Empresas familiares são a força motriz da economia nacional

Cerca de 90% das empresas brasileiras, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são empresas familiares. E, embora o preconceito aponte que elas são pequenas e pouco profissionais, os números revelam um grau de importância, para muitos, surpreendente.
Publicada este ano, a 4ª edição da pesquisa “Retratos de Família: Um panorama das práticas de governança corporativa e perspectivas das empresas familiares brasileiras”, conduzida pelo ACI Institute e Board Leadership Center da KPMG no Brasil, apontou que os empreendimentos familiares brasileiros continuam a desenvolver de forma acelerada suas estruturas e práticas de governança corporativa e respondem por mais da metade do PIB nacional.
Para a sócia da Kfamily Business / Kienbaum, e consultora para famílias empresárias, Juliana Costa Gonçalves, esses dados demonstram o quanto existe de responsabilidade e poder nas mãos das famílias empresárias. Elas são responsáveis pela geração de cerca de 75% dos empregos atuais no País.
“É um engano diminuir a importância econômica das empresas familiares e das famílias empresárias. Mas é triste pensar que apenas 4% delas chegam à quarta geração, seja por extinção ou porque não pertencem mais à família fundadora. A grande questão dessas empresas é que têm emoções envolvidas no negócio: os conflitos, traumas, amores, ciúmes da esfera familiar. Digo que a empresa começa com sócios que se escolheram, mas a partir da segunda geração aquelas pessoas estão ali por circunstâncias, não por escolha, então é preciso lidar com sentimentos que antes estavam apenas na esfera familiar”, explica Juliana Costa Gonçalves.
Ainda assim, chama atenção a longevidade dessas empresas. Também segundo dados da pesquisa da KPMG, 33% delas têm entre 21 e 40 anos de existência, enquanto 30% possuem de 41 a 70 anos e 21% têm mais de 70 anos. Além disso, entre os empreendimentos analisados, 22% já têm membros da terceira geração da família controladora atuando no negócio e 41% deles contam com a participação de membros da segunda geração.
O alinhamento dos valores e expectativas dos membros das diferentes gerações é fundamental para a perenidade da empresa. Isso inclui aqueles membros que não têm interesse em compor a gestão da empresa. Segundo a especialista, “principalmente esses”.
“O candidato a sucessor precisa de uma preparação muito bem feita, mas a preparação dos futuros acionistas precisa ser ainda melhor porque um gestor pode ser trocado, mas o acionista, não. Trabalhando diretamente ou não na empresa, os herdeiros se tornam acionistas e não deixam de ser enquanto a empresa for familiar. Então ele vai, em alguma medida, precisar decidir, e isso exige conhecimento”, pontua.
Esse processo de preparação costuma ser longo e nunca é cedo ou tarde demais para começar. É importante também que a família empresária entenda que nem sempre o sucessor vai sair daquele grupo. Muitas vezes, buscar um executivo de mercado é a solução quando não existe um candidato suficientemente capacitado ou mesmo com vontade de assumir os negócios.
“A gente não pode impor aos nossos filhos, nossos sonhos. Impor é estar fadado ao fracasso, porque aquela pessoa não terá brilho nos olhos, mesmo que seja competente. É legítimo que as pessoas sejam diferentes, por isso é importante fazer o alinhamento de objetivos, de disposição para o risco, valores e sonhos. Se a única certeza que temos é o nosso fim, não é justificável que uma empresa não se prepare para a sucessão. Um processo bem conduzido, que determine os princípios da governança, minimiza as chances de conflitos futuros, completa a consultora.
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