Expo Favela Minas ressalta potência e negócios das periferias

Dedicada a construir pontes entre culturas da favela e do asfalto por meio do empreendedorismo, a Expo Favela Minas, que acontece na sede do Sebrae Minas, na região Oeste, tem uma programação formada por palestras, workshops, exposições, rodadas de negócios, pitches de startups, mentorias, debates, área infantil, gastronomia, shows, entre outras ações criadas por moradores das favelas.
Com expectativa de movimentar cerca de R$ 12 millhões em prospecção de novos negócio, o evento, que começou ontem e vai até o início da noite de hoje, conta com cinco espaços, sendo três auditórios, o palco Sesc e a cozinha Senac, que irão receber programações diversas.
De acordo com a diretora da Expo Favela Minas, Marciele Delduque, o evento nasce com o objetivo de conectar empreendedores, parceiros e investidores, todos no mesmo lugar, falando de negócios.
“São negócios pulsantes na favela e que precisam conversar com os negócios pulsantes do asfalto. O nosso objetivo é fortalecer os empreendedores a partir dessas conexões. Criar um ambiente para que esse empreendedor de favela – que já impacta o território onde ele está estabelecido – possa fazer isso em grande escala”, explicou Marciele Delduque.
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Para o diretor de Operações do Sebrae Minas, Marden Márcio Magalhães, receber os empreendedores da favela é uma oportunidade de ajudar na transformação da realidade das periferias através do empreendedorismo.
“O Sebrae se sente extremamente orgulhoso de ser o anfitrião da edição Minas da Expo Favela, em parceria com a Cufa (Central Única das Favelas) e de ter essa oportunidade de conectar as comunidades, as favelas e o asfalto. É muito bom ser o interlocutor desses espaços e ter no empreendedorismo uma oportunidade de mudar a vida das pessoas nesses espaços”, destacou Magalhães.
Na abertura do evento, o presidente da Cufa Minas, Francis Santos, mostrou que a Expo Favela é um momento importante de confraternização e também de reflexão.
“A gente precisa um do outro o tempo todo. A pandemia mostrou o quanto é importante a interação entre as pessoas. Quando a gente consegue fazer um evento desses, precisamos nos inspirar nele. Cada empreendedor sabe o quanto é difícil sustentar as ideias, o empreendimento, as relações. Mas sabe também que existem formas de lidar e superar essas dificuldades. A Expo Favela consegue pegar o que há de comum dentro desses setores, a interação entre as pessoas e a importância que é a gente poder se reunir e construir junto, olhando para a dificuldade do outro. E olhar, acima de tudo, para a facilidade, o potencial e para toda a produção que existe nas favelas”, analisou Santos.
Durante a mesa “Da inspiração à influência: pretos que vêm movimentando o mercado e deixando legado”, a criadora do Ela Nobre – um movimento para mulheres comprometido a transformar a autoimagem negativa em legados revolucionários -, Ana Justino, destacou a importância da representatividade e da valorização da autoimagem das pessoas da favela, principalmente as mulheres.
“A gente vem de um processo e uma cultura em que nós mulheres, especialmente as mulheres pretas, aprendemos a se desvalorizar de todas as formas. A gente precisa ir na contramão desse pensamento. Precisamos fazer isso não apenas nos inspirando em outras pessoas, mas entendendo que somos a nossa maior inspiração. A gente não aprende a valorizar a nossa própria história. Esse exercício de se engrandecer deve ser feito, sim”, avaliou Ana Justino.
A primeira edição da Expo Favela foi realizada em São Paulo, em 2022. Este ano, transacionou R$ 20 milhões diretos e indiretos. A expectativa para o ano de 2024 é de R$ 30 milhões. A edição mineira tem a expectativa de receber mais de 3 mil pessoas por dia. Além de Minas Gerais e São Paulo, o evento acontece em mais 19 estados. No próximo ano, a Expo Favela será internacionalizada, com edições já marcadas para Nova York, Paris e Lisboa.
Expo Favela apresenta negócios da periferia
Cerca de 120 empresas e empreendedores de várias partes do Estado foram selecionados para participar da edição mineira da Expo Favela. Eles foram divididos em três categorias: startup, camelódromo e gastronomia.
O objetivo é dar visibilidade a estas iniciativas e, assim, promover um palco para encontros com investidores que possam acelerar estes empreendimentos e gerar negócios a partir das oportunidades que surgirão dele. Assim, grandes empresas que se preocupam com a promoção da igualdade social podem conhecer de uma só vez variadas iniciativas nas periferias e escolher quais apoiar.
No bairro Califórnia, na região Oeste, a empreendedora Cíntia Souza lançou a linha de cosméticos que leva o seu nome. Agora, regularizada e com presença estruturada no ambiente on-line, ela já vislumbra vender para o exterior.
“Esses produtos, pra mim, são mais do que uma forma de cuidar da beleza e da saúde das mulheres. É uma ferramenta que faz com que elas abram um tempo para olhar para elas mesmas. As mulheres estão acostumadas a cuidar de todo mundo e negligenciar elas próprias. Na periferia isso é ainda mais forte. Meu objetivo é ampliar a linha de produtos e aumentar o alcance da marca. Hoje, entregamos em Belo Horizonte e já começaram a aparecer pedidos de outros estados e até de brasileiras que querem revender fora do Brasil. Já estamos nos estruturando para fazer isso de uma forma legal e que dê oportunidade para mais mulheres pelo mundo”, afirma Cíntia Souza.
Minas Gerais conta com quase 2 milhões de empreendedores e cerca de 1.250 de startups que movimentam mais de R$ 84 bilhões anualmente. Parte desses números estão concentrados nas favelas e periferias do Estado, só em Belo Horizonte e grande BH são mais de 732 favelas, aglomerados e quilombos que fazem parte da economia de Minas.
Recrutar, selecionar e reter talentos é um problema para qualquer empresa, independentemente do porte, setor ou território. Atenta a essa questão surgiu, a Serh Psicologia, no bairro Céu Azul, na região de Venda Nova. A empresa se dedica à gestão de talentos.
“O nosso papel é levar a gestão de pessoas, a gestão de talentos para dentro dos pequenos negócios. A economia gerada dentro das favelas é incrível e poderia ser ainda melhor se esses empreendedores tivessem acesso à gestão de pessoas. Se conhecessem e contassem com ferramentas para fazer a gestão emocional de quem trabalha com eles, principalmente nesse pós-pandemia”, pontuou a fundadora da Serh Psicologia, Ana Maria Novais.

