vamos sozinhos pois a compra costuma ser mais racional. A criança já começa a querer tudo, pedir, começa a mexer em tudo, o que gera uma certa impaciência, com o consumidor querendo resolver com maior rapidez. Quando pensamos nessa experiência, alguns empresários enxergam um ‘eu posso ter aqui um espaço que vai dar tranquilidade para esses pais’. E quem fez isso muito bem foram os shopping centers”, exemplifica.
De acordo com Mota, entender o que as pessoas buscam, o que é considerado um diferencial por elas, faz todo sentido.
“As empresas devem investir em ambientes mais agradáveis para as crianças, mesmo que não sejam elas quem vão decidir onde a compra vai acontecer, mas porque têm uma influência enorme nas decisões dos pais. E isso é algo extremamente inteligente, porque torna a experiência para o cliente muito mais agradável, quando há uma alternativa interessante para os filhos, naquele mesmo ambiente, onde ele consegue se desconectar da criança um pouco, mas sem desconectar totalmente”.
Restaurante na Pampulha oferece atividades para pais e filhos
No Restaurante Fazenda Paladino, localizado na região da Pampulha, a proposta de recreação para as crianças difere um pouco da maioria dos outros lugares.
“Nós temos aqui a proposta de recreação com uma pegada ecológica. Além de termos um espaço kids normal, disponível para qualquer criança, ainda temos as monitorias. As crianças conseguem fazer plantio na horta, ter conexão com animais e alimentá-los, fazer um passeio de charrete, conhecer um minhocário e entender como é feita a compostagem”, enumera o gerente geral do restaurante, Rafael Isilco.

Além disso, Isilco ainda destaca que, no local, existem atividades que os pais podem fazer juntos. “Tem escavação para achar osso de dinossauro e muitas outras atividades que os pais conseguem realizar com seus filhos. Inclusive, algumas crianças fazem questão dos pais participarem. Ainda temos uma trilha ecológica na qual a criança vai passando com os monitores, e vão aprendendo sobre plantas, fotossíntese”, diz ele.
“Entendemos que o cliente não vem aqui só para comer, ele vem para ter uma experiência. Tentamos entregar o máximo, desde a recepção, os manobristas até o atendimento”, afirma o gerente, que também é pai de uma criança com 4 anos. “Toda vez que eu vou sair com ela para algum lugar eu procuro um local que tenha uma opção para ela também”, destaca.
Advogados podem deixar filhos brincando enquanto trabalham na OAB-MG
Desde maio do ano passado, os pais receberam um espaço kids para deixar seus filhos, enquanto cumprem suas demandas na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas (OAB-MG), na zona Sul de Belo Horizonte. De acordo com a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB-MG, Nathália Damasceno, o principal motivo foi justamente a necessidade de inclusão.
“A mulher, de forma geral, ainda é a maior responsável quando falamos da questão do trabalho, de cuidado. Então, o foco principal de criarmos o espaço foi para que a mulher se sentisse incluída na instituição e pudesse participar dos cursos de qualificação e dos eventos com uma maior liberdade. Percebemos que não poder levar os filhos ou não ter com quem deixá-los é, sim, um fator que dificulta a participação da mulher nas atividades da instituição”, explica.

Nathália salienta que o espaço também está disponível aos pais advogados, que podem utilizar a área, como uma forma de incluir e de mostrar que o trabalho de cuidado não tem que estar destinado apenas às mulheres.
“E nós fizemos isso não apenas com o espaço kids, mas também implantando fraldários tanto no banheiro feminino quanto no masculino. A entidade acolhe não só a mulher advogada, que foi o principal foco da implantação do espaço kids, mas também o advogado”, diz.
A presidente destaca que, para melhorar o ambiente para pais e filhos, não é necessário fazer um investimento tão significativo, e um espaço kids, quando bem estruturado, traz muitos benefícios.
“Eu estou falando aqui de uma instituição que não tem fins lucrativos, mas quando eu falo de um espaço comercial, uma empresa, eu acredito que clientes passam a acessar mais esse espaço. Eu sou mãe – tenho três crianças, um menino de 6 anos e gêmeas de 5 anos – e escolho os lugares que eu vou a partir dessa inclusão, dessa facilidade de contar com um espaço kids”, afirma.
Nathália também lembra que, em dezembro de 2023, regulamentaram o Plano Estadual de Valorização da Mulher Advogada, que prevê iniciativas semelhantes em todas as unidades da OAB de Minas Gerais: “Esse plano contém uma disposição de que essa iniciativa de implantação de espaços kids e fraldários não aconteça só aqui na sede da OAB, em Belo Horizonte, mas seja replicada por todo o Estado”.
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