Falta de confiança ainda trava uso mais amplo da Inteligência Artificial

Assunto dos debates científicos até as rodas de conversa em bares, com direito à passagem por fóruns da Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo Congresso Nacional, a inteligência artificial (IA) está, definitivamente, na vida das empresas e das pessoas. De simples ferramenta de busca e organização de dados, até ser capaz de conversar com humanos e realizar tarefas complexas, foi um longo caminho que agora avança exponencialmente e promete um futuro de eficiência e ganhos globais.
A aplicabilidade da inteligência artificial e o seu máximo desempenho a favor da humanidade, porém, ainda depende da democratização do acesso à tecnologia e da confiança dos usuários. Essa é uma das conclusões da 25ª edição do Accenture Technology Vision 2025. O estudo explora como o futuro está sendo moldado pela independência alimentada pela IA. Com a sua propagação acelerando-se nas empresas e na sociedade, em um ritmo mais rápido do que qualquer outra tecnologia anterior, 69% dos executivos disseram acreditar que ela traz uma nova urgência para a reinvenção e para a forma como os sistemas e os processos que ela permite são projetados, construídos e operados.
A pesquisa também prevê que a IA atuará cada vez mais como parceira de desenvolvimento de tecnologia e como embaixadora de marca pessoal, dará voz aos robôs humanoides no mundo físico e promoverá um novo relacionamento harmônico com as pessoas para trazer o melhor de cada um.
De acordo com a líder de tecnologia para a Accenture na América Latina, Flavia Picolo, o relatório traz uma visão otimista do futuro com a qual ela compartilha. Segundo ela, confiança e autonomia são as palavras-chave para a aplicação da inteligência artificial em 2025.

“Fazemos essa pesquisa há muito tempo e dessa vez as tendências são muito práticas, acionáveis. Antes era muito mais distante das empresas e dos clientes finais. Cada vez é mais difícil fazer as previsões porque as mudanças são cada vez mais rápidas”, diz.
Ela ressalta que a inteligência artificial está em todos os segmentos. “Existem dois pontos de inflexão: a velocidade e a autonomia das ferramentas de IA. 77% dos respondentes concordam que precisam de uma fundação mais robusta para o uso da IA com responsabilidade. Precisamos da confiança emocional e uma confiança racional, que tem a ver com o retorno do investimento, desempenho esperado e alcançável. Brasil, América Latina e mundo têm números muito parecidos”, explica Flavia Picolo.
O Accenture Technology Vision 2025 também investiga o impacto potencial da IA generativa à medida que ela se expande por várias dimensões, incluindo o desenvolvimento de tecnologia, a experiência do cliente, o mundo físico e a força de trabalho. Quatro grandes temas emergiram do estudo:
- Big Bang binário: quando a IA se expande exponencialmente, os sistemas são superados
Os assistentes de codificação da IA generativa já estão elevando a função de desenvolvedor a engenheiro de sistemas, acelerando a democratização do código e a digitalização das empresas. O surgimento de sistemas personalizados como resultado do desenvolvimento de software assistido por IA generativa e o avanço dos agentes de IA estão provocando uma mudança da arquitetura de aplicativos estáticos para estruturas baseadas em intenção e sistemas de agentes.
Conforme os sistemas multiagentes se tornam mais capazes, adaptáveis e personalizados, eles vão inspirar uma maior difusão por meio de competência aprimorada, crescendo para gerenciar processos e funções inteiras, desde a simplificação de viagens até a otimização de estoques.
“Hoje as empresas – por sorte ou estratégia – já fizeram muitas experimentações e já somam esses testes de infraestrutura, dados, conhecimento. Essas partes juntas ficam cada vez mais poderosas”, destaca.
- Identidade: como diferenciar quando todas as interfaces parecem iguais
Enquanto 80% dos executivos temem que os Large Language Models (LLMs) e os chatbots possam dar a todas as marcas uma voz semelhante, 77% concordam que as marcas podem resolver isso criando proativamente experiências personificadas de IA e injetando elementos distintos de cada uma, como cultura, valores e voz, nessas experiências por meio de seu cérebro digital.