À frente do “Confeitar ao vivo”, o cake designer Francis Lacerda produziu, junto com uma equipe de confeiteiros, uma verdadeira escultura de bolo. Só de chocolate foram gastos mais de 20 quilos para fazer uma verdadeira maquete de uma favela. O grupo se apresenta em congressos como a Confeitar Minas e participa de eventos sociais e corporativos.
“Nós gostamos muito de desafio. A ideia veio de representar uma favela por meio de uma maquete, que é um bolo e isso impacta as pessoas. Tivemos que colocar uma placa falando que é bolo porque as pessoas chegam e querem colocar a mão pensando que é algum outro material”, destacou Lacerda.
Para ajudar as crianças da favela Cabana do Pai Tomás, na região Oeste, foi criada a escola de reforço 1000tinho Ensinando e Aprendendo. Com um método próprio, que propõe a criação de novos pequenos hábitos, que consomem apenas dez minutos do dia da criança, elas desenvolvem novas habilidades que garantem o reforço escolar. A meta é que essas crianças possam, com o tempo, passar a ser monitores no projeto e serem remuneradas por isso.
“Não adianta colocarmos a criança para ficar sentada por uma hora e meia, ela não vai ficar. Então, atuamos com a mudança de mini hábitos que com o tempo vão se tornar novos valores. Assim, criamos os 10 minutos do 1000tinho. A ideia é que o aluno evolua, melhorando o desempenho escolar e até se tornar um monitor remunerado na 1000tinho, se quiser”, afirmou a promotora da 1000tinho, Cissa.

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