Fábrica Criativa transforma a vida de artistas independentes em Belo Horizonte
Em um cenário em que artistas independentes dificilmente são vistos pela indústria da música tradicional, a Fábrica Criativa, com sede em Belo Horizonte, surgiu como uma opção inovadora e de impacto social, apoiando artistas independentes e impulsionando suas carreiras.
Fundada por Maria Laura Ferreira Tergilene, a empresa também fomenta um ecossistema de economia circular e criativa, com foco na erradicação da pobreza, na educação de qualidade e no desenvolvimento por meio da conexão entre as pessoas.
Com um faturamento que triplica anualmente, a Fábrica Criativa é resultado da vocação para o empreendedorismo de Maria Laura Tergilene que, aos 16 anos, já produzia eventos para centenas de pessoas, movida pelo desejo de conectar pessoas e pela paixão pela música.
O crescimento do projeto levou à abertura de uma casa de shows na avenida dos Andradas, no Centro de Belo Horizonte, instalada em um antigo imóvel tombado que havia sido uma fábrica de açúcar. Com capacidade para 4 mil pessoas, o espaço rapidamente se tornou um polo cultural, reunindo artistas locais e grandes nomes da cena musical.
“Eu gostava de organizar eventos e sempre fui apaixonada por música. Fazia os encontros para ver os artistas de que eu gostava cantar e, aos poucos, aquelas pequenas reuniões se transformaram em grandes festivais. Por isso, a Fábrica Criativa começou como uma casa de shows. No espaço, conseguimos colocar muitos artistas locais no mesmo palco dos nomes já consagrados. Essa integração ajudou os novos talentos a se desenvolverem dentro do ecossistema.”
No entanto, a conciliação com uma faculdade de gestão em marketing em Londres levou ao fechamento da casa de shows. Ao retornar ao Brasil, em meio à pandemia, Maria Laura Tergilene viu um novo desafio com artistas sem oportunidades. “Foi nesse momento que a atual Fábrica Criativa começou a tomar forma. Montamos estúdios em dois apartamentos que estavam parados e passamos a abrigar os artistas, criando um ambiente de colaboração.”
A partir daí, a Fábrica Criativa expandiu-se, recebendo apoio de empresas e empresários que ajudaram a montar mais estúdios e espaços para ensaios. Atualmente, a sede da empresa está localizada no quarto andar do Mercado de Origem, que acolheu a Fábrica Criativa sem cobrar aluguel, apenas condomínio.
Conforme Maria Laura Tergilene, a Fábrica Criativa se destaca por transformar carreiras artísticas em negócios sustentáveis. “Os nossos focos principais são a erradicação da pobreza, primeiro ODS da ONU, e a educação de qualidade, que é a base do negócio. Nosso objetivo é educar os artistas para que eles consigam fazer sozinhos, e a gente dá o suporte. Além disso, queremos nos desenvolver a partir de conexões. E trabalhamos com isso, conectando pessoas, conectando o produtor ao artista, ao produtor musical, ao videomaker e ao contratante do show.”
A empresa auxilia os artistas independentes desde o início. “Quando o artista chega, a gente cria o CNPJ, organiza tudo em planilhas e faz a organização do cronograma de posts nas redes sociais e dos lançamentos de músicas. Então, fazemos a gestão de carreira artística”, explica Maria Laura Tergilene.

A empresa oferece uma gama de serviços que uma gravadora tradicional ofereceria, mas de forma personalizada e com o artista no centro das decisões. “Hoje, nós somos uma estrutura para os artistas fazerem música na forma deles. Então, basicamente, trabalhamos com artistas independentes, que não têm gravadora. Eles vêm para a Fábrica Criativa porque temos tudo o que uma gravadora teria, mas com o diferencial de poderem personalizar. Aqui, o artista é o centro de tudo.”
Sistema de compartilhamento de ganhos
O modelo financeiro da Fábrica Criativa é baseado em um sistema de compartilhamento de ganhos. Quando um artista fecha com a empresa, é estabelecida uma porcentagem sobre a venda de shows e a distribuição de músicas. Além disso, artistas pagantes contribuem com os custos operacionais, o que permite à Fábrica Criativa oferecer bolsas para artistas sem condições financeiras. “É um modelo compartilhado, em que dividimos os ganhos e, com o trabalho em conjunto, vamos crescendo juntos.”
A empresa não depende de investimentos externos, leis de incentivo cultural ou patrocinadores. “Tudo que a Fábrica Criativa conquistou foi uma implosão interna. Foi pegar a pessoa talentosa na comunidade, fazer um trabalho em cima dela em economia criativa e, quando ela faz sucesso, a gente ganha um pouquinho. E, com esse pouquinho, vamos investindo em equipamento e em estrutura.”
A Fábrica Criativa já transformou a vida de diversos artistas. Um dos destaques é o de MC Xenon, que, em apenas oito meses, saiu de uma comunidade sem saneamento básico para o topo das paradas musicais no Brasil. Outro exemplo é Sidoka, um astro do trap que viu seu cachê saltar de R$ 500 para R$ 50 mil.
Mais do que um espaço físico ou uma estrutura de produção, a Fábrica Criativa consolidou-se como um movimento que reorganiza trajetórias e devolve perspectivas a quem historicamente esteve à margem da indústria. Ao unir formação, suporte técnico, autonomia financeira e conexão com o mercado, a iniciativa mostra que é possível transformar talento em oportunidade real.
Os casos de MC Xenon, Sidoka e tantos outros reforçam que o impacto social da empresa vai além da música e se traduz em mobilidade, renda e pertencimento. À medida que expande seu ecossistema e mantém o artista no centro das decisões, a Fábrica Criativa confirma que a economia criativa pode ser um vetor consistente de desenvolvimento humano e que Belo Horizonte tem sido palco fértil para essa virada.
Fábrica Criativa em 7 fatos pra entender rapidinho
1) Onde tudo começou
Dois apartamentos vazios viraram estúdios durante a pandemia. Da improvisação nasceu um ecossistema inteiro.
2) A missão
Dar autonomia para artistas independentes que não encontram espaço na indústria tradicional.
3) O jeito de trabalhar
Eles criam CNPJ, organizam carreira, lançamentos, redes sociais e até cronogramas de posts.
4) O diferencial
Tudo é personalizado. Nada de modelo engessado de gravadora. Aqui o artista manda no próprio caminho.
5) O dinheiro
Sistema de ganhos compartilhados. Quem pode pagar, paga. Quem não pode, recebe bolsa.
6) Zero leis de incentivo
O crescimento veio do trabalho interno e da virada de artistas que passaram pelo projeto.
7) Histórias que viraram vitrine
MC Xenon saiu da comunidade para o topo das paradas em oito meses. Sidoka multiplicou o cachê de R$ 500 para R$ 50 mil.
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