- Robôs cada vez mais autônomos
Os robôs generalistas surgirão na próxima década, trazendo mais autonomia de IA para o mundo físico. Será possível para robôs de uso geral se tornarem robôs especializados, aprendendo novas tarefas muito rapidamente. De acordo com o estudo, 80% dos executivos disseram acreditar que os robôs que colaboram com as pessoas e aprendem continuamente com essas interações aumentarão a confiança e a parceria entre eles.
“O Brasil é um dos países em que essa tendência mais aparece. A interação entre o robô e os seus modelos, vai tornando a relação mais fluida. Quanto mais interações, mais aumenta a confiança na inteligência artificial”, avalia.
- O novo ciclo de aprendizagem: como as pessoas e a IA definem um ciclo virtuoso de aprendizagem, liderança e criação
Quanto mais pessoas usam a IA, mais ela melhora e mais pessoas querem usá-la. Ao contrário da automação convencional, que produziu benefícios únicos, essa nova era da inteligência artificial pode aprimorar suas habilidades ao longo do tempo, melhorando seu valor para os indivíduos que a utilizam e para a organização como um todo. Uma das prioridades (80%) dos líderes é garantir uma trajetória de relacionamento positivo entre as pessoas e a IA, para que ela não seja prejudicada pelo medo da automação – começando pela comunicação da estratégia e trazendo os funcionários para o processo.
“A estratégia e comunicação da empresa têm que ser muito claras. A nova forma de aprender é um loop infinito. A empresa precisa estabelecer de maneira sistêmica o que já existe de IA e colocar a tecnologia no processo. O ajuste dos modelos dá as respostas que interessam e diminuem os riscos”, aponta a executiva.
Proposta de marco regulatório aprovado pelo Senado
O Senado Federal aprovou em 10 de dezembro do ano passado o projeto que regulamenta a inteligência artificial no Brasil. A matéria agora está à disposição para a análise da Câmara dos Deputados. O texto se apresenta como um marco regulatório com regras para o desenvolvimento e o uso de sistemas de IA. Entre os dispositivos está um que prevê a proteção dos direitos dos criadores de conteúdo e obras artísticas. O caminho do projeto na Câmara dos Deputados ainda não foi definido.
Ainda segundo o estudo da Accenture, a confiança das pessoas na IA – de que funciona de forma justa e conforme o esperado, além de qualquer aspecto técnico – é essencial para que ela tenha um impacto tão amplo e positivo quanto o previsto.
O levantamento mostra que 77% dos executivos acreditam que os verdadeiros benefícios da IA só serão possíveis quando construídos sobre uma base de confiança, ou seja, quando os sistemas digitais e os modelos de IA se mostrarem mais precisos, previsíveis, consistentes e rastreáveis, além do uso responsável. E 81% concordam que a estratégia de confiança deve evoluir paralelamente a qualquer estratégia de tecnologia. Daí a urgência de uma legislação clara e objetiva, capaz de definir parâmetros e limites.
A expectativa é que a autonomia criada pelos sistemas generalizados de IA ajudem as organizações a ser mais dinâmicas e orientadas por intenções. Isso deverá permitir que os líderes repensem como os sistemas digitais são projetados, como as pessoas trabalham e reinventem a forma como criam produtos e interagem com os clientes.
“Temos uma vocação para a inovação que pode ser equipada com essa tecnologia acessível. A diversidade do Brasil é que nos traz para um lugar diferente. A nossa história explica a nossa inventividade para resolver as coisas. Somos vistos como um país inovador. A Accenture tem um centro de estudos em IA no Brasil e vamos abrir outros, um deles na Amazônia. A gente exporta para o mundo soluções para resolver problemas de negócios e podemos fazer ainda mais”, completa a líder de tecnologia para a Accenture na América Latina.
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