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Empresas recalculam rota ESG e aumentam métricas ambientais

Pesquisa mostra queda nas métricas sociais e de governança
Empresas recalculam rota ESG e aumentam métricas ambientais
Reciclagem e gestão de resíduos puxam o avanço da pauta ambiental nas empresas - 72% se mobilizaram em 2024 | Foto: Reprodução Adobe Stock

Estudo sobre indicadores que medem a aplicação dos conceitos ESG dentro das empresas, conduzido pela Mereo – plataforma integrada de gestão de pessoas presente em mais de 40 países – revela duas variações importantes em relação à pesquisa realizada em 2023: queda expressiva nas métricas relacionadas ao engajamento dos colaboradores e ao desenvolvimento humano.

Em 2024, a preocupação com a responsabilidade ambiental despertou o interesse de 72% dos respondentes, que, de alguma forma, promoveram ações nesse tema, como gerenciamento de resíduos ou redução de emissões. Já nos dados colhidos em 2023, o “E” do ESG ficou em 62%.

Por outro lado, o “S”, de Social, e o “G”, de Governança, do indicador sofreram uma redução significativa quando se comparam os dados de 2024 com os de 2023. No ano passado, o levantamento mostrou que o Social despertou a atenção de 87% dos respondentes, e a Governança, de 71%. Já os números de 2023 apontaram que o Social foi alvo de 90% e a Governança, de 81%.

De acordo com o cofundador da Mereo, Ivan Cruz, após a pandemia, as empresas mudaram seu foco para a eficiência econômica, o que pode ter impactado a percepção sobre o progresso das métricas ESG.

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Ivan Cruz
Ivan Cruz: integração de ESG nos negócios deve ser sincera e não apenas uma estratégia de marketing | Foto: Divulgação Mereo

“A pesquisa mostra que a pauta ESG no Brasil não regrediu, mas desacelerou. Nos últimos anos, as empresas se mobilizaram para melhorar seu patamar. A pandemia trouxe uma questão mais econômica. Então o foco das empresas mudou um pouco para a eficiência e a sobrevivência econômica. Elas passaram a mirar no caixa, em como fazer mais com os mesmos recursos ou identificar onde existe ineficiência e podem reduzi-la. Esse novo foco na eficiência financeira apareceu na pesquisa, fazendo parecer que as outras questões não tivessem mais importância. Mas isso não quer dizer que a gente ‘involuiu’, e sim que o ponto de vista mudou. Não foram o E e o S que caíram, foi o G que cresceu”, explica Cruz.

O levantamento também mostra que, de maneira geral, aumentou o número de projetos de conservação da biodiversidade apoiados. Cresceram também as iniciativas relacionadas à qualidade do ar nas proximidades das instalações, ao monitoramento mais eficiente do número de incidentes de poluição reportados, à emissão de poluentes atmosféricos e à redução da emissão de gases do efeito estufa.

Em Governança, houve um incremento no número de auditorias internas realizadas, além da identificação de situações em que não havia conformidade com leis e regulamentos. Também cresceu o número de treinamentos em compliance.

Já no “S”, de Social, além do aumento já identificado de iniciativas relacionadas à saúde mental, também se observaram investimentos em projetos comunitários, aumento do número de horas de voluntariado e incremento no número de beneficiários dos projetos sociais apoiados.

“A integração de ESG nos negócios deve ser sincera e não apenas uma estratégia de marketing. Se observarmos as pesquisas ao longo do tempo, as primeiras mostram o ESG aquecendo. Eram projetos, as empresas estavam entendendo como medir ou fazer iniciativas em ESG e existiam poucas métricas, de fato, para capturar os ganhos. No outro ano, a gente já viu essas métricas, de fato. As empresas entenderam como o ESG fazia sentido para o seu negócio, e, ao fazer sentido, fica mais fácil entender que não é um custo, mas um investimento. Agora estamos em um momento mais financeiro do que voltado a investimentos em melhorias na questão ESG.”

Para o especialista, a chamada onda anti-ESG, que propõe não só a redução, mas uma completa paralisação das ações de responsabilidade socioambiental e governança pelo mundo, liderada pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não tem a mesma força no Brasil e, de certa forma, pode até permitir que o País ganhe visibilidade internacional e alcance protagonismo político na busca por modos de produção e consumo mais sustentáveis nos próximos anos.

“Um dos pontos que descredibilizaram a pauta ESG, principalmente nos Estados Unidos, foi a questão do greenwashing, com o ESG sendo tratado como uma bandeira mercadológica, de marketing, e não, de fato, incorporado ao core business da empresa. Na pesquisa, vimos que, mesmo que atrasadas num primeiro momento, as empresas brasileiras avaliam, de fato, como integrar esses conceitos ao seu negócio para que façam sentido e sejam sustentáveis ao longo do tempo – e não uma moda passageira. Enquanto os EUA enfrentam um retrocesso em investimentos em ESG após a entrada de Trump, o Brasil manteve seus projetos e análises”, destaca.

Ainda que o Dia da Saúde Mental tenha sido criado em 1992 e as discussões sobre o tema tenham ganhado grande relevância na última década – com especial visibilidade a partir da pandemia de Covid-19, em 2020 -, o assunto só entrou, por força de lei, na pauta estratégica das empresas no fim de maio de 2025, com a entrada em vigor da atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR 01) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A regulamentação exige que as empresas incluam a avaliação de riscos psicossociais nos processos de Gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A atualização entrou em vigor em 2024 e deu um ano de prazo para que as empresas se organizassem.

“Ainda que a métrica relativa à saúde mental não tenha se alterado, é possível perceber uma movimentação nesse sentido. Mas, para que isso ganhe volume, as empresas precisam de um RH que seja realmente estratégico. Muitas ainda veem o RH como um custo. O RH que é estratégico traça as métricas ESG, faz pesquisas de clima e já olha para a saúde mental. Para ele, a transformação com a NR 01 será suave, porque o tema já faz parte do seu negócio, do dia a dia da empresa. Quem não tem esse RH vai sofrer mais”, completa o cofundador da Mereo.

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